A gigante brasileira de alimentos JBS (BOV:JBSS3) anunciou ontem uma importante reestruturação dos seus negócios internacionais com a criação de uma companhia no exterior. A recém-criada JBS Foods International terá sede na Irlanda, e vai incorporar todas as unidades fora do Brasil além da brasileira Seara. A nova empresa será listada na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e terá recibos de ações estrangeiras (Brazilian Depositary Receipts, BDR, na sigla em inglês) negociados no Brasil. A notícia foi bem recebida pelo mercado, e as ações ordinárias da JBS sobem 20%, para R$ 10,52.

A JBS Brasil continuará listada na bolsa local, mas apenas com o negócio de carne bovina e biodiesel. Os acionistas, por sua vez, terão direito a ações de ambas as empresas, com base proporcional. Os investidores controladores poderão trocar total ou parcialmente os seus papéis, enquanto os não-controladores terão um limite para essas trocas, o que permitirá à JBS garantir um total de ações em circulação, o chamado free float, de pelo menos 25%, de acordo com as regras do Novo Mercado da Bovespa. 

Valor oculto

Em relatório enviado hoje aos seus clientes, o BTG Pactual considerou que a decisão do frigorífico de dividir as companhias tem o objetivo de liberar o valor oculto do negócio, além de mapeá-lo. A partir dessa análise, o banco de investimentos recomendou a “compra” dos papéis da empresa com preço-alvo de R$ 16.

Para os analistas, dentre as ideias da JBS com a mudança estão: conseguir uma base de investidores mais ampla, a melhora do acesso aos mercados internacionais de capital e dívida com a consequente melhora do custo de capital, uma valorização das unidades estrangeiras do grupo e a proteção das atividades brasileiras com um fluxo de notícias positivo.

Perdas de R$ 5,8 bi com derivativos

Apesar do futuro processo de reorganização da companhia por conta da novidade, o BTG vê enorme potencial no desbloqueio do valor do grupo, o que deverá ofuscar qualquer preocupação. Preocupações essas que já tiveram início hoje com a divulgação de prejuízo de R$ 2,7 bilhões da JBS no primeiro trimestre deste ano, contra lucro de R$ 1,3 bilhão no mesmo período de 2015, pressionado pelas operações de proteção cambial, que custaram R$ 5,8 bilhões.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da empresa foi de R$ 2,1 bilhões, uma queda de 22,5% ante o ano anterior, ao passo que as receitas líquidas da companhia cresceram 29,8% no período, para R$ 43,9 bilhões.