Eólicas enfrentam ‘vento contrário’ para avançarSetor viveu boom de expansão nos últimos anos, mas margens dos parques se tornaram desafio para empresasPor Rikardy Tooge12 set 2023 14h32Depois de viver um ciclo virtuoso nos últimos anos, o setor de energia eólica colocou o pé no freio, inibido pela maior competitividade de outras indústrias, como a solar, e pelos preços pouco atrativos dessa modalidade de energia. Na curva até 2027, por exemplo, o valor do kilowatt-hora está em torno de R$ 100, metade do que seria um valor atrativo para novos investimentos nesta fonte.O primeir...
Eólicas enfrentam ‘vento contrário’ para avançarSetor viveu boom de expansão nos últimos anos, mas margens dos parques se tornaram desafio para empresasPor Rikardy Tooge12 set 2023 14h32Depois de viver um ciclo virtuoso nos últimos anos, o setor de energia eólica colocou o pé no freio, inibido pela maior competitividade de outras indústrias, como a solar, e pelos preços pouco atrativos dessa modalidade de energia. Na curva até 2027, por exemplo, o valor do kilowatt-hora está em torno de R$ 100, metade do que seria um valor atrativo para novos investimentos nesta fonte.O primeiro sinal de alerta veio dos fornecedores de equipamentos para as usinas eólicas. Entre o fim de 2022 e o início deste ano, a americana GE Renewable Energy e a alemã Siemens Gamesa, duas importantes produtoras de aerogeradores, interromperam suas atividades no país. Oficialmente, as empresas não deram detalhes da decisão, mas Marcelo Sá, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, explica que as companhias não estavam conseguindo rentabilizar o negócio no Brasil.“Tivemos uma pressão no custo das matérias-primas na época da pandemia, quando esses fornecedores já tinham contratos fechados. Ou seja, estavam com preços travados em um momento em que seu insumo subia, e não conseguiam repassar. Isso afetou muitas companhias, que acabaram perdendo dinheiro”, resume.Com a saída da GE e a hibernação da fábrica da Siemens Gamesa na Bahia, poucos fornecedores são capazes de atender a demanda para a construção dos 630 parques eólicos que já foram autorizados pela Aneel (49,7% da potência prevista para os próximos anos). Atualmente, três companhias fornecem aerogeradores no país: a dinamarquesa Vestas, a alemã Nordex Acciona e a brasileira Weg, que ainda dá seus primeiros passos nesta vertical. Em outra frente, a Gerdau, que possui uma joint-venture com as japonesas Sumitomo e Japan Steel Works (JSW) para a fabricação de peças para a geração de energia eólica, tem sinalizado que pretende priorizar a energia solar.(Karsten Würth/Unsplash)O diretor-executivo da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, em conversa recente com o IM Business, avaliou a saída de fornecedores como uma situação “delicada”. Mas ressaltou que, no seu caso, a companhia tem conseguido fechar contratos de fornecimento de equipamentos a preços competitivos. No fim de março, a Casa dos Ventos anunciou acordo com a Vestas para a compra de 291 aerogeradores que equivalem a 1,31 gigawatt de potência. Foi também o maior acordo comercial para um projeto “onshore” da dinamarquesa – as empresas não divulgaram os valores envolvidos.A crise acontece num momento em que o Brasil vem batendo seguidos recordes no incremento de geração de energia eólica. Somente neste primeiro semestre, a geração de energia a partir da força dos ventos foi responsável por 44,5% do incremento de capacidade instalada do país, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – 160 usinas entraram em operação no período.Marcelo Sá, do Itaú BBA, lembra que a expansão segue sendo reflexo de projetos contratados no contexto da crise hídrica de 2021, em que o preço da energia disparou em função da menor geração das usinas hidrelétricas e da necessidade de acionamento das termelétricas. Porém, desde então, o que se viu foi uma deterioração das margens do setor.
Mostrar mais