O presente artigo tem o objetivo de desmistificar um dos mais importantes instrumentos para a organização e o planejamento financeiro: o orçamento.
Normalmente. os indivíduos acham que fazer orçamento é uma coisa maçante e que requer uma disciplina que, muitas vezes, não conseguem manter. Em grande parte, essa visão decorre do fato de se considerar o orçamento como uma parte mais “burocrática” dos controles financeiros, que serve apenas para registrar as receita e despesas. Avaliar a importância do orçamento apenas por esta característica é um grande engano, é não entender o seu real valor: trazer clareza sobre como utilizamos os recursos que temos disponíveis.
De fato, um orçamento bem feito retrata uma boa parte o nosso perfil, prioridades e comportamento em relação à nossa vida financeira, seja do ponto de vista pessoal ou familiar. Isso é tão verdade que, se analisarmos durante um período um pouco mais longo – um ano por exemplo – o orçamento de uma família, poderemos descrever, em linhas gerais, mas com razoável precisão, o perfil financeiro da família mesmo sem nunca a termos conhecido.
Talvez nesse “retrato” fornecido através do orçamento resida a resistência de muitas pessoas e famílias em fazê-lo.
O orçamento traz à luz a verdadeira situação da nossa vida financeira, e nem sempre é “confortável” encarar a realidade. Por exemplo, pode ser muito desconfortável e frustrante verificar que gastamos mais do que podemos, ou mesmo que gastamos desnecessariamente, e que o recomendado é rever os nossos padrões de despesas. Nessa revisão, teremos que tomar decisões que passam por “uma conversa em família” para se chegar a um consenso sobre quais são os objetivos a serem priorizados. Conversar e decidir nem sempre são tarefas fáceis, porque envolvem muito mais do só dados objetivos, envolvem também as emoções.
No entanto, nos dar uma visão mais clara da nosso dia a dia financeiro é um dos mais importantes valores do orçamento, pois através dessa visão abrangente podemos, em conjunto e de uma forma organizada, analisar as nossas despesas e verificar se estamos utilizando as nossas receitas de forma adequada e, mesmo que não haja nenhuma restrição orçamentária, se podemos otimizá-las.
Se houver alguma restrição orçamentária e/ou se desejarmos aumentar a nossa Capacidade de Poupança, será muito mais produtivo podermos fazer as escolhas de quais itens reduzir, eliminar e/ou substituir, tendo uma visão clara do que é:
(i) essencial – difícil de eliminar ou mesmo de fazer grandes reduções,
(ii) comprimível ou substituível e
(iii) supérfluo – possível de ser fortemente reduzido ou eliminado.
É a possibilidade de fazer escolhas descritas anteriormente que nos leva a considerar o orçamento um instrumento libertador. Mesmo que tenhamos muitas restrições financeiras, a partir do orçamento podemos:
(i) definir, de uma forma mais consistente com os nossos objetivos e necessidades, uma linha de importância e as prioridades entre as diversas despesas que precisamos suprir e
(ii) reduzir bastante a pressão de decidir no roldão do dia a dia, porque já teremos uma ideia mais clara da nossa pauta de receitas e despesas.
O orçamento nos auxilia a “tomarmos posse das decisões sobre a nossa vida financeira”. Ouvi de um filósofo que achamos que a “virtude” não faz parte do nosso dia a dia e que isso é um engano. Nas palavras dele: “Um bom ato, quando se torna um hábito, se torna uma virtude”
O nosso alerta é: fazer do bom ato de fazer orçamento um hábito para tornar a vida financeira mais virtuosa e planejada.
Maria Angela Nunes, CFP®, é economista e sócia Moneyplan Consultoria. www.moneyplan.com.br. As informações e opiniões são de responsabilidade exclusiva da autora. O Blog Arena do Pavini não se se responsabiliza por decisões de investimento tomadas com base nas informações publicadas.