Na reunião encerrada no dia 04 de Março de 2015, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu pela elevação da Taxa Selic em 0,50%. A decisão foi unânime e representa o quarto aumento consecutivo da taxa básica de juros da economia brasileira, elevada de 12,25% para 12,75% ao ano. Esta foi a segunda reunião do Copom em 2015. Também foi a segunda reunião sob a égide da nova equipe econômica, liderada por Joaquim Levy (Ministro da Fazenda) e Nelson Barbosa (Ministro do Planejamento).
Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas fixadas pelo governo para a inflação.
Confira abaixo a Ata da 189ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que culminou com a elevação da Taxa Selic para 12,75% ao ano:
Data
03/03/2015 e 04/03/2015
Local
Sala de reuniões do 8º andar (03/03/2015) e do 20º andar (04/03/2015) do Edifício-Sede do Banco Central do Brasil – Brasília – DF
Horário de início
16h10 (03/03/2015) e 16h47 (04/03/2015)
Horário de término
19h44 (03/03/2015) e 19h56 (04/03/2015)
Presentes
Membros do Copom: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim e Sidnei Corrêa Marques
Chefes de Departamento: Bruno Walter Coelho Saraiva (Departamento de Assuntos Internacionais), Flávio Túlio Vilela (Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos), Eduardo José Araújo Lima (Departamento de Estudos e Pesquisas), João Henrique de Paula Freitas Simão (Departamento de Operações do Mercado Aberto), Márcio Barreira de Ayrosa Moreira (Departamento das Reservas Internacionais), Renato Jansson Rosek (Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais) e Tulio José Lenti Maciel (Departamento Econômico)
Demais participantes: Gustavo Ênio Falcão Freire (Assessor de Imprensa), Otávio Ribeiro Damaso (Chefe de Gabinete da Presidência) e Vera Maria Schneider (Coordenadora do Departamento Econômico)
Evolução recente da economia
1) A inflação medida pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 1,24% em janeiro, 0,46 ponto percentual acima da registrada no mês anterior. Dessa forma, a inflação acumulada em doze meses atingiu 7,14% em janeiro (5,59% em janeiro de 2014), com os preços livres aumentando 7,01% (6,65% em janeiro de 2014), e os administrados, 7,55% (2,15% em janeiro de 2014). Especificamente sobre preços livres, os de itens comercializáveis aumentaram 5,57% em doze meses até janeiro (5,64% em janeiro de 2014), e os de não comercializáveis, 8,29% (7,56% em janeiro de 2014). Note-se ainda que os preços no segmento de alimentos e bebidas aumentaram 8,72% em doze meses até janeiro (7,25% em janeiro de 2014), e os dos serviços, 8,76% (8,26% em janeiro de 2014). Em síntese, as informações disponíveis sugerem certa persistência da inflação, o que se reflete, em parte, na dinâmica dos preços no segmento de serviços.
2) A média das variações mensais das medidas de inflação subjacente, calculadas pelo Banco Central, deslocou-se de 0,66% em dezembro para 0,83% em janeiro, e, assim, a variação acumulada em doze meses atingiu 6,64% (0,57 ponto percentual acima da registrada em janeiro de 2014). Especificamente, o núcleo por dupla ponderação deslocou-se de 0,68% em dezembro para 0,83% em janeiro; o núcleo por exclusão, que descarta dez itens de alimentação no domicílio, bem como combustíveis, de 0,73% para 1,16%; o núcleo por médias aparadas sem suavização, de 0,53% para 0,79%; e o núcleo por médias aparadas com suavização, de 0,49% para 0,74%. Por sua vez, o núcleo por exclusão de monitorados e de alimentação no domicílio deslocou-se de 0,87% para 0,64%. O índice de difusão situou-se em 68,9% em janeiro (2,7 pontos percentuais abaixo do registrado em janeiro de 2014).
3) O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) aumentou 0,67% em janeiro, com variação acumulada em doze meses se posicionando em 4,06% (5,62% em janeiro de 2014). O principal componente do IGP-DI, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), variou 2,28% em doze meses (5,19% em janeiro de 2014), 6,81% no segmento de produtos agropecuários e 0,61% no de produtos industriais. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), segundo componente mais importante do IGP-DI, aumentou 7,65% em doze meses até janeiro (5,61% em janeiro de 2014); e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), componente de menor peso no IGP-DI, aumentou 6,99% (8,33% em janeiro de 2014), em parte, reflexo de pressões de custos de mão de obra, que variaram 8,15% no período. Por sua vez, o Índice de Preços ao Produtor/Indústria de Transformação (IPP/IT), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), avançou 0,56% em dezembro, com variação em doze meses de 4,42%. O Copom avalia que os efeitos do comportamento dos preços no atacado sobre a inflação ao consumidor dependerão das condições atuais e prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória da inflação.
4) O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) incorpora estimativas para a produção mensal dos três setores da economia, bem como para impostos sobre produtos, e constitui importante indicador coincidente da atividade econômica. Em dezembro de 2014, o IBC-Br avançou 0,65% em relação a dezembro de 2013 e, ajustado sazonalmente, recuou 0,55% em relação a novembro de 2014. O Purchasing Managers’ Index (PMI) composto para o Brasil se deslocou de 49,2 em janeiro para 51,3 em fevereiro, ultrapassando o nível de 50,0 pela primeira vez desde setembro de 2014. Por sua vez, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), recuou 4,9% em fevereiro, atingindo o menor valor da série histórica iniciada em setembro de 2005. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 3,4% em fevereiro, enquanto o Índice de Confiança de Serviços (ICS) recuou 5,4% em fevereiro, levando o índice ao menor nível da série histórica, iniciada em junho de 2008. No que se refere à agricultura, o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE, projetava, em janeiro, crescimento de 4,4% na produção de grãos em 2015, em relação à de 2014.
