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Alfabetização financeira: você realmente sabe o que está fazendo com seu dinheiro?

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Todos nós tomamos rotineiramente decisões financeiras, das mais simples às mais complexas: onde é melhor investir; se devo comprar agora pegando um empréstimo ou poupar para comprar no futuro à vista; se é melhor alugar ou comprar uma casa; se faço reservas pensando em minha aposentadoria e etc. Segundo a teoria econômica neoclássica, tomamos estas decisões de forma plenamente racional, ou seja, sabemos o que estamos fazendo. Por outro lado, as finanças comportamentais estudam a influência de aspectos psicológicos nas nossas decisões financeiras e surgiram como uma resposta alternativa a esta teoria.

Regras de bolso

Segundo as finanças comportamentais, usamos o nosso conhecimento adquirido pela experiência. Isto tem o lado positivo, já que automatiza decisões cotidianas e economiza recursos (sobretudo tempo), mas pode prejudicar decisões mais importantes devido os vieses. Os vieses podem ser entendidos como erros sistemáticos oriundos das “regras de bolso” que utilizamos para tomar decisões, muitas vezes irracionais.

Excesso de confiança

Um exemplo prático de viés está relacionado à confiança que temos no conhecimento que julgamos ter em finanças. Ser confiante em relação às próprias decisões é bom, mas não de forma excessiva. O excesso de confiança, um dos principais vieses estudados pelas finanças comportamentais, indica a tendência que as pessoas têm de superestimar as suas próprias capacidades, no caso, o conhecimento em finanças que realmente possuem é inferior ao que pensam que têm. Com isso, tendem a subestimar os riscos envolvidos às escolhas realizadas e a comprometerem a qualidade de suas escolhas.

Alfabetização Financeira

Recentemente observamos um aumento dos estudos e debates acadêmicos em finanças comportamentais sobre a alfabetização financeira e os seus respectivos efeitos sobre os vieses presentes no comportamento decisórios das pessoas em áreas como previdência, seguros, crédito e investimento. A alfabetização financeira pode ser entendida como um indicador do grau de conhecimento que as pessoas têm sobre os principais conceitos de finanças e de suas habilidades em aplicar tais conhecimentos com o objetivo de gerir adequadamente suas finanças pessoais, no curto e no longo prazos.

A alfabetização financeira pode ter potenciais implicações no bem-estar dos indivíduos ao influenciar o modo como estes poupam, tomam crédito e investem e, assim se tornar uma ferramenta para aprimorar a capacidade das pessoas aumentarem as suas rendas e as suas riquezas. A alfabetização financeira pode, também, influenciar as decisões dos gestores de instituições financeiras em meio a um cenário financeiro mais complexo, e afetar como os recursos econômicos são alocados, inclusive no que concerne à economia real. Atitudes e preferências também são consideradas elementos importantes da alfabetização financeira.

Há trabalhos que indicam que programas de educação financeira colaboram de maneira positiva no comportamento financeiro e outros que sugerem o contrário. Também há pesquisas sobre quais outros fatores influenciam o processo decisório em finanças e se há diferenças significativas considerando diferentes perfis demográficos (idade e gênero, por exemplo) em diferentes regiões do mundo.

Pouco efeito da educação financeira?

Os debates ganharam fôlego após estudo divulgado em 2014 por um trio de pesquisadores(1) defendendo que programas de alfabetização financeira têm muito pouco efeito sobre o comportamento das pessoas. Além disto, concluíram que é fraca a conexão entre instrução e conhecimento financeiro. Este estudo causou certa perplexidade e é quase um “balde de água fria” nos esforços de prover educação financeira.

Em novembro de 2015, um estudo do Banco Central do Brasil(2) defendeu a educação financeira e apontou possíveis falhas no estudo deste trio de pesquisadores.

Acreditamos que a alfabetização financeira é muito importante e alguns pontos devem ser levados em consideração acerca do assunto:

1-    Conflito de geração: as gerações Y e Z (abaixo de 35 anos) se comunicam de forma diferente em relação às gerações anteriores. Talvez o fato de que muitos treinamentos em finanças são feitos utilizando métodos tradicionais possa explicar uma retenção de conhecimento abaixo do ideal. As gerações atuais são “multitarefas”, preferem notícias curtas e usam muito as redes sociais. Será que a alfabetização financeira não precisa adequar a linguagem (mais curta e com muitas imagens) e a forma de abordar (redes sociais e aplicativos) o tema de finanças?

