Vamos começar do jeito que todo mundo adora: falando sobre números. Mas calma que não é nada complexo, serve para te dar um panorama sobre o que vem na sequência, abrir caminho para um melhor entendimento.
Segundo um levantamento feito pela Economatica, em 12 meses (até 31 de março de 2021) a rentabilidade da nossa querida poupança brasileira ficou negativa em 4,16%. E isso já descontando a inflação, medida pelo IPCA (6,10% no período). Trocando por miúdos, significa que o poder aquisitivo desse poupador não foi nem um pouco poupado. E a Economatica ainda relembra: “Março é o sétimo mês consecutivo de perda anual da poupança”. Dói até na alma, não é?
Na verdade, nem tanto mais. Desde que tivemos as consecutivas quedas da nossa taxa básica de juros, a Selic, que iniciaram lá em 2016, as pessoas começaram a migrar para outros investimentos mais rentáveis. E com o tempo até aquilo que era inimaginável para quem investia na poupança passou a ser uma constante, como é o caso da diversificação de carteira. Atualmente, já tem muito ex-Poupançudo surfando na rentabilidade do ouro, do dólar, do euro e da Bolsa de Valores – só para deixar claro, Poupançudos eram cofrinhos da Caixa que viraram mascotes da estatal, para incentivar a poupança. Mas eles já não andam mais tão bem alimentados assim, como vimos…
Voltando à pesquisa da Economatica, não foi apenas a poupança que fez a dieta dos rendimentos, o CDI (usado como uma referência para a renda fixa) teve queda acumulada de 3,65% nos 12 meses (até 31 de março), descontando também a inflação. O ouro, que comentamos anteriormente, teve alta de 10% e o euro subiu 12% na mesma base comparativa. Porém, o líder de valorização é o Ibovespa.
Sim, o índice da nossa Bolsa de Valores, aquele que fica nesse looping infinito de sobe e desce. Mesmo com tantos movimentos, o retorno é de 50,5% nos 12 meses (até 31 de março), já descontado o IPCA. Portanto, faz muito sentido olhar ainda mais atentamente para o mercado de ações.
Mas vale considerar: com base em tudo o que dissemos até agora, uma repetição deve ter ficado na sua cabeça: IPCA, IPCA e IPCA. Todos os rendimentos dos diversos tipos de investimentos só chegaram a esses patamares apresentados descontando o IPCA, ou seja, a taxa de inflação. Ora, mas quem “manda” nela é outra taxa, a Selic, que neste ano voltou a subir após ser mantida por anos em baixas históricas. Subiu pouco, de 2% para 2,75%, nada comparado aos 14,5% de 2016, mas a expectativa é que ela chegue a 5,25% ainda este ano. Portanto, ela é um indicador importante para vermos a inflação controlada, que é o que impacta bastante nos rendimentos, como vimos.
Com o IPCA em equilíbrio, já é meio caminho andado. Mas nessa dinâmica a Selic também tem um grau de importância muito grande quando a trazemos para o líder dos rendimentos dos últimos 12 meses: nosso Ibov. Ou melhor, para as empresas que o compõem. Afinal, o aumento da taxa de juros é o que impacta também nas dívidas, nos investimentos, na produção, nas margens e até no preço das ações das companhias. Assim como o consumidor passa a consumir menos com o aumento dos juros (já que fica mais caro financiar, emprestar, conseguir crédito etc.), muitas empresas acabam se contendo também, porém outras encontram grandes vantagens.
É por isso que separamos 7 setores para ficar de olho neste ano considerando a alta da Selic e as consequentes tendências de investimentos. Mas vale dizer, nem todos entram para a lista de “beneficiados” pela alta dos juros. Ao contrário, a maioria acaba sendo prejudicada, é por isso que demandam atenção redobrada.
Os setores mais beneficiados
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Setor de bancos e seguradoras
Enfim chegou a hora e a vez dos bancos. Os juros baixos (Selic) dos últimos tempos trouxeram mais competitividade para esse setor e uma grande oferta de créditos. Porém, como afirma a analista Paloma Brum, da Toro Investimentos “agora o movimento esperado diante de juros maiores é o contrário: crescerá também o nível de risco na concessão de empréstimos e financiamentos, o que implica naturalmente em um prêmio maior para remunerar as instituições credoras”.
Ao mesmo tempo, ganham vantagem nesse cenário as seguradoras. De acordo com análise da XP Investimentos, “além da receita operacional que vem da venda de seguros, as seguradoras têm como outra fonte relevante de receita as aplicações feitas no mercado financeiro. Como uma grande parte dessas aplicações são em renda fixa com rendimentos atrelados à Selic, uma alta na taxa básica de juros leva a maiores retornos sobre o capital investido”.
Para entender melhor sobre como e por que as seguradoras investem em renda fixa, aproveite vendo isso na prática da seguradora SulAmérica (SULA11) e conheça ainda mais sobre essa companhia que teve as maiores altas nas ações após anúncio de alta da Selic.
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Setor exportador
Como dissemos, a alta da Selic faz com que o consumo dê uma desacelerada, portanto o impacto na produção das empresas é certo. Afinal, com menos demanda não se pode exagerar produzindo grandes quantidades e depois não ter para quem vender, certo? Portanto, se o cenário doméstico não se mostra muito promissor, o jeito é olhar para o mercado externo. “Empresas ligadas ao setor exportador tendem a se mostrar mais resilientes do que aquelas companhias mais dependentes do mercado doméstico, durante períodos de juros locais mais altos. São companhias com esse perfil, por exemplo, empresas de proteína animal, papel e celulose, commodities como o petróleo e o minério de ferro”, avalia a analista da Toro.
