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Convicções e provas

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Grande, bem dotado, que em se plantando tudo dá, o pais só tem tamanho. A economia não está estagnada. Ela é estagnada. Pulinhos aqui e acolá, mas quase nada em sofisticação produtiva. Falta o desenvolvimento econômico, marcado pela produção de bens mais complexos. Nos últimos anos, no entanto, ganha espaço na matriz econômica setores tradicionais e de baixa complexidade. Nossas exportações são um caso claro de que a garganta das convicções vem antes da realidade. A economia, aliás, reflete o atraso de uma nação, politicamente, culturalmente e socialmente.

O agribusiness pode ser até absurdamente inovador, mas não contribui significativamente para o crescimento econômico. Até porque grande parte das inovações tecnológicas utilizadas vem de fora e a empregabilidade deste setor, que representa 5,2% do PIB, é baixa. Mas, entre outros resultados, o Brasil produziu, em 2014, 40% da soja mundial, conforme recente estudo do economista Paulo Gala.

No entanto, não há muito pelo que se vangloriar. A participação da produção de soja como proporção do PIB no Brasil não passa de 2%. É isso que ocorre quando se opta pela simplicidade produtiva, deixando de buscar uma matriz mais complexa. De acordo com Gala, se o Brasil fosse responsável por 100% do mercado mundial de soja, tal fato representaria, no máximo, 5% do PIB brasileiro. O mercado internacional seria totalmente atendido pelo Brasil, inviabilizando um maior crescimento por falta de demanda. Enfim, esta não é a saída da crise.

Outro espetáculo de exportação que pouco contribui para a nossa evolução econômica é o minério de ferro: ano passado, o país respondeu por 24% do total produzido no planeta. Apesar de os números impressionarem, tal mercado representa somente 3% do PIB brasileiro. Não se produz apenas bananas. Há outras commodities e, para cumprir seu destino, a nação se esmera nisso. Curso de engenharia serve para se ingressar no funcionalismo. Manufatura é para os outros.

Complexidade fica para países desenvolvidos. Reflexo disso é a pífia participação do mercado de capitais como financiador de longo prazo para as companhias. Com pouquíssima liquidez, as ações ficam para os tubarões. A maior parte dos poupadores acredita no gerente do banco que, pressionado por metas, recomenda aos mortais que deixem seu dinheiro na poupança ou em títulos de capitalização, quando não convencem velhinhas a comprar planos de previdência. Para tapar o buraco da falta de recursos para investimentos, no estilo jeitinho brasileiro, o governo usa o BNDES, financiado por recursos dos trabalhadores.

A economia é um poderoso indicador da capacidade de um povo. A cultura, mais ainda. Mais do que qualquer produto ou característica de sua economia, o que atrai no Egito são as obras de povos do passado que, ao longo dos milênios, não só se pagaram como geram uma receita perpétua. Que povo foi aquele capaz de criar aqueles túmulos, palácios, decorá-los com aqueles magníficos altos-relevos estupendamente coloridos, entender o movimento dos astros e, milênios antes de cristo, realizar cirurgias cerebrais! E, às “margens” do Amazonas, que povo era aquele que, até poucos anos atrás, produzia várias das melhores músicas do mundo? Mesmo que se saiba onde estão as tumbas de Caymmi, Jobim e Rosa, ou que aquele moço de olhos azuis tenha ido dia desses ao Senado, trata-se de um povo do passado. A cultura hoje também evidencia a complexidade nossa complexidade: funqueiros e sertanejos.

Também indicador do quão civilizado é um povo é seu sistema político. O Congresso dominado por evangélicos reflete fielmente um povo que comemora a anulação de 54 milhões de votos. Não surpreendem eventos, como o da última quarta-feira, em que um parlamentar ameaçou, com agressividade ostensiva e contumaz, mulheres em uma sessão na Câmara que tratava, justamente, sobre a violência contra mulheres. Foi detido? Não! Foi exitoso ao encerrar a sessão. Parlamentar este que homenageou o torturador da ex-presidente ao votar pelo seu impeachment e que é julgado pelo STF por apologia ao estupro. E ele representa parte do povo.

As leis também mostram muito sobre a gente de um lugar. Em meio a vazamentos de escutas ilegais que não mostraram nada mas geraram histeria, e convicções, a venda na face da Justiça desnuda um grande olho que observa apenas o que está a sua esquerda. O outro lado, ela ignora. Políticos como Montoro, Covas e tantos outros, que lutaram pela redemocratização do país, mereciam paz e descanso eternos, mas devem se revirar no túmulo por conta dos que militam no e pelo que criaram. O sentido da palavra Civilização é império das leis. Cultura, economia e sistema político mostram o que é um povo. Sua Justiça também. Vê-se o que não somos.

Escrito por Ana Borges e Maurício Palhares, diretores da Compliance Comunicação

Comentários

  1. Eudes diz:

    Excelente artigo. Não sei como conseguiu publicá-lo neste site dominado pela direita retrógrada e egoísta. Parabéns também ao ADVFN por publicá-lo. Nem tudo está perdido. Espero que muitos leiam e entendam que hoje, mais do que nunca, estamos entregues à uma classe que só quer saquear o país.

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