O novo presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, sinalizou que a
sua gestão será focada em resultados e que tem consciência da
missão ao assumir a liderança do segundo maior banco privado do
Brasil. O executivo foi alçado ao posto depois de liderar a
arrumação no segmento de varejo, que sofreu com o aumento da
inadimplência e pressionou os resultados do conglomerado.
“O mercado é muito competitivo e exige múltiplas capacidades de
todos nós. Com os pés no chão, tenho consciência da minha missão. E
não será diferente dessa vez”, disse o executivo, em nota
distribuída pelo banco.
De acordo com Noronha, o Bradesco (BOV:BBDC3) (BOV:BBDC4) tem
uma estrutura organizacional e cultura corporativa que oferecem os
“pilares centrais de uma gestão focada em resultados”. “Tenho visão
plena das decisões relevantes que me aguardam, e o tamanho da carga
das expectativas dos clientes, colaboradores e acionistas do
Bradesco”, acrescentou.
Noronha foi anunciado nesta quinta-feira como novo presidente do
Bradesco em substituição a Octavio de Lazari, que estava havia
cinco anos na liderança do banco e deve ir para o Conselho de
Administração.
Até então, ele ocupava a posição de vice-presidente de Varejo,
da qual tem grande experiência nas áreas de crédito, pagamentos, e
antes também havia capitaneado a área de atacado do conglomerado,
período em que galgou espaço na Faria Lima, reforçando a posição do
Bradesco entre os bancos de investimento.
Noronha tem 58 anos e iniciou sua carreira bancária, em 1985, no
Recife. Transferiu-se para São Paulo em 1994 e, antes de ingressar
no Bradesco, trabalhou na diretoria do Banco Bilbao Vizcaya
Argentaria Brasil até 2003. Foi, também, diretor-presidente da
Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços
(Abecs) entre os anos de 2013 e 2017.
“Tenho visão plena das decisões relevantes que me
aguardam”, disse o novo CEO
A saída de Octavio de Lazari Júnior da presidência do Bradesco
pegou de surpresa gestores e analistas que acompanham o banco. O
executivo deixa o cargo que ocupava desde 2018 antes da
aposentadoria, o que não é comum no histórico da instituição
financeira. O sucessor, Marcelo de Araújo Noronha, era o
vice-presidente responsável pela área de varejo do Bradesco.
Noronha, profissional com 38 anos de experiência no setor
financeiro, está há 20 anos no banco e foi uma recomendação do
comitê de nomeação e sucessão da instituição. Era um nome percebido
pelo mercado, principalmente pelo trabalho que fez como VP do banco
de atacado.
Mas, a mudança em nada lembra a troca de comando anterior,
quando Lazari substituiu Luiz Carlos Trabuco — ambos vindos da
Bradesco Seguro. Meses antes da sucessão, o mercado já sabia que
ela iria ocorrer. Trabuco, atual presidente do conselho de
administração do Bradesco, deixou de ser CEO por ter ultrapassado a
idade máxima permitida pelo estatuto para ocupar o cargo, que é de
65 anos. Lazari, hoje, está com 60.
“Historicamente, o Bradesco é muito conservador nas mudanças.
Então, fazer uma alteração de CEO sem ter uma ‘obrigação’, mostra o
quanto os controladores estão insatisfeitos”, afirma o sócio de uma
gestora, sob condição de anonimato.
Oficialmente, o Bradesco justificou a troca de comando como o
começo de um novo ciclo de projetos estratégicos e robustos para os
próximos anos. “O contexto de mercado é absolutamente desafiador,
do ponto de vista da eficiência operacional, aumento da
competitividade e ambiente regulatório”, afirma Trabuco, em nota à
imprensa.
“Cada geração de executivos tem seu momento de maturação, ritos
de passagem e patrimônios acumulados como legado. O momento
representa um cenário propício para dar visão renovada aos
movimentos necessários em direção aos objetivos colocados pelo
Conselho de Administração do Bradesco”, complementa o presidente do
conselho de administração.
