ADVFN Logo ADVFN

Não encontramos resultados para:
Verifique se escreveu corretamente ou tente ampliar sua busca.

Tendências Agora

Rankings

Parece que você não está logado.
Clique no botão abaixo para fazer login e ver seu histórico recente.

Hot Features

Registration Strip Icon for default Cadastre-se gratuitamente para obter cotações em tempo real, gráficos interativos, fluxo de opções ao vivo e muito mais.

Estendendo a boia

LinkedIn

A operação de salvamento das empresas brasileiras via BNDES, anunciada quinta-feira, é mais um capítulo da repetitiva história do Brasil. O empresariado erra e o governo está sempre com a mão estendida. Tal como filho problemático, que sabe que o pai estará lá para ajudá-lo, o setor produtivo nacional não tem medo de se endividar, cometer erros de gestão e tampouco tomar riscos. O motivo? O pai reclama, mas nunca corta a mesada. Foi um novo mimo a decisão conturbada do ainda interino Temer de lançar uma linha de crédito de R$ 5 bilhões para socorrer empresários, oferecendo empréstimos para compra de ativos e até ações de companhias em grave situação financeira ou falidas.

A decisão ocorreu no primeiro dia do processo de impeachment no Senado da presidente afastada, Dilma Rousseff, e mostra que o governo interino precisa conquistar o empresariado. Política ou não, a medida demonstra o paternalismo a que estão acostumadas as grandes empresas e uma deturpação do papel do BNDES, que, a priori, deveria ser um banco de desenvolvimento e não um “Proer” empresarial.

O programa prevê o uso de dinheiro do banco para a aquisição total de empresas ou parte delas que se encontrem em recuperação judicial, falência ou situação financeira frágil. Os financiamentos só poderão ser tomados por companhias consideradas “saudáveis”, que desejam comprar parte ou todo o ativo da que estiver em recuperação. Os argumentos do governo são de que a medida poderá preservar empregos e reduzir prejuízos de empresas com crédito a receber de firmas em recuperação judicial. Quanto ao primeiro, seria algo inédito fusões e aquisições garantirem postos de trabalho – fazem o contrário – mas convém citá-lo perante o público, já que 40% dos recursos do FAT destinam-se ao banco. O segundo também causa simpatia e provoca gargalhadas nas rodas frequentadas por quem leva patinhos a protestos.

Em crise, o BNDES precisa atuar de forma anticíclica na busca de soluções para a retomada do crescimento da economia. A que custo? O primeiro é mais um passo rumo ao aumento do déficit das contas do governo. Somente no primeiro semestre, o BNDES registrou prejuízo de R$ 2,2 bilhões, devido às perdas sofridas por empresas que receberam recursos do banco no passado. A decisão de financiar empresas para adquirir aquelas que estão em situação visa reduzir o calote, porém é arriscada. Basta lembrar que as estatísticas brasileiras mostram que apenas 1% das empresas recuperandas sai da situação de falência.

Desde a crise de 2008, o BNDES tem ampliado as tais “políticas anticíclicas”, o que ocorreu através do aumento dos empréstimos para as empresas, financiado pelas transferências de recursos do Tesouro Nacional. De 2008 até o final de 2015, o governo emprestou, via BNDES, R$ 1,2 trilhão. Nos primeiros seis meses deste ano, o valor somou R$ 40 bilhões. Em 2007, os empréstimos eram de R$ 65 bilhões; nos anos 2013 e 2014, os desembolsos atingiram a média de R$ 190 bilhões.

Tal política foi uma das causas da derrocada da dívida pública e, ao mesmo tempo, não provocou o aumento dos investimentos. No ano de 2014, por exemplo, a formação bruta de capital fixo caiu 4,4%, em comparação com 2013. Este foi o pior resultado desde 1999, quando a retração somara 8,9%. A nova matriz econômica, adotada em 2011, de nada resultou, além do julgamento da presidente afastada. Para as empresas, o que ocorreu foi o aumento do endividamento (passivo) não acompanhado pelos aumentos dos ativos. Ou seja, no final, houve retração do patrimônio líquido. A situação foi agravada pela retração da economia e queda nos lucros, que levaram a uma redução ainda maior dos investimentos.

Agora, o governo repete o mesmo erro. O momento, claro, é tenso. O número de recuperações judiciais requeridas em julho foi 4,2% superior ao registrado em junho, segundo o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações. Já em relação a julho de 2015, os pedidos aumentaram 29,6% (de 135 para 175). O resultado é o maior para o mês de julho, após a entrada em vigor da Nova Lei de Falências, segundo a Serasa. No primeiro semestre deste ano, 1.098 empresas pediram recuperação judicial.

Acreditar que irá salvar as empresas do buraco através de linhas de crédito e aumento do endividamento é outra história. O problema das empresas está no lado interno: a má gestão levou à quebra e não a falta de recursos, que se mantiveram abundantes via BNDES nos últimos anos. Afinal, desde 2009, o BNDES recebeu mais de R$ 411 bilhões do Tesouro para turbinar sua capacidade de financiamento. Mas, o interino quer confiança e apoio do empresariado, com o discurso de salvamento e manutenção dos empregos. A boia foi estendida. Resta saber se o empresariado sabe nadar.

Ana Borges é diretora da Compliance Comunicação

Deixe um comentário