Suzana Inhesta / Agência Leia
São Paulo, 11 de setembro de 2008 - Com a continuação do aperto monetário,
com altas sucessivas da taxa básica de juros ontem à noite, o Comitê de
Política Monetária (Copom) decidiu (desta vez sem unanimidade) por elevar a
Selic em 0,75 ponto percentual, de 13% para 13,75% ao ano - e uma provável
desaceleração do crescimento da economia brasileira, os papéis das empresas de
consumo e varejo vão ser afetados. De acordo com analistas consultados pela
Agência Leia, as empresas que comercializam bens de consumo duráveis sofrerão
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Suzana Inhesta / Agência Leia
São Paulo, 11 de setembro de 2008 - Com a continuação do aperto monetário,
com altas sucessivas da taxa básica de juros ontem à noite, o Comitê de
Política Monetária (Copom) decidiu (desta vez sem unanimidade) por elevar a
Selic em 0,75 ponto percentual, de 13% para 13,75% ao ano - e uma provável
desaceleração do crescimento da economia brasileira, os papéis das empresas de
consumo e varejo vão ser afetados. De acordo com analistas consultados pela
Agência Leia, as empresas que comercializam bens de consumo duráveis sofrerão
mais com esse cenário, já que os alimentos, itens de primeira necessidade do
consumidor, não sairão do orçamento das famílias. Porém, alguns especialistas
afirmam que há muita especulação de mercado e que os desempenhos dessas ações
também dependerão da apresentação de resultados financeiros favoráveis nos
próximos trimestres.
O analista Peter Ho, da Planner Corretora, estimava aumento de 0,50 ponto
percentual na taxa Selic e prevê crescimento do PIB de 4% para 2008 e em torno
de 3% para o ano que vem. Diante desse cenário, ele acredita que os papéis do
setor mais prejudicados serão de empresas que vendem seus produtos por meio de
financiamentos, como B2W (BTOW3), Lojas Americanas (LAME4) e Globex (GLOB3).
"Um aperto no orçamento pode ter peso na decisão de compra do consumidor, que
priorizará o consumo de alimentos e desistirá de produtos de financiamento a
longo prazo e que tenham juros, como eletrodomésticos, carros e imóveis",
explicou.
Diante disso, ações como as preferenciais do Pão de Açúcar (PCAR4), as
preferenciais da Sadia (SDIA4) e as ordinárias da Perdigão (PRGA3) não seriam
ser muito pressionadas. "No caso de Pão de Açúcar, os ganhos virão com os
resultados positivos das medidas positivas adotadas na reestruturação. Talvez
tenha impacto nas vendas de produtos não-alimentícios, por conta de mudança de
hábito do consumidor. Entre as empresas do setor, esse papel tem característica
defensiva."
Para lojas de vestuário, Ho prevê que as empresas sofrerão com esse
cenário, mas com menos intensidade. "O consumidor também separa uma parte do
orçamento para o vestuário e higiene pessoal. Para roupas, principalmente em
mudanças de estação e alterações de tamanho. Portanto, as vendas não cairão
tanto". O analista citou o caso de Lojas Renner. Para ele, o papel continuará
apresentando bom desempenho, porque os investidores aguardarão resultados com
compra da Leader. "Com a rede varejista, a Renner entrou num segmento
complementar ao dela (de baixa renda), e isso é visto como uma notícia positiva,
o que traz uma perspectiva melhor para a companhia", comentou.
Em relação à Natura, trata-se de uma empresa que vem passando por
dificuldades, segundo o analista. "O mercado interno de cosméticos já está
saturado e a concorrência está muito grande. A criação das subsidiárias na
Espanha e Holanda pode ser interpretada como uma preparação da entrada de um
player estrangeiro no grupo. Com isso, os papéis continuam sendo penalizados."
A SLW Corretora concorda com o especialista e acha que os papéis da B2W
(BTOW3) serão os mais prejudicados, já que podem refletir uma possível queda nas
vendas devido ao juros altos a maioria de seus produtos exige pagamento em
parcelas e também em razão de um encarecimento dos preços dos itens por causa
da valorização do dólar.
A corretora previa aumento de 0,75 ponto percentual na taxa Selic e até o
final do ano espera que o percentual chegue a 15,25%. Para 2009, aguarda uma
redução da taxa. Em relação ao PIB, a SLW espera crescimento de 4,9% neste ano.
Outras ações que serão prejudicadas por esse cenário, citadas pelo
especialista, são as ordinárias da Positivo Informática (POSI3). "A compra de
computadores é feita por financiamentos mais longos e um dólar valorizado
encarece o preço do produto. Além disso, esse setor possui uma concorrência
muito grande", justificou.
Já a gerente de pesquisa do BB-Investimentos, Marianna Waltz, alertou para
o fato de haver muita especulação no mercado, o que influencia as ações do
setor. "Uma taxa de juros alta aliada à desaceleração do mercado, com um menor
ritmo de consumo, pode sim influenciar negativamente nos papéis dessas empresas.
Mas há muita especulação de mercado, o que atrapalha o desempenho das ações.
Acredito que uma recuperação acontecerá quando as expectativas do mercado para a
inflação, apresentadas pelo boletim Focus, do Banco Central, convergirem para o
centro da meta 4,5% ou num patamar confortável. Com isso, o Copom pode parar
de aumentar os juros e teremos uma situação mais confortável para o setor",
argumentou Marianna.
Uma outra analista do setor, que não quis se identificar, acredita que os
papéis vão reagir conforme os resultados que as companhias apresentarão neste
terceiro trimestre. "Uma eventual desaceleração da economia e alta de juros é
ruim para todos, mas temos de aguardar os balanços financeiros do terceiro
trimestre para montarmos um cenário mais real. Eu sou otimista, creio que os
números estarão em linha com o mostrado no trimestre anterior."
Para essa analista, as Lojas Americanas, por exemplo, têm tudo para
apresentar um bom resultado, pois possui presença relevante no mercado. "O que
incomoda os investidores é que a companhia não é muito aberta, transparente com
relação aos seus números. Em cada balanço aparece um item que atrapalha o bom
desempenho no período no último foi a financeira", observou. Já em relação à
controlada, a B2W, a expectativa é de resultados cada vez melhores.
Para Sadia e Perdigão, a previsão é de que as empresas de alimentos
continuem apresentando bons resultados em 2008 - e em 2009, se houver a redução
de custo dos grãos e a abertura de mercados. Para o Pão de Açúcar, "com a
entrada do [Cláudio] Galeazzi no comando do grupo promovendo uma reestruturação
baseada em redução de custos e aumento de produtividade de lojas, continuaremos
observando uma performance boa de vendas e que parece que pode ser
sustentável", diz ela. "Porém, a concorrência ainda é grande, principalmente
no atacarejo [jargão usado para se referir a empresas que atuam no atacado e no
varejo]."
Ontem, as ações preferenciais da Lojas Americanas (LAME4) encerraram o
pregão da BM&FBovespa em alta de 3,67%, a R$ 9,59. As ordinárias da B2W (BTOW3)
avançaram 2,48%, a R$ 53,30, enquanto as da Lojas Renner (LREN3) apreciaram
1,94%, a R$ 27,30, e as preferenciais do Pão de Açúcar (PCAR4) tiveram alta de
1,35% a R$ 33,65. Já os papéis das empresas de alimentos Sadia (SDIA4) e
Perdigão (PRGA3) tiveram altas, respectivamente, de 5,46%, a R$ 10,80, e 5,60%,
a R$ 41,61.
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