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Do limão, faremos o quê?

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Recentemente, fui a um restaurante almoçar. Apesar de estar de dieta, depois do prato principal perguntei ao garçom as opções de sobremesa. Ele me ofereceu uma torta de limão desconstruída. Como assim, perguntei. Desconstruída?

Aproxima-se o desfecho do processo de impeachment da presidente Dilma. Uma vez que os juízes (no caso, os Senadores da República) decidam por afastá-la definitivamente (ao que tudo indica será essa a decisão), o que esperar para o país no médio prazo?

Assim como a torta de limão do restaurante, nos últimos dez anos nossa economia foi desconstruída. Depois de alguns anos de governos com vieses mais liberais (inclua-se o primeiro mandato de Lula), optamos por uma receita perversa, mistura de desleixo na administração pública, gestão perdulária de gastos e descompromisso com o tripé macroeconômico.

Como a justiça vem felizmente deslindando nos últimos meses, a ética e a governança foram ultrajadas, por conta de um projeto de perpetuação de poder vergonhoso. A consequência desse quadro nada alvissareiro é que vivemos, nos dias presentes, a pior recessão da nossa história. Para agravar, o desemprego está em alta, e a inflação encontra-se teimosamente acima da meta há vários anos, o que empurrou a taxa de juros para os píncaros. Mas e agora? O que esperar do provável governo Michel Temer?

Há muito o que se fazer na economia. Na verdade, precisamos reescrever o famoso ditado “do limão, a limonada”. Promover um profundo e doloroso ajuste fiscal, com cortes de gastos e reformas constitucionais, sobretudo da Previdência. O problema é que tais medidas são impopulares, mormente num ano eleitoral como este. Como o Congresso comportar-se-á?

Muitos hão de temer (sem trocadilho) por essas medidas indispensáveis, mas que andam um tanto quanto empacadas. A resposta da maioria otimista, até o momento, é que as “coisas” não estão andando com a devida celeridade por causa da questão política. Em sendo assim, o mercado financeiro, conquanto ressabiado, vem antecipando uma melhora de expectativas. O Ibovespa saltou quase 50% em relação ao início de 2016, o real se valorizou mais de 20% e o risco país caiu praticamente pela metade. Agora, a pergunta que não quer calar: até quando vai essa lua de mel do mercado com a equipe econômica de Temer?

O problema central, na minha avaliação, é que a sociedade brasileira precisará fazer uma difícil escolha. Se o país sair ainda mais fraturado desse processo de impeachment do que entrou, vejo dias cinzentos pela frente. Meu principal temor é que haja uma cisão irreversível entre os que simpatizam com o petismo e os que querem vê-lo pelas costas. Nesse sentido, o radicalismo nunca foi bom conselheiro, e a temperatura no país deve subir a níveis preocupantes. Se esse for o cenário a prevalecer, Michel Temer enfrentará dias dificílimos.

Já, se a sociedade como um todo aceitar de forma relativamente tranquila essa mudança no comando do país, por ser inexorável, o Brasil pode se reunificar e não teremos perturbações sociais relevantes, o que nos permitiria uma retomada expressiva da economia a partir de 2017.

Dentre esses dois possíveis cenários, em qual apostar? Do limão, vamos fazer nova torta, ou limonada?

Alexandre Espírito Santo, Economista da Órama e prof. IBMEC-RJ

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