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Para que serve o Bitcoin? Análise histórica das diferentes narrativas

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É paradoxal pensar que o protocolo Bitcoin possibilita que pessoas que não se conhecem possam concordar unanimemente sobre a história das transações realizadas em sua rede e, ao mesmo tempo, ter visões diferentes sobre a utilidade desta tecnologia.

Ao longo dos seus quase 10 anos de existência, são muitos os discursos, ou se preferir as correntes de pensamento, que rodeiam o Bitcoin. É perfeitamente possível colocar à mesa uma dezena de pessoas com opiniões diametralmente opostas sobre a razão de existência da invenção de Satoshi Nakamoto.

Um artigo publicado recentemente por Nic Carter e Hasufly analisa historicamente como as narrativas em torno do Bitcoin se modificaram e, em alguns casos, até chegaram a se extinguir. Neste post, pretendo apresentar as conclusões dos autores e também acrescentar uma outra corrente de pensamento que senti falta no trabalho deles.

Os autores fizeram uma análise com base no conteúdo do fórum Bitcoin Talk, talvez a principal arena de discussão sobre a tecnologia, e identificaram sete narrativas que foram ou ainda são sustentadas pelos usuários de Bitcoin, desde 2009.

Segundo eles, mais ou menos por ordem de aparição, temos:

Prova de conceito de e-cash: a primeira grande narrativa trata-se da visão geral sobre o Bitcoin em seus primeiros anos de existência. Naquela época, os cypherpunks e criptógrafos ainda estavam avaliando o projeto nascente e determinando se ele funcionava realmente. Como todas as propostas anteriores de um dinheiro eletrônico (e-cash) falharam, demorou um pouco para que as pessoas se convencessem da viabilidade técnica e econômica do Bitcoin e passassem a ter concepções mais expansivas do protocolo.

Rede barata de pagamentos P2P: uma narrativa extremamente popular e difundida diz respeito aquilo que alguns acreditam seja o que Satoshi tinha em mente: uma simples moeda para transações na internet que funcionasse de maneira peer-to-peer (P2P). Seria uma espécie de Paypal descentralizado. Como as microtransações são um componente-chave do comércio na internet, os defensores dessa visão geralmente acreditam que baixas taxas de transação e conveniência de uso (como velocidade da transação) são uma característica essencial de tal moeda.

Ouro digital resistente à censura: em contrapartida à narrativa de pagamentos p2p, esta é a visão de que o Bitcoin representa principalmente uma reserva de valor intergeracional, impossível de ser fraudada, com regra inflacionária que tende a zero e resistente à censura de bancos ou governos. Os defensores dessa visão não enfatizam o uso do Bitcoin nas transações cotidianas, argumentando que a segurança, a previsibilidade e o conservadorismo no desenvolvimento do protocolo são aspectos mais importantes. Esta é a visão daqueles que advogam que o Bitcoin é uma forma de dinheiro saudável (sound money).

Moeda anônima e privada para uso na darknet: esta é a visão de que o Bitcoin é útil para transações on-line anônimas, em particular para facilitar o comércio on-line de mercados ilegais (compra de drogas, por exemplo). Isso não é necessariamente excludente com a posição de ser uma espécie de ouro digital, já que muitos defensores da visão de ouro digital acreditam que a fungibilidade e a privacidade são atributos importantes. Esta foi uma narrativa popular até antes as empresas de análise de blockchain começarem a ter sucesso em identificar os usuários de Bitcoin.

Moeda de reserva para o setor de criptoativos: esta é a visão de que o Bitcoin serve a um propósito essencial como moeda nativa para a indústria de criptoativos em geral. Este ponto de vista é defendido pelos traders para os quais o BTC é o numerário em si — o ativo no qual os preços de outros ativos são cotados. Além dos traders, empresas e redes distribuídas que detêm reservas em BTC endossam essa visão.

Banco de dados programável compartilhado: esta é uma visão um pouco mais específica e geralmente envolve o entendimento de que o Bitcoin pode incorporar dados arbitrários e não apenas transações de valor. Indivíduos com essa visão tendem a enxergar o Bitcoin como um protocolo programável, capaz de se expressar e que pode facilitar casos de uso mais amplos. Em 2015 e 2016, era comum a noção de que o Bitcoin acabaria por absorver um conjunto diversificado de funcionalidades através de sidechains. Projetos como Namecoin, Blockstack, DeOS, Rootstock e alguns dos serviços de timestamping abrangem essa visão do protocolo.

Ativo financeiro não-correlacionado com o mercado tradicional: esta é uma visão do Bitcoin que o trata estritamente como um ativo financeiro e tem como característica mais importante a sua distribuição de retorno. Em particular, a tendência do Bitcoin a ter uma correlação baixa ou inexistente com outros tipos de índices, moedas ou commodities tradicionais o torna um atraente diversificador de portfólio. Os proponentes desta linha de pensamento geralmente não estão muito preocupados em possuir o Bitcoin em si, eles estão interessados ​​na exposição ao ativo. Em outras palavras, eles querem comprar o risco que o Bitcoin oferece, não necessariamente o próprio Bitcoin. Como o Bitcoin se tornou mais financeirizado, essa concepção ganhou força.

No gráfico acima, extraído do texto dos autores, vemos a representação ao longo do tempo do surgimento, popularização e morte de algumas das narrativas.

A narrativa, visão ou corrente de pensamento que sinto falta no gráfico tem a ver com aquelas pessoas que utilizam o Bitcoin a despeito de qualquer narrativa, ou seja, aqueles indivíduos que utilizam este ativo digital simplesmente como um instrumento para enviar e receber pagamentos em diferentes lugares do mundo.

Aqui vale diferenciar este caso de uso da narrativa que diz respeito a uma rede rápida e barata para pagamentos p2p. No primeiro caso, o usuário não está muito preocupado se a transação dele vai custar US$0,01 ou US$10 porque ele geralmente está movendo grandes quantias de um lugar para o outro. Enquanto que aqueles que detêm a visão de uma rede barata e rápida para pagamentos estão mais preocupados em poder pagar o cafezinho com Bitcoin e este não é o caso de uso a que me refiro.

Todos os dias percebo o crescimento brutal dos mercados de balcão de compra e venda de Bitcoin, também chamados de mercados OTC (over the counter). O volume de negociações realizado nesta modalidade é talvez duas ou três vezes maior que os volumes registrados pelas exchanges. E por trás desses negócios estão pessoas que não seguem nenhuma dessas narrativas apresentadas no gráfico. A única corrente de pensamento que elas seguem é enviar e receber grandes montantes de valor de um lugar para outro. Ou seja, eu e outras pessoas enxergamos o Bitcoin como uma ferramenta agnóstica e não atrelamos nenhuma ideologia ou narrativa a ele.

Essas são as pessoas que estão realmente usando o Bitcoin diariamente.

Barão 

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