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O vício da nova matriz econômica

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Duramente criticada por diversos economistas, a nova matriz econômica, apontada como uma das grandes responsáveis pelo desastre macroeconômico dos últimos anos parece estar voltando com uma nova roupagem.

As intervenções no mercado de câmbio foram retomadas pelo Banco Central. O ciclo de afrouxamento monetário, em curso, está prestes a ser intensificado. A economia vai receber uma nova (e potente) injeção de crédito, mesmo com a contínua deterioração dos indicadores fiscais.

Mais crédito, intervenções no câmbio e afrouxamento monetário. Depois de tudo que passamos nos últimos anos, voltamos a cair no vício da nova matriz econômica.

Em termos práticos, o Relatório de Inflação, divulgado pelo Banco Central na manhã desta quinta-feira está defasado, pois logo em seguida o presidente Michel Temer anunciou uma medida com potencial de injetar 30 bilhões de reais na economia, o que equivale a 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

Mesmo com uma inflação acumulada de 6,99% nos últimos 12 meses, histórico desfavorável e projeção do cenário de mercado ainda ligeiramente distante da ancoragem da inflação no centro da meta em 2017, o Banco Central parece decidido a intensificar o ritmo de cortes da taxa Selic na próxima reunião de Comitê a ser realizada no mês de janeiro.

A intensificação de cortes na taxa Selic, portanto, sinaliza ser mais um desejo do que uma abertura sustentada pelo quadro macroeconômico e balanço de riscos.  Até mesmo a estimativa de inflação acumulada dos últimos 12 meses do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de 5,42% para fevereiro de 2017, revela certa distância da ancoragem na meta. Para quem, possivelmente, não tem receio de cortar a taxa Selic de forma mais agressiva com este cenário, 0,5% de PIB a mais na economia não deve fazer diferença. O desejo está se impondo aos fundamentos.

Para injetar 30 bilhões de reais na economia, o governo vai liberar o saque de contas do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) inativas até dezembro de 2015. Segundo o presidente Temer, cerca de 10,2 milhões de trabalhadores serão beneficiados, podendo sacar todo o valor disponível em sua conta.

A medida é uma tentativa de reaquecer a economia, já que os recursos poderão ser utilizados livremente. Como o nível de educação financeira é extremamente baixo no País e a maior parte das contas inativas tem saldo de menos de um salário mínimo, é de se esperar que parte relevante deste fluxo seja queimada em consumo, o que provocará um impulso artificial na economia e, como conseqüência, criar nova pressão inflacionária.

Além disso, Temer anunciou que pretende cortar mais da metade os juros do cartão de crédito a partir do primeiro semestre do ano que vem, o que também, se confirmado, será um importante mecanismo de impulso ao consumo. Apesar de ser uma ação louvável, não há detalhes concretos de como uma redução dessa magnitude será feita, o que gera certa desconfiança do ponto de vista estrutural, até porque não foi mencionado nada a respeito dos juros do cheque especial, tão absurdamente abusivos quanto os do cartão de crédito.

Foi apresentada, também, uma espécie de reforma trabalhista, com uma série pequenas alterações não tão expressivas. O Programa de Proteção ao Emprego, que terminaria no fim deste ano, mudará de nome (passará a se chamar Programa Seguro-Emprego) e será prorrogado.

A combinação de política de afrouxamento monetário (prestes a se tornar agressiva) com intervenções no câmbio, mercado de trabalho e impulso ao consumo acrescentará artificialismo à economia, o que colabora para manter a desconfiança dos agentes, empresários e investidores elevada, inviabilizando a necessária retomada dos investimentos.

Em meio à baixa popularidade, está sendo difícil para governo resistir aos encantos de curto prazo da nova matriz econômica. É uma rota muito mais fácil de ser seguida e de ampla aceitação popular. Pode criar resultados positivos no curto prazo, mas definitivamente não é o caminho que permite destravar os investimentos, principal base de um crescimento sustentado.

Assim como não se houve mais falar sobre o tripé macroeconômico, as críticas construídas no passado em função de medidas semelhantes adotadas não estão sendo replicadas nesta nova gestão, que começou bem, mas está desandando. O mesmo pode ser observado através do ressurgimento da proposta de criação do polêmico e perigoso depósito remunerado. Nada mais inquietante do que um profundo silêncio.

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