A primeira-ministra britânica, Theresa May, colocou um fim às especulações sobre os objetivos do Reino Unido na negociação para a saída da União Europeia.
O discurso da premiê britânica revela que o Reino Unido não quer adotar uma postura de estar meio dentro e meio fora da União Europeia, frustrando novamente a expectativa de algumas lideranças do bloco, que acreditavam possuir mais cartas na manga para uma negociação favorável.
O Reino Unido quer estar totalmente fora do mercado comum da União Europeia após o fim das negociações que podem durar dois anos e se reafirmar como um player global que busca negociar livremente fora da Europa.
Com o status de uma potência autônoma, o Reino Unido também vai negociar acordos de livre comércio com a União Europeia, sob um novo modelo, mais ousado e ambicioso, no qual deve ser detalhado nos próximos meses.
Theresa May não quer buscar um Brexit suave, pois entende que sua economia está em vantagem em relação a vários países da zona do euro, por possuir moeda própria e autoridade monetária independente.
Esse diferencial pode ser o fator decisivo para um sucesso do Reino Unido no Brexit. O gráfico abaixo (libra contra euro) mostra que as condições estão melhorando para os britânicos abocanharem uma parte maior do mercado consumidor europeu. O movimento de queda da libra contra o euro começou em 2015 e se intensificou em 2016, já operando abaixo da média móvel simples semanal de 200 períodos, confirmando uma consolidação de tendência. A desvalorização é considerada significativa.
Na briga por fatia de mercado, num ambiente altamente competitivo e de baixa pressão da demanda global, a forte desvalorização da libra é mais benéfica do que prejudicial ao novo Reino Unido.
Mesmo com a recente aceleração da inflação, atingindo o nível mais alto em dois anos e meio, ainda há margem sobre a meta de inflação para o BoE (Bank of England) responder com mais cautela no curto prazo. Futuramente, no médio e longo prazo, o aperto das condições monetárias no Reino Unido tende a ser compensado pelo fortalecimento do crescimento, influenciado pelo aumento das exportações com uma moeda mais fraca.
No Brasil, destaque para a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) na manhã desta terça-feira, deixando clara a tentativa da autoridade monetária de empurrar a economia via cortes agressivos na taxa básica de juros.
O fraco e decepcionante desempenho da atividade local parece ser uma preocupação maior do que o balanço de riscos para a inflação. Mesmo com o mercado projetando inflação de 4,81% no fim de 2017 (boletim Focus da semana passada, avaliado pelo Comitê), a autoridade monetária considera que as expectativas estão ancoradas.
No documento, o Banco Central revela que a extensão do ciclo de corte de juros e possíveis revisões no ritmo de flexibilização continuarão dependendo das projeções e expectativas de inflação, bem como da evolução dos fatores de riscos acompanhados.
Levando em consideração a decisão de cortar 0,75 p.p. na taxa básica de juros diante da complexidade do quadro macroeconômico, as próximas reuniões de Comitê podem continuar surpreendendo o mercado, já que não parece haver uma rota razoavelmente pré-definida, sustentada por fundamentos, mas sim uma ambição por juros menores o mais rápido possível.
Outro ponto interessante está no retorno das intervenções da autoridade monetária no mercado de câmbio local. Bastou o dólar apresentar condições técnicas de retomada da trajetória altista (martelo colado na linha inferior de bollinger em região de sobrevenda, confirmado por um candle de força relevante no pregão seguinte) para a autoridade monetária atuar com leilões de swaps tradicionais, equivalente à venda futura de dólares.
Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, afirmou nesta terça-feira que a autoridade monetária poderá sempre fornecer hedge a empresas se os mercados não estiverem funcionando bem e se houver problemas de liquidez.
Entretanto, ao que parece, não há problemas desta ordem no mercado. Muito pelo contrário, o real está descolado frente a uma cesta de principais moedas globais, se mostrando mais fortalecido nos últimos meses. A intervenção do Banco Central, após detectar movimento de retomada do dólar nos últimos dois dias, sinaliza que o câmbio pode estar sendo utilizado como ferramenta de política monetária como forma de contrapeso aos cortes agressivos na taxa básica de juros, pois a manutenção de um real forte evita criar pressão inflacionária.