A renúncia do principal conselheiro econômico de Donald Trump, Gary Cohn, ontem à noite, em protesto contra a decisão do presidente americano de impor tarifas de importação de 25% para o aço e 10% para o alumínio para proteger a indústria local, provocou preocupações em investidores de todo o mundo.
As bolsas na Ásia fecharam em queda, com o Nikkei, de Tóquio, perdendo 0,72%, o Hang Seng, de Hong Kong, 1,03% e o Índice da Bolsa de Xangai, 0,74%. Na Europa, as bolsas abriram com pequenas altas, mas no mercado futuro os índices da Bolsa de Nova York estão em forte baixa, de 1% no Dow Jones e 0,74% no Standard & Poor’s 500. O receio é que a administração Trump assuma um caráter mais protecionista. No Brasil, o Índice Bovespa Futuro está em queda de 0,60%.
O dólar também abriu em alta porque aparentemente o presidente americano não está persuadido a abandonar a ideia de sobretaxar o aço e o alumínio como o mercado chegou a acreditar no início desta semana, explica Pablo Stipanicit Spyer, diretor de Operações da Mirae Asset. “O mercado subiu com força nos últimos dias acreditando que a pressão para aumentar impostos era uma maneira de renegociar o Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) e com o México de maneira mais positiva para os americanos”, afirma.
Pouco antes da saída de Cohn, Trump havia reafirmado o compromisso com as restrições e rebateu as críticas de que as medidas darão início a uma guerra comercial. Ele voltou a afirma que guerras comerciais “não são tão ruins assim” e que os Estados Unidos sofrem há anos com acordos comerciais ruins, incluindo os feitos com a União Europeia, uma das principais críticas às restrições.
O Brasil e o Canadá serão os mais afetados pelas medidas. Cohn havia marcado uma reunião com líderes dos setores afetados pelas tarifas para esta semana, mas o encontro não ocorrerá mais, segundo fontes da Casa Branca.
A saída de Cohn, um representante do livre comércio e presidente do Conselho Econômico Nacional dos EUA, representa um grande desgaste para a política econômica de Trump e mostra a divisão dentro do próprio governo. Ao que parece, as forças mais voltadas para o protecionismo comercial estão ganhando terreno e podem ampliar as medidas restritivas, não só de importações, como de capitais. O sinal preocupa analistas, que acreditam que os mercados vão reagir mal à tendência de guerra comercial mais forte.