A JBS, maior produtora de carnes do mundo, voltou às compras, mas dessa vez para adquirir uma companhia de proteínas vegetais, a europeia Vivera, por 341 milhões de euros, de olho no forte crescimento do mercado vegetariano.
O Fato Relevante foi divulgado pela empresa (BOV:JBSS3) na manhã desta segunda-feira (19). Confira o comunicado na íntegra.
Com um portfólio de 50 produtos, a Vivera tem três unidades fabris na Holanda, além de um centro de pesquisa e desenvolvimento no mesmo país, para atender um segmento que cresce cerca de 20% ao ano na Europa, especialmente entre holandeses, alemães e ingleses, que respondem por 60% do mercado de “plant-based” europeu.
Segundo o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, a Vivera dará “musculatura” em “plant-based” para a companhia, que ainda tem um negócio relativamente pequeno nesse segmento. Conta com a empresa Planterra, nos EUA, que comercializa a marca OZO, além da linha Incrível, da brasileira Seara, que detém liderança nacional em hambúrgueres vegetais.
“É um segmento que cresce globalmente… Seremos um ‘player’ relevante nesse setor, a aquisição faz sentido estratégico, acelera muito a nossa estratégia no segmento de “plant-based”, disse Tomazoni à Reuters.
“O segmento de ‘plant-based’ na JBS é pequeno, mas o importante é que ele tem altas taxas de crescimento”, acrescentou o CEO, sem citar números.
Enquanto a Vivera fatura cerca de US$ 100 milhões ao ano, configurando-se na terceira maior empresa de “plant-based” da Europa, disse o CEO, a receita líquida consolidada da JBS foi de R$ 270 bilhões em 2020, com a maior parte sendo originária do Hemisfério Norte.
“É importante… a Vivera está em 25 países na Europa”, destacou Tomazoni, salientando que a JBS também está comprando a tecnologia da companhia europeia, que poderá ser compartilhada com o grupo no futuro, após a aprovação do negócio pelas autoridades reguladoras.
O executivo disse ainda que a Vivera tem crescido nos últimos anos entre 25% a 30% ao ano, também graças a um time de administração competente.
“Além do tamanho do negócio, contou muito para nós a qualidade do time de gestão, um time com muita experiência, passagem por grandes empresas, e que fez um trabalho extraordinário de reposicionamento e crescimento da marca Vivera nos últimos anos”, destacou.
Ele ressaltou que produtos como os da Vivera, que têm entre as principais matérias-primas as proteínas de soja e de ervilha, além de cogumelos e beterraba, contam com uma “aceitação grande junto a uma nova geração de consumidores” e também deverão ajudar o mundo a alimentar sua população crescente.
A JBS disse em comunicado que, para fomentar “o espírito empreendedor” da Vivera, vai manter a empresa como uma unidade de negócios autônoma, mantendo sua atual liderança.
“Juntar forças com a JBS nos dá acesso a recursos significativos e capacidades para acelerar nossa atual trajetória de forte crescimento”, disse o CEO da Vivera, Willem van Weede, conforme nota da JBS.
SENTIDO ESTRATÉGICO
A última aquisição de peso da JBS envolveu a norte-americana Empire Packing, por US$ 238 milhões, confirmou Tomazoni ao ser questionado sobre a compra da companhia que tem a marca Ledbetter, de cortes de bovinos, suínos e produtos processados, anunciada em fevereiro do ano passado.
Segundo ele, a JBS está sempre em busca de oportunidades.
“Temos olhar muito ativo no mercado M&As, mas tem que fazer sentido estratégico e estar no preço certo”, comentou ele, ecoando a lógica da aquisição da Vivera.
Questionado, ele repetiu que a listagem de unidade da JBS nos Estados Unidos deverá ocorrer e que é apenas uma questão de “quando”, e não “se”.
Mas evitou dar detalhes. “Vai sair… Estamos avaliando qual é o melhor modelo que traga maior valor ao acionista.”
VISÃO DO MERCADO
Guide Investimentos
A aquisição ainda tem pouco impacto para o Market cap da JBS (R$ 83 bilhões) mas avaliamos o movimento como positivo para o futuro da companhia. Com operações de proteínas a base vegetal em diversos continentes a JBS se posiciona de maneira estratégica para um mercado com grande potencial de crescimento. Não descartamos no futuro um spin-off (separação) dessas operações.
Lucro líquido de R$ 4,6 bilhões em 2020, queda de 24,2%; No 4T20, lucro dispara 65%
Em 2020, o lucro líquido da JBS totalizou R$ 4,6 bilhões, o que significa uma redução de 24,2% em relação aos R$ 6 bilhões do ano anterior. Essa queda, porém, reflete o prejuízo não caixa do primeiro trimestre, quando a alta do dólar pesou sobre o valor das dívidas em moeda estrangeira. Não fosse isso, o resultado da companhia brasileira de carnes teria ficado perto dos R$ 10 bilhões.
No acumulado de 2020, o Ebitda ajustado totalizou R$ 29,5 bilhões, um incremento de 48,7%. Assim, a margem Ebitda caiu 0,7 ponto no trimestre, para 9,9%, mas aumentou 1,2 ponto no ano, para 10,9%.
Em 2020, a receita líquida aumentou 32,1%, ultrapassando R$ 270 bilhões pela primeira vez.
A JBS encerrou 2020 com R$19,7 bilhões em caixa. Adicionalmente, a JBS USA possui US$2,0 bilhões disponíveis em linhas de crédito rotativas e garantidas, equivalentes a R$10,2 bilhões ao câmbio de fechamento do trimestre, o que confere à JBS uma disponibilidade total de R$29,9 bilhões, mais de seis vezes superior a sua dívida de curto prazo.
(Com informações da Reuters. Por Roberto Samora; edição de Luciano Costa)