A crise econômica brasileira é tão profunda que os brasileiros deverão perder cerca de 10% de sua renda de 2015 a 2017, segundo o economista-chefe do Santander, Maurício Molan. “Provavelmente esse será o período mais duro em termos de expansão da renda per capita local da história”, afirmou hoje em reunião do banco com acionistas e analistas em São Paulo.
De acordo com ele, a crise só não será mais complexa do que o período da economia do Brasil de 1981 a 1983, quando então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) Paul Volcker promoveu um aumento cavalar dos juros americanos, de 10,94% para 19,94% ao ano em junho de 1981, inflando as dívidas dos países emergentes e provocando a primeira crise da divida externa. Na época, o Brasil quebrou, junto com outros emergentes, e teve de fazer um forte ajuste interno com grande recessão para obter dólares e pagar seus compromissos externos.
O Titanic da dívida pública, 88% do PIB em 2018
Molan também criticou a trajetória da dívida pública brasileira, chamando o ritmo dos gastos públicos de “perigo real e imediato” para a economia. “Sem uma iniciativa mais forte no sentido (de controlar a dívida), não há retomada de confiança e de investimentos”, diz.
O economista-chefe explica que vê a dinâmica dessa dívida como um Titanic. ”Para reverter esse processo, não basta você virar o leme, você ainda tem uma inércia que vai persistir nos próximos anos, mas quanto mais o país demorar para discutir um ajuste fiscal, mais difícil será fazer a curva do iceberg lá na frente, para desviar do bloco de gelo”.
“Se nada for feito, a dívida bruta do governo passará dos atuais 66% do Produto Interno Bruto (PIB) para algo em torno de 88% em 2018, um ritmo muito forte que restringe o crescimento”, completa.