A Carbon Tracker Iniciative, grupo que reúne especialistas financeiros dedicados a analisar e identificar os riscos climáticos no mercado financeiro, divulgou hoje um pesquisa segundo a qual as empresas de petróleo podem criar mais valor a seus acionistas se focarem em projetos de menor custo. Segundo o estudo, os ativos de produção das sete maiores empresas privadas de petróleo e gás do mundo poderiam valer US$ 100 bilhões (R$ 350 bilhões) a mais se elas ajustassem seus planos de investimento com o objetivo de manter o aumento da temperatura média do planeta em até 2 graus Célsius, conforme acertado no Acordo de Paris.

O estudo faz parte de um movimento que envolve os próprios acionistas de petroleiras, para que façam testes de estresse nos projetos de exploração de petróleo usando um cenário de combate ao aquecimento global e de redução do consumo de combustíveis fósseis. A visão é de que esse cenário de aquecimento global e campanhas pela substituição do petróleo tornará inviáveis projetos de maior custo, como é o caso inclusive do pré-sal brasileiro.

De acordo com o estudo, ao ignorar o esforço para controle das emissões de carbono e tocar os projetos no chamado “business as usual”, ou seja, só por seu aspecto financeiro, os investimentos só serão lucrativos se o barril do petróleo custar mais de US$ 120 durante um período significativo de tempo.

O estudo “Sense & Sensitivity: Maximising Value with a 2ºC Portfolio” é o primeiro teste de estresse independente que considera o cenário de meta de limitação do aquecimento global nos projetos novos de produção de gás e petróleo.

Custo mais elevado

O relatório adverte que os projetos que depende de preços altos para o petróleo são mais arriscados e que quando um “prêmio pelo risco dos combustíveis fósseis” é levado em conta, as cotações do barril teriam de atingir níveis sem precedentes, na faixa de US$ 180 por barril, mais que o dobro da projeção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que é de US$ 80 por barril em 2040.

A Agência Internacional de Energia (IEA) coloca médias em menos de US$ 100 o barril para 2040. “Uma simples análise de sensibilidade de carbono mostra que as grandes empresas petrolíferas que buscam volume a qualquer custo podem gerar menos valor para o acionista do que numa abordagem mais disciplinada”, afirma James Leaton, diretor de pesquisa do CarbonTracker.

A pesquisa usou o conceito de um Prêmio sobre o Risco de Combustíveis Fósseis (FFRP) para as empresas que assumem que uma alta demanda futura vai levar à elevação do preço do petróleo por correrem o risco de sancionar projetos de maior risco e menor retorno. Normalmente esses projetos intensivos de maior custo são as areias betuminosas do Canadá, o óleo extra-pesado na Venezuela e alguns projetos em águas profundas, como o pré-sal, no qual se enquadra o pré-sal da Petrobras.

Alerta para a Petrobras

Na semana passada, o Observatório do Clima fez um alerta em carta enviada ao Conselho Diretor da Petrobras (BOV:PETR3) e (BOV:PETR4)alertando que a estatal está criando “problemas para o próprio futuro ao focar seu plano de negócios na exploração do petróleo do pré-sal e ao se desfazer de ativos em energias renováveis e biocombustíveis”. Na visão do Observatório, a maneira como a Petrobras está buscando resolver seu problema de endividamento ao dobrar a aposta nos combustíveis fósseis “equivale ao suicídio comercial, já que a economia e a política internacional começam a indicar que a era do óleo está com os dias contados”.