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Muito além dos déficits

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Com a expectativa de retração acima de 3%, a economia brasileira terá o pior desempenho do mundo, conforme relatório da ONU. Enquanto o PIB mundial deve crescer 2,3% e os emergentes quase 4%, é esperada mais queda para o Brasil (-3,2%) e a Rússia (-0,2%). Apesar dos erros de política econômica do passado recente, a contração tem raízes mais profundas do que o tão debatido déficit fiscal. A falta de competitividade da indústria e de políticas efetivas de incentivo à inovação atravessam governos enquanto o setor encolhe significativamente década a década.

Um dos causadores da situação atual foi o foco em exportações de commodities em detrimento da busca por geração de valor via transformação em produtos mais elaborados. A postura faz o Brasil crescer fortemente em épocas de bonança internacional e devolver tudo quando a economia mundial não vai bem. O desempenho, portanto, não é sustentável no longo prazo, nem com o tripé macroeconômico nem com a nova matriz econômica de Dilma. O PIB potencial, capacidade de o país crescer sem gerar inflação, é baixo. Segundo recente estudo do banco BBVA, a média que era de 3,5% entre 2004 e 2010 recuou para cerca de 1% em 2016. Os economistas apontam a desaceleração da China e o desempenho do mercado de commodities como causas, além da ausência de reformas e a má gestão.

Não é de se estranhar o encolhimento do PIB potencial. A desindustrialização brasileira, classificada como precoce pela Unctad quando uma economia não consegue atingir sua potencialidade produtiva manufatureira, foi agravada pelos choques econômicos da década de 80, abertura comercial no início de 90, valorização do real para o combate à inflação e, por último, pela falta de políticas desenvolvimentistas. Segundo o relatório da instituição, divulgado na última quarta-feira, no início dos anos 70, época do milagre econômico, a participação das manufaturas na geração de emprego e valor agregado no Brasil correspondia a 27,4%, em valores da época. Em 2014, essa participação caiu para 10,9%.

A falta de inovação e produtividade, essenciais para o desenvolvimento econômico de um país, deixam claro que o problema atravessa a crise atual. Joseph Alois Schumpeter, considerado um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX, coloca a inovação como o elemento fundamental para o desenvolvimento econômico. As expectativas de lucros “extraordinários” são o incentivo para inovar, o que empurra a economia para o crescimento além da fronteira de possibilidades de produção. Os lucros extraordinários de uma inovação são temporários. Existe sempre a possibilidade de o inovador ser imitado pelos demais capitalistas, atraídos pela oportunidade de ganhos elevados. Tal fato desencadeia um ciclo de investimentos por parte dos outros empresários que leva à difusão da tecnologia introduzida pelo pioneiro. Durante esse ciclo, há crescimento econômico, que se interrompe quando os lucros extraordinários são diluídos entre os concorrentes.

Schumpeter afirma que dois elementos são essenciais para a inovação: o empresário e o crédito. Enquanto o primeiro é o agente transformador que depende do crédito para adiantar o pagamento dos fatores de produção. Assim, o empresário consegue oferecer novos produtos, de melhor qualidade ou a custos reduzidos, o que lhe permite auferir lucros mais elevados do que os outros.

A política econômica atual tem como objetivo maior reduzir o déficit fiscal, combater a inflação através da retomada do tripé macroeconômico. Não há o que se questionar quanto à importância destas medidas, mas novamente os gestores concentram-se no curto prazo e deixam as reformas estruturantes e o desenvolvimento econômico para depois. Por mais longas que sejam, crises são passageiras. A economia se recuperará e alçará novos voos de galinha. Depois de pouco tempo, entrará novamente em estagnação.

Ana Borges é diretora da Compliance Comunicação

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