O Deutsche Bank foi o primeiro grande banco europeu a ser processado pelas agências dos EUA por conta de atividades mais do que suspeitas no mercado de hipotecas. Esse tipo de negócio levou o mundo à crise financeira de 2008/2009 e custou aos governos uma elevação de suas dívidas que só teve comparação nos períodos de guerra. Agora a conta começa a ser cobrada dos bancos que estiveram envolvidos nas negociatas que levaram milhões de pessoas à falência. Ao Deutsche Bank, a conta apresentada foi de US$ 14 bilhões em multas a serem pagas em caso de condenação.

O valor de mercado do banco derreteu para US$ 16 bilhões e sua ação está no menor preço em toda história, veja o gráfico:

 

 

Antes da crise o gigante alemão, que já operou fortemente no Brasil, tinha cotações de US$ 160 por ação. Ela caiu para cerca de US$ 25 no auge da crise, em 2009, recuperou para US$ 72 por ocasião dos resgates bancários (que têm o belo nome de bailouts) efetuados por governos ao redor do mundo e se manteve no patamar próximo a US$ 50 de 2011 a 2014, mesmo com a crise das dívidas da Zona do Euro.

Com esse processo, caso não seja colocado dinheiro no banco, por seus clientes ou pelo governo alemão, ele pode falir na ocorrência de uma condenação nos EUA. Mesmo que o processo seja amenizado para o banco, qualquer multa pesará para o combalido capital da instituição, que deverá receber aportes para manter a instituição em condições de operação.

Em qualquer cenário, os acionistas atuais perderão, mesmo que o banco seja socorrido pelo governo. De qualquer forma, as preocupações lançadas agora são sistêmicas, que envolvem o conjunto das instituições financeiras da União Europeia. Muitas instituições e empresas têm depósitos no banco e sua falência pode prejudicar os ativos do sistema financeiro europeu. Além disso, se o governo não ajudar o banco, haverá um sinal claro de que todas as instituições em risco na União Europeia poderão falir, já que a antiga postura de salvar os “bancos grandes demais para quebrar” não vale mais nas condições atuais. E isso pode aumentar o ciclo de nervosismo quanto à solidez do sistema financeiro europeu, que é um dos maiores do planeta.

Essa crise não é só da Alemanha e vai continuar pressionando o governo de Angela Merkel no sentido de socorrer o Deustche Bank, já que ele é um “banco grande demais para quebrar”, por suas infinitas relações com os mercados globais. De certa forma, a situação atual, nos remete à quebra do Lehman Brothers. A aposta atual, talvez, seja a de que, no final das contas, ninguém vá quebrar. Mas segure-se, a coisa pode ficar feia.