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Opinião: Brasileiros descobrem como são feitas as salsichas do supermercado e de Brasília

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Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

Há uma frase clássica em política que diz que as pessoas não dormiriam tranquilas se soubessem como os acordos políticos e as salsichas são feitas. Ela cabe como uma luva para o Brasil dos últimos meses, com as denúncias dos executivos da Odebrecht na Operação Lava Jato e, na semana passada, com a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. Ambos são casos que mostram como a corrupção se infiltra pela sociedade brasileira, desde a política federal até o dia a dia da atividade econômica e empresarial.

No primeiro caso, os brasileiros descobriram como foram feitas as “salsichas” dos acordos políticos para eleições dos principais partidos do país nos últimos 15 anos pelo menos. Ingredientes intragáveis como caixa 2, corrupção, sobrepreço em obras, pagamentos em contas no exterior, benefícios indiretos, tudo foi embalado e servido como fina iguaria democrática. Agora, enquanto alguns se dizem enojados com a divulgação dos ingredientes, outros tentam justificar seu uso, afirmando que um pouco de caixa 2 não faz mal a ninguém, que ele sempre existiu e que há graus diferentes de ilegalidade.

O mesmo está acontecendo com a Operação Carne Fraca. Com ela, os brasileiros descobriram que o que consumiam não era bem o que pensavam. E isso foi um choque para muita gente. Afinal, quem compraria uma linguiça ou uma salsicha feita de cabeça de porco, mesmo sabendo que o produto está absolutamente dentro das normas de higiene e saúde pública e até paladar? Mas tudo muda se o rótulo disser “carne processada de ave ou suíno”. O que remete à outra frase famosa, o que os olhos não veem, o coração não sente. Mas, o principal aqui é que não há crime no uso do produto, que é liberado pelas autoridades daqui e de outros países, desde que dentro de determinados limites e condições.

Mas esse é outro problema: a Polícia Federal também não é especialista em salsichas ou linguiças. E a falta de conhecimento técnico pode levar a algumas bobagens como dizer que ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C, é cancerígeno, ou confundir o uso de papel na embalagem dos produtos com o papel no produto em si (se bem que, antigamente, era senso comum que mortadela levava jornal em sua composição). É preciso, portanto, também verificar o que realmente é ilegal e a extensão do problema, já que não se pode achar que todos os produtos estão irregulares, e comprometeria todo um setor que melhorou muito seus controles nos últimos anos com a concentração e profissionalização.

Não há dúvidas, porém, de que, apesar de alguns eventuais malentendidos dos investigadores, houve corrupção de fiscais e pagamento de propinas para liberar frigoríficos e situação irregular, uso de produtos impróprios e falta de controle em diversas empresas, especialmente as de menor porte. Cabe às companhias agora explicar de verdade o que faziam e rever seus procedimentos, deixando claro que não vão voltar a compactuar nem com a corrupção, nem com o descontrole na qualidade do que oferecem para o público. E os que realmente cometeram crimes graves contra a saúde, como funcionários públicos ou empresários, têm de ser punidos. É o mínimo que se espera do país que se propõe a ser o celeiro do mundo.

Já no campo político, a receita das salsichas terá de ser revista, com uma reforma política que decrete o fim do caixa dois e mais clareza no financiamento das campanhas e nos acordos. Uma opção é a regulamentação do lobby por parte das empresas, deixando claro o que é apoio político, admitido em uma democracia, e o que é corrupção e propina. O risco, porém, é que a classe política brasileira, já habituada à receita antiga, tente montar uma nova “salsicha” para escapar das punições e continuar no poder, mudando a apresentação, mas não o conteúdo.

O mais importante, porém, é que os brasileiros já sabem do que são feitas as salsichas e vão exigir melhoras. E vão continuar comendo seu cachorro quente e dormindo mais tranquilos depois disso.

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