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Powell evita sinalizar data para corte de juros e quer mais confiança nos dados

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, voltou a afirmar nesta quarta-feira (20) que a atual taxa de juros está provavelmente no seu ponto e que, se a economia evoluir como esperado, será apropriado começar a reduzi-la em algum momento deste ano.

Mas também admitiu que as perspectivas econômicas são incertas e que os diretores estão preparados para manter o atual intervalo por mais tempo, se for necessário.

“O Comitê não espera que seja apropriado reduzir o intervalo da meta até que ganhe confiança de que a inflação está descendo de forma sustentável para 2%. É claro que estamos empenhados em ambos os lados do nosso duplo mandato e um enfraquecimento inesperado no mercado de trabalho poderia justificar uma resposta na política. Continuaremos a tomar nossas decisões reunião por reunião”, declarou.

Ao responder uma pergunta específica sobre a visão dele dos indicadores de inflação mais altos no início do ano, ele ponderou que os dados de janeiro poderiam apontar para problemas de ajuste sazonal ali, mas ele reconheceu que é necessário cuidado ao “descartar as partes dos dados que você não gosta”.

“Fevereiro não foi tão alto, mas foi mais alto. A pergunta é: o que vamos ver? Tendemos a ver uma inflação um pouco mais forte no início do ano e menos forte no final do ano. Vamos deixar os dados aparecerem. Acho que não sabemos realmente se isso é um obstáculo ou algo mais. Teremos que descobrir”, comentou.

“Temos 9 meses de inflação de 2,5% agora e tivemos 2 meses de inflação turbulenta. Vai ser uma jornada acidentada. Temos dito isso consistentemente. Agora temos solavancos”, completou.

Fed tentou nas projeções de atividade, inflação e juros equilibrar as expectativas

Os últimos dados de atividade econômica, inflação e do mercado de trabalho dos EUA foram suficientes parar altera projeções dos diretores do Federal Reserve para este ano, mas insuficientes para que a expectativa de início de cortes de juros fosse modificada, segundo avaliação de economistas.

Como esperado, o Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) manteve as taxas de juro americanas no mesmo patamar pela quinta reunião seguida. E o presidente da autoridade monetária também manteve a cautela, mas também o otimismo sobre os passos da política monetária em seu discurso e na coletiva de imprensa.

E também como esperado, o conjunto de projeções econômicas, expresso no famoso gráfico de pontos do Fomc, cumpriu o papel de sinalizar a estratégia do colegiado.

Nesse aspecto, Francisco Nobre, economista da XP, avalia que as projeções de crescimento da economia e de inflação cumpriram a função mais dura (“hawkish”) da comunicação. A evolução do PIB no ano foi revisada de 1,4% (estimativa de dezembro passado) para 2,1%, até acima do que se esperava.

E a inflação do consumo (PCE), avançou de 2,4% para 2,6%, devido aos números mais quentes de janeiro e fevereiro.

Mas, apesar dessas revisões para cima, as projeções para os cortes de juros foram mantida em 0,75 ponto percentual, o que antecipa 3 cortes de 0,25 p.p. neste ano. “Para 2024, acabou ficando inalterado. O mercado estava debatendo muito se essa mediana ia subir de 4,6% para 4,9% e isso implicaria em uma mudança de perspectiva do Comitê quanto ao número de cortes nas taxas esse ano”, comenta Nobre.

Embora não tenha havido modificação na mediana, o economista da XP destaca que a decisão foi muito apertada porque se ao menos um membro tivesse passado uma perspectiva um pouco pior para a corte de juros esse ano, isso seria suficiente para mudar essa mediana.

“No entanto, para 2025 e 2026, a perspectiva de cortes de juros ficou um pouco menor. E então, o Comitê agora avalia uma política monetária um pouco mais apertada para os próximos dois anos”, destaca

Benevolente
Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro Capital, concorda que o grande destaque ficou por conta da mudança nas projeções pelo membros do Fomc.

Para ele, também chamou a atenção que as estimativa de crescimento, inflação e, especialmente, a taxa de desemprego tenham ficado no intervalo mais “hawkish” das expectativas dos analistas, mas que isso não tenha implicado em elevação do juro terminal projetado para 2024.

“Em nossa leitura, isso é um indício que a função de reação do Fed está mais benevolente com a inflação, ao menos nesse momento em que debatemos o início do ciclo de cortes de juros”, argumenta.

Para ele, a elevação das projeções de juros para 2025 e 2026 é um sinal de que o comitê buscou equilibrar essa inclinação mais “dovish” do início do ciclo do corte de juros, sinalizando um ciclo mais lento e com uma taxa terminal mais elevada.

Na opinião de Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, essa comunicação significa que os membros do Fomc enxergam um juro mais elevado por um período maior para garantir a convergência da inflação para meta de longo prazo.

Lado da oferta
Já a avaliação do Goldman Sachs é que o Fed está capturando a história do lado da oferta em suas projeções. “Ainda são esperados três cortes em 2024 e eles veem as taxas mais altas por mais tempo”, comenta o banco de investimentos em relatório.

“Continuamos esperando o primeiro corte nas taxas em junho, e quatro cortes de 25 pontos-base no total este ano, seguidos por mais 200 pontos-base em 2025”, projeta o banco.

Após a entrevista coletiva de Powell, Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital, destacou as falas sobre o emprego nos Estados Unidos estar caminhando para o equilíbrio, sobre o trabalho do Fed caminhando bem para a desinflação e sobre a política monetária estar em seu pico, o que ajudou a animar os mercados e a derrubar o dólar.

“Com isso, acredito que a expectativa de início de queda se mantém para junho, que é o que o mercado está precificando. Enquanto isso, as apostas de corte de juros para maio seguem caindo”, comenta.

Andressa Durão, economista da ASA Investments, comenta que Powell trouxe novidades em suas falas em relação à força do mercado de trabalho, ao dizer que isso não necessariamente seria uma razão para adiar os cortes, por ter a ver com oferta. “Ao mesmo tempo em que disse que um enfraquecimento do mercado de trabalho poderia mudar cenário de juros, no sentido de acelerar cortes”, afirma.

A economista também acredita que o início dos cortes em junho segue como cenário base. “Dados de inflação dirão se precisarão pular reuniões ou se anteciparão cortes. Nesse caso, revisariam os ‘dots’ para baixo na reunião de junho.”

Juliano Condi, economista de área internacional da AZ Quest, comenta que um aumento tão expressivo na atividade como o anunciado hoje no sumário do Fomc, deveria levar a aumentos também na inflação e, por conseguinte, nas taxas de juros.

Mas para ele, a explicação para esse quebra-cabeças se daria por um aumento de produtividade, questão que ficou ausente na sessão de perguntas e respostas, mas que, nas últimas conferências, foi parcialmente refutada por Powell.

“O mix das mudanças indica um comitê confiante de que o tão almejado ‘pouso suave’ será alcançado, com a inflação retornando gradualmente, e mais lentamente, para a meta, sem prejudicar a atividade e o mercado de trabalho.”

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