Os 30 mil investidores da Fazendas Reunidas Boi Gordo vão finalmente receber parte dos R$ 3,9 bilhões que perderam nas aplicações em gado na empresa que faliu em 2004, em um dos maiores casos de pirâmide financeira do mercado brasileiro. Na quarta-feira, foram vendidas em leilão diversas fazendas da empresa, arrecadando um total de R$ 317 milhões, que serão usados para indenizar ao menos em parte os credores.

Segundo a Lut Leilões, foi vendida uma fazenda de 135 mil hectares, aproximadamente do tamanho da cidade de São Paulo, com um deságio de 40%, por R$ 305 milhões. Foram vendidos ainda 17 lotes de 200 hectares cada por R$ 12 milhões.

O caso das Fazendas Reunidas Boi Gordo foi um dos maiores escândalos de pirâmide financeira do país, envolvendo mais de 30 mil investidores que compraram certificados que garantiam rentabilidade na engorda de bois. O negócio começou em 1996 e, no auge, chegou a patrocinar a novela das oito da Globo, O Rei do Gado, que foi filmada em uma das suas fazendas. O próprio astro da novela, Antônio Fagundes, fez anúncios para a Boi Gordo e teria perdido dinheiro também.

Em 2001, diante da impossibilidade de pagar os retornos elevados prometidos e com a diminuição de novos investidores, que serviam para pagar os resgates dos antigos, a empresa pediu concordata. A falência em 2004. O empresário Paulo Roberto de Andrade, fundador da Boi Gordo, nunca foi punido porque o caso prescreveu.

Segundo o promotor de Justiça Eronides dos Santos, que acompanha o caso desde 2007, o resultado é um precedente positivo que pode ter impacto em outros casos de falência. “É a primeira vez que vemos um processo falimentar ressarcir credores”, afirma. Segundo ele, “temos inúmeros casos de falência no Brasil, poucos com a magnitude e números de credores tão expressivo como as Fazendas Boi Gordo, mas raros são os casos em que o leilão de bens ressarce o investidor”, diz. “Entendemos que este caso será um modelo positivo de conduta e bons resultados a ser seguido”, conclui.

As fazendas leiloadas são terras produtivas que mesclam áreas próximas aos centros urbanos de regiões produtoras de grãos, pecuária e reserva ambiental.

A Boi Gordo é um exemplo de pirâmide financeira. Na mesma época, outras empresas surgiram com propostas parecidas, de investimento em criação de animais, como frangos e porcos, caso da Gallus, que também quebrou. Mais tarde, em 2005, foi a vez de outro bicho, o avestruz, que levou prejuízo a 40 mil investidores da Avestruz Master.