A preferência do investidor por títulos e ações que lhe são mais familiares é uma característica há muito tempo estudada quando se analisam os resultados das carteiras de investimentos. Uma pesquisa da Indiana University de 2012, “No Place Like Home: Familiarity in Mutual Fund Manager Portfolio Choice”, encontrou evidências de que os gestores de fundos tendem a investir mais em empresas dos seus estados de domicílio. Em estudo mais recente, de 2014, a americana Vanguard mostrou que os investidores de fundos possuem apenas 27% das ações investidas além das fronteiras dos EUA.

Esse fenômeno não ocorre apenas nos EUA. No Canadá, na Austrália, na Inglaterra e também no Brasil, os investidores preferem aplicar em ativos de seus próprios países, podendo deixar passar oportunidades além de suas fronteiras.

A maior representatividade dos títulos e ações nacionais em uma carteira ainda é uma questão mal resolvida em finanças. Por que os investidores não aplicam a estratégia de diversificação global, apesar dos muitos estudos que comprovam ganhos adicionais quando são incluídos ativos estrangeiros?

 

Barreiras

Restrições de fluxo de capital determinadas pelo governo, impostos e altos custos das transações explicam parte desse viés. Embora muitos dos obstáculos tenham diminuido substancialmente, a propensão para investir nos ativos domésticos continua forte.

 

Quando os recursos atravessam os limites políticos e monetários ainda estão sujeitos a flutuação do câmbio, regulação, cultura, taxação e risco soberano.São fatores que também explicam o desencorajamento a investir no exterior. Alguns estudos sustentam que as diferenças informacionais entre investidores domésticos e estrangeiros são a principal força por trás do viés doméstico nos investimentos.  

 

Investidores se sentem mais confortáveis em relação a empresas locais ou sobre aquelas que costumam ouvir falar. Os agentes do mercado local, como bancos, gestoras e corretoras, e até mesmo o  governo incentivam os investimentos domésticos.

 

Brasil – situação econômica

No atual cenário econômico e político do Brasil, diversificar com ativos estrangeiros pode adicionar valor aos investimentos. E, principalmente, é uma forma de minimizar o risco. Não há perspectivas de mudanças no curto prazo, tampouco para o longo prazo temos sinais de melhoras. O quadro de recessão sugere muita cautela.

 

Apesar das muitas barreiras ainda existentes e que restringem o investimento no exterior, as novas regras da indústria de fundos abriram as portas do mundo para os investidores. Desde o final de 2015, já é possível ter acesso a fundos que investem o total do patrimônio no mercado internacional.

Apesar dos valores das aplicações desses fundos que investem no exterior variarem entre R$ 25.000 e R$ 50.000, o investidor precisa assinar o termo de enquadramento de investidor qualificado e, para isso, precisa confirmar possuir aplicações financeiras no valor igual ou superior a R$ 1 milhão. Esse valor ainda é bastante significativo, porém anos atrás era preciso ter muito mais para chegar ao mercado estrangeiro. O acesso era ainda mais restrito.  

 

Mais dados importantes

 

É preciso relativizar o tamanho do Brasil no mundo. A contribuição do PIB do Brasil para o crescimento global é de 3% e está em queda. O mercado de renda fixa brasileira (títulos de dívida pública e privada) representa 2% do total global, e o de ações é ainda menor, representa 1%. O índice MSCI Brazil, indicador utilizado pelos investidores estrangeiros para acompanhar o mercado de ações brasileiro, é composto por 60 ações. Para monitorar o mercado de ações americano há diversos índices, sendo o principal deles o S&P 500, que mede o desempenho de 500 empresas. Ou seja, há muito além das nossas fronteiras.

 

Mas como saber em que ativos estrangeiros investir, uma vez que existem muitas opções e informações importantes para se levar em conta na tomada de decisão de diversificação global? Analisar esse universo não é tarefa fácil.

                                                         

Para orientar os investidores na seleção dos ativos em busca de diversificação global, listei alguns pontos que podem ajudar na escolha:

Ações de empresas americanas

É verdade que o mercado de ações é arriscado, mas com uma diversificação bem orientada é possível obter altos retornos. Uma vez que mais da metade do mercado de ações do mundo é representada por ações dos EUA (53%), aplicar em uma carteira de ações desse país ajuda a tornar a diversificação global mais eficiente.  

 

As ações americanas subiram muito nos últimos quatro anos, mas se a economia continuar crescendo ao passo de 2% a 2,5% ao ano, esse mercado ainda tem um bom potencial de valorização.

Ações de empresas europeias

As ações europeias representam 16% do mercado acionário total, sendo o segundo maior mercado do mundo.

 

Os países da zona do euro promoveram as reformas necessárias para equilibrar suas contas e estão conseguindo crescer consistentemente nos últimos trimestres. Espanha e Itália seguem em trajetória de recuperação. Europa deve seguir bem, nada exuberante, mas com crescimento entre 1 e 1,5%.

 

O Banco Central Europeu (BCE) ainda está estimulando a economia da região e, se tudo continuar como o planejado, as empresas passarão a apresentar bons resultados nos próximos anos, e os preços de suas ações tendem a se valorizar.  

 

Renda fixa global

É verdade que hoje não tem renda fixa em nenhum país pagando taxas de dois dígitos como no Brasil. Muito pelo contrário, países como Japão, Dinamarca, Suécia e Suíça estão com politicas de taxas de juros negativas.

 

Todavia, uma vez que o mercado de títulos da dívida pública e privada representa apenas 2% do mercado mundial, é possível encontrar boas oportunidades nesse mercado também.

 

Proteção cambial (ou hedge)

O investimento no exterior está sujeito à variação cambial da moeda do país do investidor. Se o fundo não faz hedge cambial, a rentabilidade obtida será o resultado da variação dos ativos investidos no exterior mais ou menos a variação cambial. Por exemplo, um fundo que invista em ativos denominados em dólares. Se o dólar se valorizar frente ao real no periodo que esse dinheiro estiver aplicado, os ganhos serão ainda maiores. Porém, se o dólar depreciar, o resultado obtido no exterior será impactado negativamente e, dependendo da variação, resultará em rentabilidade negativa. Em cenários de moeda estável, o retorno será uma função do desempenho dos ativos no exterior.

 

Quando o fundo faz hedge cambial, o retorno é única e exclusivamente uma função do desempenho dos ativos no exterior e ainda acrescido da variação do CDI.

 

Gestor experiente

Outra decisão muito importante para investir no exterior através de fundos é a seleção do gestor.

 

As instituições com forte presença no mercado internacional, com escritórios em vários países, possuem especialistas em diversas áreas, o que facilita o acesso a informações e a oportunidades com alto potencial de valorização. Assim, conseguem ser rápidas nas tomadas de decisões e nas mudanças de posições, para obter retornos consistentes.
Concluindo, com a evolução do mercado de fundos ficou mais fácil implantar uma estratégia de diversificação global. Mesmo para quem não tem os recursos necessários, também é possível aplicar em fundos multimercado com uma gestão ativa no mercado global para minimizar o risco e  alcançar um bom retorno.