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Inércia

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Maior recessão da história, recuo do consumo, do investimento, quebra da indústria, elevada inadimplência e crescentes desemprego, déficits primário e nominais. Não, nem tão cedo, a economia brasileira entrará no equilíbrio e o ajuste tampouco ocorrerá automaticamente. Quem quer que fique no poder nos próximos meses dificilmente terá legitimidade. Tanto Dilma quanto Temer contam com elevada rejeição da população e os políticos estão desacreditados. A comunidade internacional vê a situação brasileira como estapafúrdia, o que não é à toa. O Brasil foi a promessa de futuro e se perdeu em meio a erros básicos. Sair da inércia negativa requer mais do que troca de ministro, presidente ou discursos.

O país, que entre 2008 e 2013 registrou alta da renda per capita de 12%, agora devolve a conquista. De acordo com as projeções do FMI, entre 2015 e 2017, a economia brasileira deve encolher 8%, situação muito pior do que a retração vivida nos anos 1980, conhecidos como a “década perdida” que, não só pela seleção de 1982, hoje pode deixar saudades. Nem após a crise de 1929, única ocasião em que a economia brasileira registrou recuo por dois anos consecutivos (1930 e 1931), a recessão foi tão forte.

A intervenção de estímulo à demanda feita por meio do aumento do déficit fiscal, que deu certo entre 2008 e 2013, gerou uma bolha de demanda e fez o país viver além de suas possibilidades. Chega, agora, a conta. As famílias estão endividadas e não conseguem mais consumir. A bolha estourou. O desemprego está acima de 10% e a taxa continua crescente, o que leva à queda da renda, piora do consumo e a mais desemprego. Empresas não vendem, não produzem e não empregam. Se as pessoas não têm emprego, não consomem. O cachorro corre atrás do próprio rabo.

Para completar, os escândalos de corrupção levaram à crise das grandes corporações, o que contamina a cadeia. Até então, incorporadoras movimentavam uma grande cadeia produtiva. Segundo recente levantamento da CNI, a indústria perdeu participação na geração de riqueza na maioria dos estados entre 2010 e 2013. Dentre as 27 unidades da Federação, a produção industrial em relação ao PIB estadual recuou em 23. A crise e a falta de competitividade levaram a participação da indústria na economia nacional a patamar semelhante ao da década de 1940.

Do lado fiscal, a deterioração das contas públicas levará anos para ser revertida, o que elevará a dívida pública bruta para mais de 90% do PIB em 2021, segundo o FMI. Os déficits primários continuarão até 2019, o que, aliado aos juros pagos, levam ao efeito bola de neve. Para evitar o crescimento desenfreado da dívida, seria necessário um superávit de 2%, mas hoje o país registra um déficit de cerca de 2%. Ou seja, o corte das contas públicas precisa ser muito elevado.

Somente entre 2014 (ano eleitoral) e 2015, marcado pela tentativa do ex-ministro Joaquim Levy de estancar o problema – e sua consequente queda –, a dívida pública cresceu mais de 10%. Para 2016 e 2017, sem se importar com quem fica no poder, o FMI não vê mudança fiscal. Ao contrário, a previsão é de um déficit de 1,7% do PIB neste ano e de 1,4% no próximo. No ano eleitoral (2018), as contas ficarão negativas em 1% e no primeiro ano do novo presidente será de 0,3%, um sinal de que o FMI espera uma mudança mais radical de política econômica. Para a entidade, somente em 2020 haverá um superávit, mesmo que modesto, de 0,9% do PIB.

A realidade bate à porta. O país sempre teve um crescimento pífio, excetuando expansões artificiais promovidas por militares e nos últimos anos, curiosamente, por quem foi perseguido pelo regime. A primeira dessas experiências resultou em inflação absurda e calote internacional. A outra, na recessão atual, quebradeira, endividamento das famílias e dominância fiscal que ameaça a estabilidade econômica que deu ao país uma moeda. O ganho social conquistado antes vai pelo ralo. Viver de cheque especial tem consequências.

Ana Borges é diretora da Compliance Comunicação

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