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Se Mark Zuckerberg tivesse nascido no Brasil, ele teria criado o Facebook?

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“O melhor programa social é um emprego” (Ronald Reagan)

Não acabe com os Kuadzis

Gana. Janeiro de 2004. Emmanuel Teteeh Kuadzi tinha acabado seus estudos no ensino médio. Gana está experimentando um boom econômico e muitas empresas querem se conectar à Internet. Emmanuel, que gosta de computadores, vê a oportunidade de negócio e cria uma empresa de design para páginas na web. Primeiro trabalha sozinho, mas o trabalho está crescendo e ele se vê obrigado a contratar um companheiro… e depois outro… e outro… e em menos de um ano, 22 pessoas estão trabalhando com ele, criando e fazendo o design de páginas de internet.

Frankfurt, Alemanha. Janeiro de 2006. GIZ é uma ONG criada pelo governo alemão para promover o “desenvolvimento sustentável”. A ONG acredita que uma das causas da pobreza na África é que a ineficiência de suas empresas as impede de criar empregos bem remunerados. GIZ achou que uma maneira de ajudar a aumentar a competitividade dessas empresas é integrá-las no mundo da internet. A ONG então decide usar seu exército de voluntários alemães para criar páginas na web e dar tudo que as empresas africanas precisam.

O diagnóstico da GIZ é absolutamente certo! É verdade que um dos principais problemas da África é que as suas empresas são ineficientes e não criam empregos de alto valor agregado. Sua ação, no entanto, não só não resolve o problema, como tem consequências catastróficas. Com a sua intervenção (reconhecidamente bem-intencionada), Emmanuel passa a ter um grande concorrente e vê a sua empresa em ruínas. Em pouco tempo, os 22 jovens africanos perdem seus empregos e a empresa de Kuadzi vai à falência.

A única maneira que Gana tinha de tirar alguns de seus cidadãos da pobreza de maneira permanente era através do sucesso de Kuadzis que poderia beneficiar muitos ganeses. Mas a GIZ, na maior das boas intenções, destruiu essa possibilidade.

Este é apenas um dos inúmeros exemplos do porquê toda vez que se destrói o negócio de uma pessoa, destrói-se empregos, destrói-se o futuro de algumas pessoas. Gana poderia ter hoje uma multinacional de tecnologia gerando milhares de empregos, mas a boa intenção da filantropia alemã a destruiu.

O Kudadzi que deu certo…

Em um quarto de uma universidade em 2004, há um outro Kuadzi que obteve sucesso. Não em Gana, mas nos Estados Unidos. Ele se chama Mark Zuckerberg.

Criador do Facebook. Zuckerberg criou a rede social nos alojamentos da Universidade de Harvard. Após relativo sucesso, no verão de 2004, o Facebook recebeu o primeiro investimento privado. Peter Thiel fez um investimento real de $500.000 dólares na rede social em troca de 10.2% da companhia. Com o sucesso, a rede social que começou apenas no campus de Harvard, hoje a rede social é a maior do planeta com mais de um bilhão de usuários.

Para alguns o Facebook é apenas uma rede social, um site de lazer. Para outros é uma forma de se sustentar, de fazer negócios e de obter diversos serviços.

Mais especificamente, o Facebook – assim como diversos outros negócios – gera três benefícios para a sociedade:

  • Gera empregos. Em 2015, o Facebook gerou 4,5 milhões de empregos no mundo.
  • Gera outros negócios. Hoje, três milhões de empresas ao redor do mundo anunciam ativamente na rede social.
  • Leva diversos serviços à população. O Messenger, por exemplo, possibilita qualquer um se comunicar gratuitamente a milhares de quilômetros de distância, reduzindo custos de comunicação.

Um país que incentiva o surgimento de Facebooks está na rota para a prosperidade. Um governo que dificulta esse surgimento está fadado à pobreza. Nações como Estados Unidos, Israel, Reino Unido são conhecida por incentivar esses negócios. Nações como Cuba, Venezuela e a Rússia Socialista os condenam. O resultado você vê no padrão de vida existente em cada país…

O Frango de Bill Gates e o emprego como melhor programa social.

Bill Gates, criador da Microsoft é hoje o homem mais rico do mundo. Como número um na lista dos mais ricos, ele sabe do poder que os negócios tem em transformar sociedades inteiras. Mas Gates se cansou do setor privado e resolveu se dedicar à filantropia em sua instituição, a “Fundação Bill e Melinda Gates”.