Analistas observam que o Bradesco está com dificuldades para
alcançar o desempenho de seu principal concorrente privado, o Itaú,
e o do Banco do Brasil. No terceiro trimestre de 2023, o retorno
sobre patrimônio líquido (ROE) da instituição financeira ficou em
11,3%. Ainda que tenha apresentado melhora, a rentabilidade ainda
está bem distante dos 21,1% do Itaú e de 21,3% do BB.
“Estamos terminando o ano de 2023 e faz dois anos que Itaú e
Banco do Brasil continuam indo muito bem. É natural que isso possa
ter gerado um desgaste interno no Bradesco, ao ficar muito distante
dos concorrentes por muito tempo. E sabemos que a competição,
principalmente com o Itaú, é muito forte”, diz um analista que
acompanha o setor bancário.
Nas teleconferências de resultados do Bradesco era comum
analistas e jornalistas perguntarem sobre perspectivas de
recuperação da rentabilidade do banco.
“Lógico, não estamos satisfeitos com esse ROE que estamos
observando, ele é inadequado. Isso tem um peso de inadimplência
[…], mas vamos recuperando esse ROE”, afirmou Lazari, no último
call, realizado no início do mês.
Na temporada de balanços mais recente, o Bradesco, que costumava
a ser um dos primeiros incumbentes a apresentar resultados, foi o
último a reportar seus números. No terceiro trimestre, o banco
perdeu margem financeira por adotar uma postura mais conservadora
na concessão de crédito, mirando em empréstimos com garantia e,
portanto, menor retorno. O movimento foi reflexo da alta
inadimplência, que chegou a 5,7% ao final de junho deste ano — nos
atrasos com mais de 90 dias — e sofreu uma leve queda, para 5,6%,
ao final de setembro.
Em fevereiro, Lazari admitiu que o banco emprestou mais do que
deveria. Naquele mesmo mês, o Bradesco provisionava R$ 4,9 bilhões
para cobrir sua exposição total a Americanas. “O desafio da
inadimplência continua, ainda que tenha desacelerado o
crescimento”, afirma Bernardo Guttman, analista da XP.
Segundo ele, um dos desafios no novo CEO vai ser fazer com que o
banco consiga rentabilidade acima do custo de capital,
principalmente no segmento de pessoa física. “O Bradesco perdeu
muito market share para os bancos digitais e existe uma discussão
se o banco vai ser capaz de ajustar custos rapidamente para se
tornar competitivo, mesmo com participação menor”.
“Acho que o Bradesco tem dois desafios: ser mais ágil e mais
eficiente. Mas ainda não está claro para mim qual é a agenda do
novo CEO”, diz o gestor citado no começo desta reportagem.
Em sua primeira manifestação oficial após o anúncio da Sucessão,
Noronha afirmou, em nota, estar ciente dos desafios que o
aguardam.
“O mercado é muito competitivo e exige múltiplas capacidades de
todos nós. Com os pés no chão, tenho consciência da minha missão. E
não será diferente dessa vez. Tenho visão plena das decisões
relevantes que me aguardam, e o tamanho da carga das expectativas
dos clientes, colaboradores e acionistas do Bradesco”, afirmou.
De qualquer forma, não são mudanças que devem acontecer da noite
para o dia, de acordo com um gestor de portfólio ouvido pela
reportagem. “Grandes bancos são como transatlânticos e demora muito
mexer os ponteiros para o caminho certo. É um processo difícil,
demorado. A troca de comando ajuda, mas demora muito de
acontecer”.
Informações Infomoney
BRADESCO PN (BOV:BBDC4)
Gráfico Histórico do Ativo
De Jul 2024 até Ago 2024
BRADESCO PN (BOV:BBDC4)
Gráfico Histórico do Ativo
De Ago 2023 até Ago 2024