5) A atividade fabril avançou 2,0% em janeiro, após recuar 3,2% em dezembro, de acordo com a série livre de influências sazonais, divulgada pelo IBGE. Assim, o setor industrial acumula, nos últimos doze meses, variação negativa de 3,5% em janeiro de 2015. Na série sem ajuste sazonal, a produção industrial recuou 5,2% em janeiro, em relação ao mesmo mês do ano anterior, com resultados negativos nas quatro categorias de uso e em 20 dos 26 ramos pesquisados. De acordo com dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o faturamento real da indústria de transformação recuou 2,6% de dezembro para janeiro, de acordo com a série livre de influências sazonais, e encontra-se em nível 8,4% menor do que o registrado em janeiro de 2014. O indicador PMI do setor industrial, por seu turno, recuou de 50,7 em janeiro para 49,6 em fevereiro.
6) Entre as categorias de uso, comparando-se a produção de dezembro e janeiro, de acordo com a série com ajuste sazonal, o setor de bens de capital (9,1%) assinalou a expansão mais acentuada, seguido pelo setor de bens intermediários (0,7%). Por outro lado, bens de consumo duráveis (-1,4%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,3%) registraram resultados negativos em janeiro de 2015. Comparando-se a produção de janeiro com a do mesmo mês de 2014, houve redução nas quatro categorias: bens de capital (-16,4%), bens de consumo duráveis (-13,9%), bens de consumo semi e não duráveis (-5,3%) e bens intermediários (-2,4%).
7) A taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) situou-se em 5,3% em janeiro, com aumento de 1,0 ponto percentual. em relação ao mês anterior e de 0,5 ponto percentual em relação a janeiro de 2014. Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram redução de 81,8 mil postos de trabalho formais em janeiro, pior resultado para o mês desde 2009. Em suma, dados disponíveis indicam estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho, embora, na margem, indiquem processo de acomodação.
8) De acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE, o volume de vendas do comércio varejista restrito avançou 0,3% em dezembro, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Por sua vez, o volume de vendas do comércio ampliado, que inclui o setor automobilístico e o setor de materiais de construção, diminuiu 2,2% em dezembro, na mesma base de comparação. As variações mensais foram de -2,6% e de -3,7%, respectivamente, de acordo com as séries dessazonalizadas. Em doze meses, a taxa de crescimento do comércio restrito alcançou 2,2%, e a do ampliado, -1,7%, com retração em 4 dos 10 segmentos pesquisados. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM), medido pela FGV, recuou 8,8% em fevereiro, atingindo o menor nível da série histórica. O Copom avalia que a trajetória do comércio continuará sendo influenciada pelas transferências governamentais, pelo ritmo de crescimento da massa salarial real e pela expansão moderada do crédito.
9) O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação, calculado pela FGV, sem ajuste sazonal, alcançou 80,5% em janeiro e, na série dessazonalizada, 82,0%. Entre as categorias de uso da indústria, de acordo com as séries com ajuste sazonal, as que mostram Nuci mais elevado são as de material para construção (87,0%) e as de bens intermediários (84,7%), seguidas pelas de bens de consumo duráveis (80,1%), de consumo não duráveis (78,8%) e de capital (75,5%). Por sua vez, a absorção de bens de capital recuou 10,3% no período de doze meses encerrado em dezembro.
10) O deficit da balança comercial atingiu US$3,8 bilhões em doze meses até fevereiro de 2015. Esse resultado adveio de exportações de US$ 218,9 bilhões e de importações de US$ 222,7 bilhões, com recuo de 9,7% e de 7,6%, respectivamente, em relação ao acumulado até fevereiro de 2014. Por sua vez, o deficit em transações correntes acumulado em doze meses atingiu US$ 90,4 bilhões em janeiro de 2015, equivalente a 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Já os investimentos estrangeiros diretos totalizaram US$ 61,3 bilhões na mesma base de comparação, equivalentes a 2,8% do PIB.
11) No que se refere à economia global, indicadores antecedentes apontam, no horizonte relevante para a política monetária, crescimento compatível com a tendência em importantes economias maduras e emergentes. Particularmente sobre a Europa, em que pesem ações de política monetária recentes, altas taxas de desemprego, aliadas à consolidação fiscal e a incertezas políticas, constituem elementos de contenção de investimentos e do crescimento. Em relação à política monetária, de modo geral, nas economias maduras e emergentes prevalecem posturas acomodatícias. As taxas de inflação permanecem em níveis baixos nas economias maduras e em níveis relativamente elevados nas emergentes.
12) O preço do barril de petróleo do tipo Brent avançou desde a reunião anterior do Copom e atingiu patamares próximos a US$ 60,00. Cabe ressaltar que a complexidade geopolítica que envolve o setor de petróleo tende a acentuar o comportamento volátil dos preços, que é reflexo, também, da baixa previsibilidade de alguns componentes da demanda global e oferta. Desde a reunião anterior do Copom, os preços internacionais das commodities agrícolas avançaram 0,34%, enquanto os preços das metálicas recuaram 9,14%. Por sua vez, o Índice de Preços de Alimentos, calculado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), recuou 14,0% em doze meses até fevereiro de 2015.
Avaliação prospectiva das tendências da inflação
Implementação da política monetária
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