Gravações indicam que delatores planejavam usar ex-ministro para atingir STF
06 Setembro 2017 - 04:24PM
ADVFN News
As gravações de conversas entre os empresários Joesley
Batista e Ricardo Saud, da JBS
(BOV:JBSS3), divulgadas hoje (6) pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), indicam que eles planejavam usar o
ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo para
atingir ministros da Suprema Corte. A ideia era gravar uma conversa
com Cardozo na tentativa de identificar os ministros sobre os quais
ele poderia ter influência. “Depois vamos botar tudo na conta do
Zé”, diz Joesley no áudio divulgado pelo STF.
Após afirmar que entregaria o presidente da República,
Michel Temer, Joesley informa que caberia a Saud
entregar o ex-ministro, o que ocorreria após contato a ser feito
pelo próprio Joesley com Cardozo. “Eu vou entregar o [chefe do]
Executivo e você vai entregar o Zé. Vou ligar para o Zé e chamar
ele para trabalhar conosco. Vou dizer que a gente precisa organizar
o STF e vou perguntar quem ele tem e qual influência que tem neles
[ministros]. Ele vai entregar tudo”, afirma Joesley.
“Vou chamar o Zé e dizer a ele que a casa caiu e que preciso
dele; que vamos ter de montar nossa tática de guerra. Depois vamos
botar tudo na conta do Zé”, reforça Joesley. “E se a gente pegar o
Zé, a gente pega o STF”, acrescenta Saud.
Em outro trecho da gravação, os dois empresários insinuam que
uma advogada da equipe que defende a JBS
[supostamente Fernanda Tórtima] teve um relacionamento amoroso com
o ex-ministro da Justiça. “[Ela] surtou por causa do Zé, porque
sabia que, se a gente entregar o Zé, ele entrega o Supremo”, diz
Joesley. Em outra parte da conversa, o empresário diz que Fernanda
ficou preocupada com a possibilidade de a delação atingir ministros
do Supremo. “E aí até a Fernanda perdeu o controle. Ela falou:
‘Nossa Senhora, peraí, calma, o Supremo, não, peraí, calma, vai f*
meus amigos”, acrescenta Joesley.
Os delatores planejam, em outra parte do áudio, estratégias para
se aproximar também de integrantes da Procuradoria-Geral da
República (PGR), em especial do procurador-geral,
Rodrigo Janot. Para tanto, usariam uma pessoa
chamada Marcelo – que seria o ex-procurador Marcelo
Miller. “Nós somos do serviço. Nós vamos virar amigo e
funcionário do Ministério Público e desse Janot. Vamos falar a
língua deles. Quer conquistar o Marcelo? Você já achou o jeito. É
só chamar esse povo de bandido, e eles vão dizer; ‘agora vocês
estão do nosso lado’”, afirma Joesley.
“Ele [Marcelo] já contou para o Janot que a gente tem muito mais
para contar. Marcelo é do MPF. Ele tem linha direta com o Janot e
com outros de lá. Nós somos a joia da coroa deles. O Marcelo já
descobriu e falou para o Janot: ‘Janot, nós já temos o pessoal que
vai dar todas as provas que precisamos”, afirma Joesley.
Confiança
Durante a conversa, Joesley demonstra confiança e diz que o
esquema planejado não prejudicará o grupo empresarial. Ele diz a
Ricardo Saud que entende o que o Ministério
Público está fazendo e que tem certeza de que não corre
risco de ser preso. “Nós não vamos ser presos, ponto”. Saud reage
com um pouco mais de dúvida, mas Joesley o contesta reafirmando que
está calmo porque sabe exatamente o que está se passando nas
investigações.
“Eu posso estar completamente enganado, eu acho que eles não
estão fazendo isso orquestradamente. Agora, eu acho que eles estão
fazendo isso achando que nós não estamos entendendo, mas eu estou
entendendo. Quem não está entendendo está em pânico. Como eu estou
entendendo, não estou em pânico”, ressalta Joesley.
O empresário diz acreditar que será pressionado por Janot para
falar tudo o que sabe, mas que também seria protegido por este.
“Seria a reação natural. Pensa você no lugar do Janot; senta na
cadeira do Janot. Ele sabe tudo.. *Aí, o Janot espertão bota para
f*, põe pressão [na gente] para entregar tudo. Mas [diz também]
‘não mexe com eles’. Ele diz ‘pode f*, dá pânico neles, mas não
mexe com eles [delatores da JBS]’.”
Nova investigação
O conteúdo das gravações levou Janot a abrir uma investigação
para avaliar a omissão de informações nas negociações das delações
de executivos da JBS. Se comprovada a omissão, os benefícios
concedidos aos delatores poderão ser anulados, informou o
procurador. Com o acordo de delação, Joesley e os demais executivos
não foram presos e puderam deixar o país.
A possibilidade de revisão ocorre diante das suspeitas dos
investigadores do Ministério Público Federal (MPF)
de que o empresário Joesley Batista e outros delatores esconderam
informações da Procuradoria-Geral da República. A PGR também
suspeita que Miller atuou como “agente duplo” durante o processo de
delação. Ele estava na procuradoria durante o período das
negociações e deixou o cargo para atuar em um escritório de
advocacia em favor da JBS.
No entendimento do procurador-geral, mesmo se os benefícios dos
delatores forem cancelados, as provas contra as pessoas citadas
deverão ser mantidas, dando sequência às investigações. No entanto,
a decisão final cabe ao Supremo.
Citados
Em nota à imprensa, divulgada ontem (5), o ex-procurador
Marcello Miller disse que “tem convicção de que não cometeu qualquer crime ou ato de
improbidade administrativa”.
JBS ON (BOV:JBSS3)
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