Bill Gates se preocupa com a pobreza no mundo. Mas diferente da maioria dos filantropos, ele desempenha essa atividade de maneira diferente dos demais. Ao lutar contra a pobreza, ele poderia simplesmente doar parte de sua fortuna para países pobres, como faria 90% dos filantropos. Mas não! Gates está preocupado em dar um trabalho às pessoas, em dar um futuro, em incentivar o surgimento de outros Kuadzis.

Em 2016, Bill lançou uma campanha para doar 100 mil frangos para a Burkina Faso, um dos países mais pobres do mundo. Como doar frangos poderia mudar a situação de um país? Eis a sua explicação:

  • Frangos, são simples de criar e fácil de vender. Em Burkina Faso há três vezes mais frangos do que pessoas e o comércio desses animais é extremamente movimentado. A partir do momento que você doa alguns frangos para as famílias você está doando um emprego, um negócio….
  • Eles são um bom investimento. A demanda por frangos é altíssima. Se você precisar vender, você fará isso muito rapidamente. Ter um frango em mãos é como ter dinheiro. É ter um meio de troca.
  • Eles ajudam a manter a saúde das crianças. Se uma criança está doente as mães vendem frangos para comprarem remédios.
  • Eles empoderam as mulheres. Mulheres que criam frango possuem uma renda e consequentemente ganham independência dentro de casa.

Esta campanha de Bill Gates mostra porque incentivar negócios é importante. Bill Gates sabe que, ao doar uma quantia de dinheiro para alguém, este é um benefício temporário. Por isso ele incentiva a criação de empregos, um benefício permanente. No entanto, para ter empregos é necessário empregadores. E para ter empregadores é necessário negócios. Por isso, a aposta de Gates na luta contra pobreza em maneiras de criar negócios em locais de maior necessidade.

As duas perguntas chaves para a prosperidade…

Quer saber, portanto, se o Brasil – ou qualquer outro país – está no caminho certo para a prosperidade? Faça-se apenas duas perguntas:

  1. Se Marck Zuckerberg tivesse nascido no Brasil ele iria querer fundar o Facebook?
  2. Se Marck Zuckerberg quisesse criar o Facebook, ele conseguiria fazer isso no Brasil?

A primeira pergunta se refere aos incentivos corretos de se formar empreendedores. Será que valeria a pena buscar o sonho de ser empreendedor? O país valoriza esse tipo de profissional?

Já a segunda pergunta se refere a um ambiente propício a criar negócios. Ou seja, qual é o tamanho da burocracia para tirar a sua empresa do papel? O governo facilita ou atrapalha o surgimento de empresas? Se a resposta for não para uma das duas perguntas, então estamos em um mal caminho.

1) Se Mark Zuckerberg tivesse nascido no Brasil iria querer fundar o Facebook?

Os jovens mais promissores dos Estados Unidos buscam vagas no seleto grupo de universidade americanas conhecidos como IVY League. Entre elas estão Harvard, Yale e Princeton. No Brasil, podemos dizer que há dois grandes centros que atraem as mentes mais brilhantes do país: o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e o Instituto Militar de Engenharia (IME). Ambas as instituições são conhecidas por terem o vestibular mais difícil do país.

Se Zuckerberg, um amante da programação, tivesse nascido aqui, provavelmente tentaria estudar em uma dessas duas universidades. Mas, diferente do ambiente dos Estados Unidos, o brasileiro ao entrar em uma dessas universidades se depara com escolhas totalmente diferente daquelas do jovem americano.

Vamos supor que Zuckerberg tivesse sido aprovado no ITA. Logo no início do curso, ele descobriria que um concurso para Auditor Fiscal lhe daria um emprego com remuneração de R$ 18.000. Pesquisando mais, ele descobre que um Auditor do Tribunal de Contas tem um salário inicial de R$ 30.000. A sua frustração começa quando ele descobre que na carreira privada, um salário de trainee é cerca de 4 a 6 mil reais. Além dos salários altíssimos, a carreira pública oferece estabilidade. Ou seja, se vier a crise, ele sabe que não será demitido. E, ao final da carreira, ainda pode contar com a aposentadoria integral.

O jovem Zuckerberg então se depara com a difícil escolha: 1) ir para a iniciativa privada – com salários de recém formado de 4 a 6 mil; 2) abrir uma startup – sem salário por no mínimo uns dois anos; ou 3) passar em um concurso público com salários acima de 10 mil reais.