2-    Matemática: dissociar a ideia de educação financeira e o conhecimento de matemática. O estudo do Banco Central do Brasil indica que educação financeira não é entender matemática financeira, mas é muito mais do que isto. Educação financeira está relacionada principalmente ao comportamento e ao autocontrole.

3-    Marketing: as marcas mais famosas investem pesadamente em marketing para estarem presentes nas mentes das pessoas. Será que este também não é o caso para ter sucesso em alfabetização financeira? Fazer um curso e assistir a uma palestra é importante, mas o “bate-estaca” contínuo pode facilitar a nossa mudança de comportamento. A questão é como fazer e quem poderia financiar estas campanhas de “marketing”, ou melhor, de alfabetização financeira contínua. Certamente deveria fazer parte de políticas públicas.

4-    Perfil de risco: para fazer uma aplicação respondemos um questionário para verificar o nosso perfil de investidor e classificar o nosso grau de aversão à perda. É muito comum ouvirmos que aplicar na bolsa é arriscado. De fato é mesmo e não é uma aplicação adequada para todas as pessoas. Assim, este é um procedimento importante para adequar a melhor aplicação para uma determinada pessoa. Mas, por outro lado, não temos que responder obrigatoriamente a nenhum questionário para tomar um empréstimo, ou seja, se é recomendável ou não fazer dívidas e /ou qual a melhor linha de crédito para isto. Atualmente, é fácil tomar dinheiro emprestado via cheque especial ou rotativo do cartão de crédito com taxas de juros (que podem ultrapassar os 500% a.a. segundo o site do Banco Central) que, no limite, podem elevar consideravelmente o nosso endividamento e comprometer seriamente o nosso futuro financeiro.

5-    “Empurrão” ou “nudge”: é uma estratégia muito utilizada no exterior para inscrever automaticamente as pessoas em programas de interesse do governo, como, por exemplo, os relacionados a planos de previdência. O fato de inscrever automaticamente as pessoas nos programas tem levantado críticas devido à possível restrição de liberdade de escolha, mas se a adesão é automática, a permanência é opcional, ou seja, a pessoa pode sair do programa. Com isso, espera-se que mais pessoas permaneçam inscritas nos programas, fato que pode contribuir positivamente para as suas finanças no longo prazo. No Brasil, o governo federal passou a adotar esta estratégia com a sanção em novembro de 2015 da Lei nº 13.183, que inscreve automaticamente os servidores públicos da Administração Pública federal direta no plano de benefício da Funpresp. Os servidores têm 90 dias para decidir se aderem definitivamente ao fundo.

A literatura não apresenta um consenso sobre o assunto, sinalizando ser extremamente relevante a continuidade dos estudos que procurem, além de diagnosticar os impactos da alfabetização financeira e potenciais programas de educação financeira no comportamento dos agentes econômicos, oferecer alternativas para melhorar as decisões financeiras das pessoas.

Enfim, ao ter um diagnóstico acerca do comportamento decisório em finanças da população, governantes podem identificar necessidades e desenvolver políticas e estratégias nacionais que passam pela reflexão sobre a importância da alfabetização financeira e da implementação de programas de educação financeira com impacto positivo em suas próprias vidas e, consequentemente, nas sociedades, principalmente no Brasil.

 

José Raymundo de Faria Júnior é planejador financeiro CFP® e diretor da Wagner Investimentos. E-mail para contato: junior@wia.com.br. Thiago Borges Ramalho é doutorando em Finanças pela Universidade Mackenzie. E-mail para contato: tbramalho@gmail.com. As opiniões manifestadas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seus autores. O IBCPF e o Blog Arena do Pavini não se responsabilizam por decisões de investimento tomadas com base nestas informações.

 

(1)     Fernandes, Daniel and Lynch, John G. and Netemeyer, Richard G., Financial Literacy, Financial Education and Downstream Financial Behaviors (full paper and web appendix) (January 6, 2014). Forthcoming in Management Science . Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=2333898

(2)     https://www.bcb.gov.br/Nor/relincfin/SerieCidadania_2educ_fin_funciona.pdf

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