No entanto, entre outubro de 2015 até junho de 2016, pela primeira vez na década atual e desde o começo da crise econômica, os imigrantes passaram a ser afetados também com a perda de emprego.
Os dados foram divulgados hoje (7) pelo Relatório Anual 2016 – A inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro, do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), parceria entre o Ministério do Trabalho e a Universidade de Brasília (UnB), durante a 3ª Conferência Nacional de Produtores e Usuários de Informações Estatísticas, Geográficas e Ambientais, promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), de 2010 a 2015, a tendência entre o número de admissões e demissões dos trabalhadores imigrantes era de saldos positivos.
Segundo o estudo, ao contrário do que ocorreu nos países do Hemisfério Norte, onde a crise econômica afetou primeiramente os imigrantes, no Brasil, até os nove primeiros meses de 2015, com o país já vivendo uma crise econômica, o número de admissões de imigrantes no mercado de trabalho formal superou o de demissões. Em 2015, o número de admitidos alcançou 54.086 e o de demitidos, 48.039.
O relatório mostra que, desde outubro de 2015 até junho de 2016, a movimentação dos trabalhadores imigrantes no mercado formal teve balanço negativo, com o número de demissões superando as admissões. Esse saldo sinaliza que, pela primeira vez na presente década, desde o início da crise econômica, os imigrantes passaram a sofrer com o desemprego. No primeiro semestre de 2016, foram admitidos 19.734 imigrantes e demitidos 24.965.
“O desemprego não é homogêneo, mas a crise chegou com força também aos imigrantes”, disse o professor da UnB e coordenador do OBMigra, Leonardo Cavalcanti. Segundo ele, para a reinserção dos imigrantes é necessário elaborar políticas públicas de mobilidade laboral e geográfica. “Os imigrantes estão abertos a mudar de área. A construção civil empregava muita gente e passou a demitir. De repente, mudar para outros fluxos como o final da cadeia produtiva do agronegócio, onde os imigrantes estão trabalhando no Sul do país, com o abate de suínos e de frangos”.
Distribuição espacial
As regiões Sudeste e Sul são as que mais absorvem trabalhadores imigrantes. Em 2010, São Paulo empregava 48,5% dos imigrantes, sendo que a capital paulista, naquela ocasião, registrava 28,7% do total de trabalhadores migrantes do país, percentual superior ao do segundo estado, que era o Rio de Janeiro (15,8%). A capital fluminense concentrava 11,4% da mão de obra estrangeira. Reunidos, esses dois estados e mais Minas Gerais faziam com que o Sudeste atraísse cerca de 70% desses trabalhadores. Em seguida, aparecia a Região Sul com aproximadamente 17%.
Em 2015, o estado de São Paulo perdeu importância relativa passando a acolher 35,8% da força de trabalho imigrante. O Rio de Janeiro (9,8%) passa a empregar menos que Paraná (12,9%), Santa Catarina (12,8%) e Rio Grande do Sul (10%). Entre as capitais, São Paulo emprega 20,3% e Rio de Janeiro, 6,8%.
Perfil
De modo geral, predomina uma população imigrante jovem, masculina e com nível de escolaridade médio e superior. Entre os grupos ocupacionais que tiveram um aumento significativo da presença de imigrantes entre os anos de 2010 a 2015 estão os trabalhadores da produção de bens e serviços industriais e trabalhadores em serviços de reparação e manutenção.
Haitianos
Nos primeiros anos da década de 2010, o maior incremento dos trabalhadores imigrantes ficou por conta dos haitianos que passaram a ser a principal nacionalidade no mercado de trabalho formal desde 2013 e se mantêm nessa posição. Os haitianos passaram de 815 imigrantes em 2011 no mercado de trabalho formal para 33.154 em 2015. Segundo o estudo, constata-se que já em 2013 os portugueses, até então maioria, foram superados pelos haitianos, que em 2015 representavam 26,4% da força de trabalho imigrante no Brasil.