Entrevista
“O Brasil é virgem em petróleo e merece cinco Petrobras”
Ricardo Galuppo, Nivaldo Souza e Ricardo Rego Monteiro
10/08/11 13:21
"Só 4% das bacias costeiras do Brasil são exploradas. O país ainda é virgem em exploração de petróleo. O Brasil é maior do que a Petrobras"
Eike Batista reforça interesse em arrematar novas reservas no 11º leilão da ANP, em novembro, e assegura que não venderá parte de sua petrolífera, a OGX, para financiar a exploração de 34 blocos de óleo.
A Petrobras precisa de concorrentes porque o Brasil é grande demais ape...
Entrevista
“O Brasil é virgem em petróleo e merece cinco Petrobras”
Ricardo Galuppo, Nivaldo Souza e Ricardo Rego Monteiro
10/08/11 13:21
"Só 4% das bacias costeiras do Brasil são exploradas. O país ainda é virgem em exploração de petróleo. O Brasil é maior do que a Petrobras"
Eike Batista reforça interesse em arrematar novas reservas no 11º leilão da ANP, em novembro, e assegura que não venderá parte de sua petrolífera, a OGX, para financiar a exploração de 34 blocos de óleo.
A Petrobras precisa de concorrentes porque o Brasil é grande demais apenas para ela.
A provocação de Eike Batista, controlador do grupo EBX, mostra a disposição do empresário em disputar o 11º leilão de blocos da Agência Nacional de Petróleo (ANP), em novembro, com a sua OGX. "Os lugares em que vamos entrar serão a surpresa do dia", diz, fazendo mistério sobre as áreas costeiras onde quer avançar.
Concessionária de 34 blocos de óleo e gás, cinco deles na Colômbia, a OGX deve iniciar produção no fim de outubro no Waimea (na Bacia de Campos), onde vai operar o FPSO OSX-1, primeiro de quatro navios-plataformas importados pela companhia. A OGX promete produzir com custo por barril 50% menor que o da Petrobras. "Ela produz o barril por US$ 35. Eu vou produzir por menos de US$ 18", diz.
A estimativa foi mantida mesmo com a perda de valor de mercado do grupo, que ocorreu nos últimos dias, com as turbulências provocadas pelo rebaixamento de rating dos Estados Unidos e pela crise na Europa.
O empresário aponta o caixa de US$ 10,8 bilhões do EBX, sendo US$ 5 bilhões na OGX, como hedge de seus negócios. E projeta uma geração de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) de US$ 13 bilhões em 2015, quando a produção da petrolífera será de 730 mil barris diários.
Os números, segundo ele, tornam infundados os rumores de que venderia parte da companhia para financiar a produção. "A OGX não está à venda".
Integrante da última lista dos dez mais ricos do globo, segundo a revista "Forbes", o empresário afirma que a desconfiança do mercado sobre sua capacidade de executar os muitos projetos do EBX se deve ao desconhecimento de sua trajetória na mineração de ouro. "Eu construí nove minas de ouro de 1980 a 2000, que valem US$ 20 bilhões", diz.
O empresário garante saber o custo de perder um ativo de peso para "pagar a conta de outros projetos". Em 2008, vendeu o sistema Minas-Rio para a mineradora britânica Anglo American por US$ 5,5 bilhões.
"Eu tentei comprar o negócio de volta, pagando o mesmo valor mais os juros, mas a Anglo recusou", diz. "Essa mina vale US$ 30 bilhões hoje".
A venda de parte das reservas de seu braço minerador, a MMX, alavancou o projeto do Superporto do Açu, no Norte do Rio de Janeiro. O maior complexo porto-industrial privado em construção nas Américas ganhou destaque com a entrada das siderúrgicas Wisco e Techint.
O aço é essencial para Batista construir a sua "Embraer do mares", como ele chama o estaleiro OSX. Nos próximos dez anos, a meta é fazer o complexo atrair US$ 40 bilhões em aportes de terceiros. Entre eles, uma fábrica de motores a diesel.
"O Açu é um polo industrial pesado que vai ter produtos de maior valor agregado, como componentes para a indústria offshore", afirma Batista.
O mercado o vê como um hábil engenheiro financeiro, mas tem dúvidas de como será o Eike empresário produtivo. Como o senhor encara essa desconfiança?
Isso acontece porque eu nunca falei muito da minha trajetória até 2000. Eu construí nove minas de ouro de 1980 a 2000. Cresci fora do país, com uma mina no Chile, no deserto do Atacama, e três minas no Canadá, no frio da tundra. Essa história é como se fosse um vácuo, ninguém conta. Criei minas que valem US$ 20 bilhões e ganhei US$ 1 bilhão. Mais de 80% dessas minas continuam funcionando.
Eu tirava uma grama de ouro de uma tonelada de cascalho. Aí, criei um equipamento alimentado por retroescavadeira, que separava o ouro. Eu quase morri na implantação em Alta Floresta, no Mato Grosso, e gastei quase todo o meu dinheiro.
