A agência de classificação de risco Moody’s mudou a perspectiva para o sistema bancário brasileiros de estável para negativo, refletindo o risco que a incerteza política pode causar sobre as instituições financeiras, particularmente o risco de qualidade dos empréstimos e a rentabilidade se deteriorarem rapidamente. O país vai eleger em 2018 um novo presidente e não há ainda uma perspectiva de quem deverá ganhar e se o ganhador manterá a atual política econômica de ajuste fiscal e reforma da Previdência.
Segundo a agência, apesar de esperar que a economia brasileira continue se recuperando, apoiada pela inflação mais baixa e queda nos juros, o crescimento continuará fraco. A Moody’s prevê que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vai ser de 0,5% este ano e 1,5% em 2018, bem abaixo dos mais de 2% projetados pelo mercado brasileiro, segundo a pesquisa Focus do Banco Central. Consequentemente, enquanto os bancos estão emergindo da recessão do país com riscos controlados em seus empréstimos, a agência não prevê uma redução material na inadimplência.
Apesar do alívio que a inflação mais baixa e os juros menores trazem para os tomadores de crédito e sua capacidade de repagamento, a inadimplência seguirá alta pelos próximos 12 a 18 meses face aos elevados níveis de desemprego e fracos resultados das empresas.
“Nos últimos três meses, tem havido sinais iniciais de uma retomada nos empréstimos, mas o apetite dos bancos por risco permanece cauteloso e a demanda de grandes empresas é limitada já que as grandes tomadoras continuam a focar em reduzir o endividamento mais do que investir em aumento da capacidade, diz Ceres Lisboa, senior vice presidente e autor do relatório da Moody’s.
Consequentemente, as condições de liquidez dos bancos continuarão robustas e as necessidades de financiamento limitadas. Além disso, os lucros devem se estabilizar, com o suporte do baixo custo de captação e o custo de crédito. Com a necessidade de capital devendo se manter baixa devido ao reduzido crescimento dos empréstimos, vai haver uma ligeira melhora nos níveis de capitalização dos bancos brasileiros, mas a qualidade de capital vai continuar fraca. Apesar disso, os níveis razoáveis de reservas dos bancos vão permitir absorver as perdas.
A perspectiva para o sistema bancário também reflete o cenário negativo para o rating soberano do Brasil dada a ligação próxima entre os bancos e o governo, grandes investidores na dívida pública.