Os menos beneficiados – olho redobrado!
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Setor de varejo
Como o comentário anterior da analista já deixou bem claro, um desestímulo do consumo interno faz com que as empresas mais prejudicadas sejam justamente aquelas que têm foco nisso. O setor de varejo é o que mais recebe impacto direto dos juros elevados, e a própria Paloma Brum nos explica isso de um modo muito simples: “Juros mais altos implicam em aumento das despesas dos indivíduos com crédito e, portanto, aumentam o seu endividamento e reduzem a renda disponível para realizar outros gastos. Dessa forma, a alta na Selic pode prejudicar o volume de vendas e as receitas de companhias do varejo, como redes de supermercados, vestuário, calçados e bens de consumo duráveis (como eletrodomésticos e automóveis)”.
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Setor imobiliário
A desvantagem da alta dos juros para esse setor é bem fácil de entender, afinal ele atua muito com financiamentos, e isso é altamente impactado pela correção da Selic. Conforme Paloma Brum: “Dessa forma, a alta da Selic pode reduzir o apetite para a tomada de novos financiamentos, assim como aumentar o grau de inadimplência entre aqueles que já têm contratos. Contudo, como os juros básicos estão próximos da mínima histórica e a perspectiva é de que a Selic suba até dezembro, as companhias do setor ainda conseguirão se beneficiar com financiamentos de menor custo para os seus clientes quando comparado com os patamares mais elevados observados no passado”.
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Setor de bens de capital
Bens de capital são insumos necessários para produzir outros bens e mercadorias. É o caso da indústria de máquinas e equipamentos. Na verdade, desde o começo da pandemia esse setor tem sido duramente penalizado, uma vez que a demanda acabou diminuindo consideravelmente. Soma-se a isso agora o aumento da Selic e temos um cenário complicado.
Para Paloma Brum: “Com a alta da Selic, cresce também o custo de capital e o endividamento das firmas, o que faz com que as empresas invistam menos e demandem menos bens de capital. Desse modo, tendem a ser prejudicadas as atividades de companhias provedoras de máquinas, motores, instalações fabris, ferramentas, entre outras”.
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Setor de educação
Esse setor também tem sofrido com os reflexos da pandemia, e para entender isso não é preciso ir muito longe. Se você tem filhos, já deve conhecer bem. O ensino presencial precisou ser trocado pelo virtual e até quem torcia o nariz para essa modalidade teve de se conformar. Em conjunto com a alta da Selic, temos um setor para se prestar muita atenção.
Conforme a analista da Toro: “a consequente queda da renda disponível dos brasileiros [devido à alta da Selic, que vem a frear o consumo] tende a reduzir despesas, focando no consumo de itens essenciais. Nesse cenário, o orçamento das famílias para educação, principalmente de grau superior, passa a ser prejudicado, afetando as empresas do setor educacional, que podem sofrer com o aumento da evasão e da taxa de inadimplência entre os atuais matriculados, além da queda na captação de novos alunos”.
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Setor de tecnologia
Por fim, mas não menos importante, temos as tecnológicas. Nas palavras de Paloma Brum: “A alta da Selic pode impactar a precificação das ações de empresas de tecnologia, inclusive aquelas de e-commerce, cujo crescimento acelerado depende de financiamentos que, por sua vez, tendem a ficar mais caros com os juros mais elevados. Além disso, o fluxo de caixa dessas companhias está em grande parte projetado para um futuro mais longínquo. Dessa forma, ao trazê-lo a valor presente, com juros mais altos, as empresas passam a sofrer um maior desconto, o que implica na queda dos preços de suas ações”.
Para onde correr?
Para ter uma rentabilidade que supere a Selic sem precisar contar tanto apenas com a valorização das ações, vale olhar para os famosos dividendos, é o que revelam os analistas da XP: “Investir em ações com foco em dividendos neste cenário é uma grande oportunidade porque os investidores possuem uma ‘garantia’ de retorno, já que as companhias têm a obrigatoriedade, por lei, de remanejar pelo menos 25% seus proventos para os acionistas”.
Nesse sentido, muitas empresas têm dividend yield projetado para 2021 que superam o valor dos juros atuais. Como falamos de projeção, isso varia de corretora, banco ou casa de análise, mas vamos disponibilizar aqui as 5 mais da XP Investimentos e também as 5 mais da Economatica, que foi quem realizou a pesquisa inicial que descrevemos nesta matéria e que, então, fecha com chave de ouro – ou melhor, com perspectivas de ótimos dividendos, o que pode dar no mesmo dependendo da sua estratégia.
=> As 5 melhores pagadoras de dividendos em 2021, segundo a XP Investimentos
- Copel (CPLE6): 14% de dividend yield projetado
- Engie Brasil (EGIE3): 9,7%
- Banco do Brasil (BBAS3): 8,6%
- Vale (VALE3): 7,1%
- AES Tietê (AESB3): 7,0%
=> As 5 melhores pagadoras de dividendos em 2021, segundo a Economatica
- Enauta (ENAT3): 9,64% de dividend yield projetado
- Taesa (TAEE11): 9,63%
- Wiz S.A (WIZS3): 8,32%
- Cyre Com-Ccp (CCPR3): 6,80%
- AES Tietê (AESB3): 6,37%
Aproveite para conferir o ranking completo da Economatica clicando aqui e não deixe também de dizer para a gente o que achou deste conteúdo comentando aqui embaixo. Compartilhe o artigo também com seus amigos, afinal alta da Selic tem se mostrado uma tendência e tudo o que interfere na economia vai repercutir na Bolsa, portanto vale sempre ficar bem informado! Aproveitem e ótimo$$ investimento$$!