Mas, quando essa geringonça começou a funcionar, comecei a ganhar US$ 1 milhão por mês. Eu nunca falei disso sabe por quê? Porque diziam que, se eu falasse de ouro, me sequestrariam.
O EBX está pautado em setores da indústria fóssil, como carvão, minério e petróleo...
A gente precisa desse mundo antigo. Só que eu vou fazê-lo no estado da arte. O nosso estaleiro vai ser mais moderno que o da Huyndai (parceira da OSX) na Coreia do Sul. Dizer que eu não estou na tecnologia de ponta não está certo. Não vou fazer chip, vou fazer um avião que voa no mar (navios-plataformas da OSX). Será uma linha de montagem de um gigante dos mares.
O que tem de mais espetacular, que nós brasileiros temos de ficar orgulhosos, é que compramos todo o know how (conhecimento) dos sul-coreanos, com 100% de transferência de tecnologia. Vamos ter de 50 a 60 sul-coreanos por cinco anos aqui no Brasil e teremos o ITN (Instituto Tecnológico Naval), que está sendo criado para incorporar esse conhecimento ao patrimônio brasileiro.
Por isso, eu chamo a OSX de Embraer dos mares. O estaleiro estava indo para Santa Catarina e depois mudamos para o Rio de Janeiro (no Porto do Açu, em São João da Barra). Sorte faz parte dessa conspiração toda. A gente sempre teve muita paciência para não fazer ‘puxadinho'. Nós estamos fazendo um estaleiro no estado da arte mundial, mas o Brasil tem duas outras companhias que podiam induzir esse tipo de logística...
Petrobras e Vale?
Sim. A encomenda é o lastro de tudo isso. O presidente Lula atirou numa coisa sem imaginar o que estaria criando hoje. Com a obrigação do conteúdo nacional e, obviamente, o tamanho da nossa encomenda (da OGX à OSX), foi possível sonhar tão grande.
Quando você combina isso com as descobertas de petróleo que fazem parte da cultura de risco do grupo, de pesquisa e de engenharia no estado da arte, vira essa coisa maluca. As pessoas têm dificuldade de entender que nós fomos lá fora pegar know how para fazer um polo gigante. O estaleiro da OSX vai ser a oficina do pré-sal.
Durante mais de um ano, a OSX insistiu em ir para Santa Catarina. Por que?
Uma das razões que pesou desde o início a favor de Santa Catarina foi a mão de obra qualificada. O dono de uma fábrica de barcos de suprimento me disse que a mão de obra lá era melhor que a americana. A região já tinha estaleiros, então, por que não lá? (O projeto migrou para o Rio de Janeiro após pressão popular contra o impacto ambiental do empreendimento).
Mas, tudo bem, ainda mais quando você vê a capacidade do Rio, com 180 mil técnicos preparados pelo Prominp (Plano Nacional de Qualificação Profissional), e percebe que o estado também tem potencial.
A OSX vai participar das licitações de plataformas da Petrobras?
Se ela quiser, isso vai acontecer. Ninguém vai conseguir competir com a gente. Vamos ter equipamentos entre 30% e 40% mais baratos. Das plataformas que estão sendo licitadas, tem gente que montou estaleiro virtual.
Esses caras uma hora não vão conseguir fazer e vão passar para cá, embora a OSX tenha sido desenhada para o grupo EBX.
A OGX tem 34 blocos no Brasil e na Colômbia. A empresa terá capital para explorá-los?
A produção no Waimea começa no final de outubro. Essa planta vai gerar US$ 1 bilhão para a OGX em 2012. Em 2013, gera US$ 3 bilhões. Em 2014, US$ 6 bilhões e, em 2015, acima de US$ 13 bilhões. Quando os bancos virem isso, eles perceberão que é uma máquina geradora de caixa lastreada em reservas de 40 anos.
Alguns analistas apostam na venda de parte da OGX para pagar a exploração.
Eles têm de conversar comigo. A OGX não está à venda. Não há essa hipótese. Modéstia à parte, não existe no mundo uma pessoa com 62% de uma empresa de petróleo desse tamanho.
Ela tem 10 bilhões de barris, sem contar todo potencial do Maranhão. Temos os blocos onshore (terra) na Colômbia, que tem 1,1 bilhão de barris e, em números internos, acreditamos que o volume possa ser cinco vezes maior. Temos muitos ativos não explorados. O potencial é gigante, e ainda vamos participar da 11ª rodada de leilão da ANP.
A OGX se consolidará nas áreas onde já está ou esse leilão será para avançar sobre a costa?
Temos uma taxa de acerto de 90% em tudo que furamos. Então, os lugares em que vamos entrar é algo que precisa ser guardado a sete chaves. Senão, atrai um monte de concorrentes.
Aonde entraremos será a surpresa do dia. Só 4% das bacias costeiras do Brasil são exploradas. O Brasil ainda é virgem em exploração. O país é maior do que a Petrobras. O Brasil merece umas cinco Petrobras.
Quanto pretende gastar no leilão da ANP?
O suficiente (risos).
Mostrar mais