Parece uma escolha desleal. Por isso, um jovem que hoje se inicia na carreira pública é visto como motivo de orgulho. Já o empreendedor é visto, muitas vezes como um peso para a família. São esses altíssimos incentivos à carreira pública fez do Brasil o país do concurso público. Esses altos incentivos mata diariamente o surgimentos de Zuckerbergs.

É triste, mas se Zuckerberg tivesse nascido aqui ele teria provavelmente feito algum desses concursos. Teria sido aprovado e estaria desempenhando uma dessas funções com um belo salário e uma ótima estabilidade. Em resumo não haveria Facebook.

2) Se Marck Zuckerberg quisesse criar o Facebook, ele conseguiria fazer isso no Brasil?

Mas vamos supor que o Zuckerberg brasileiro fosse movido por uma vontade imensa de deixar um legado e estivesse disposto a abrir mão de um salário de 15 mil reais mensais. Resistindo fortemente à pressão familiar por trocar estabilidade por incerteza, ele seguiria com a sua ideia de criar o seu site.

Chegaria então a fase de registrar a sua empresa, um processo que no Brasil consiste em onze etapas.

  1. Obter no nome na Junta Comercial | 1 dia.
  2. Pagar as taxas de registro | 1 dia.
  3. Registrar-se na Junta Comercial para obter o CNPJ, INSS, NIRE e ICMS | 7 dias
  4. Registrar-se com a Secretaria Municipal de Finanças | 1 dia
  5. Obter o certificado digital | 2 dias
  6. Obter a licença de funcionamento | 90 dias
  7. Registrar e pagar a Taxa de Fiscalização de Estabelecimentos | 1 dia
  8. Registrar os empregados no Programa de Integração Social (PIS) | 1 dia
  9. Abrir o fundo especial no banco para pagamento do FGTS | 1 dia
  10. Notificar o Ministério do Trabalho no Cadastro Geral de Empregados (CAGED) | 1 dia
  11. Registro nos sindicatos | 5 dias

Se Zuckerberg tivesse nascido no Chile ele gastaria 6 dias em todo esse processo. Mas no Brasil, esse processo demora em média 83 dias. Como incentivar o surgimento de empreendedores quando, segundo o relatório Doing Business, de 174 países o Brasil é o 174 quando o assunto é “Dificuldade de abrir um negócio”?

Com tamanha burocracia, diversos empreendedores já teriam ficado pelo caminho. Mas Zuckerberg é persistente e decide seguir com seu sonho. Após quase cem dias para abrir seu negócio, e a empresa funcionando, começaria a maratona de impostos. IRPJ, CSLL, INSS, PIS, COFINS, IPI, FGTS é sigla que não acaba mais. No Brasil, as empresas gastam em média 2.600 horas para se planejarem no pagamento dos impostos, maior tempo do mundo. O segundo colocado, a potência Bolívia, gasta em média 300.

A essa altura, depois de 80 dias para abrir a empresa e se organizar pagando os impostos, a energia já não é a mesma. Agora chegou a fase de captar dinheiro para expandir os negócios. Bancos? Nem pensar: os juros são altíssimos O mercado de Angel Investors aqui também é praticamente nulo. Ele ouviu dizer de um tal de BNDES, mas ao pesquisar mais, descobriu que só os amigos do rei, empresas como JBS e Odebrecht, possuem acesso facilitado aos recursos.

Sem muito sucesso com todo essa burocracia e dificuldade, o Zuckerberg brasileiro descobre o real significado da máxima “o Brasil não é para amadores”. Não precisou sequer uma ONG alemã para competir com o seu negócio – como aconteceu com Kuadzi – foi a própria burocracia brasileira que acabou com seu negócio que poderia gerar milhões de empregos, novos negócios e novos serviços.

Depois de certa insistência e a pressão financeira da vida adulta chegando, ele que ainda tem tempo de se dedicar a alguns concursos, imagina que com dois anos de estudo seria mais fácil prestar um concurso pra auditor da receita do que seguir com o seu sonho. Ele tentou, mas decide deixar o negócio de lado.

Se Zuckerberg tivesse nascido no Brasil, ele teria prestado concurso público, logo que saísse da Universidade. Os altos incentivos desses cargos sufocariam o seu sonho de empreender. Se tivesse insistido um pouco mais, é provável que teria desistido de continuar seu negócio pouco tempo depois. Não haveria Facebook para o mundo, nem 4,5 milhões de empregos gerados nem 3 milhões de anunciantes. Aliás, no Brasil empreendedor ainda é herói, lucro é pecado e sucesso é ofensa pessoal.

Escrito por Leonardo Siqueira, editor do Terraço Econômico.

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