O líder da Coréia do Norte, Kim Jong-um, parece não ter se intimidado com o deslocamento do poderoso porta-aviões norte-americano Carl Vison ao seu quintal. A prova de que seu jogo de poker com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, está ficando perigoso foi confirmada nesta quinta-feira pelo portal 38 North (instituo americano especializado em Coréia do Norte).

Segundo o portal, imagens de satélite mostram atividades contínuas ao redor da base de lançamento de mísseis da Coreia do Norte, utilizada para fazer testes nucleares desde 2006. As imagens sugerem que o País está pronto para realizar novos testes. As mesmas atividades foram observadas em setembro do ano passado, pouco antes do quinto teste nuclear da Coréia do Norte.

Sábado próximo é o Dia do Sol no calendário do regime norte-coreano, data que celebra o aniversário de nascimento de Kim Il-sung, o primeiro da dinastia Kim e fundador da república comunista. O atual líder coreano, Kim Jong-um, gosta de utilizar as comemorações do Dia do Sol para realizar testes armamentistas e atrair atenção do mundo. Tudo indica que este ano não será diferente.

A administração Trump tem ressaltado que não irá tolerar novos testes da Coreia do Norte. A ação de hoje com o lançamento da maior bomba não nuclear do mundo no Afeganistão aumentou as tensões geopolíticas, pois foi encarada como uma nova demonstração de força ao líder coreano, após o disparo de 59 mísseis Tomahawks na Síria.

O jogo geopolítico para Trump é positivo, pois desvia as atenções de sua recente derrota no Congresso na tentativa de alterar a legislação da saúde. Trump não cumpriu a promessa de campanha contra o Obamacare, mas está sinalizando que vai cumprir sua outra promessa de acabar com o Estado Islâmico.

Desde o início deste ano, os jihadistas foram bombardeados mais de 400 vezes no Afeganistão. As forças de coalizão internacional lideradas pelos Estados Unidos já recuperaram dois terços da área antes ocupada pelo Estado Islâmico no Afeganistão. O progresso é satisfatório, mas ao detectar movimentação na base de lançamentos da Coréia do Norte, Trump possivelmente não hesitou em ordenar o lançamento da “mãe de todas as bombas”, a GBU-43, utilizada nesta quinta-feira pela força aérea dos Estados Unidos.

O exército norte-americano alega que os terroristas do Estado Islâmico tem usado cada vez mais bunkers, armadilhas e túneis para reforçarem sua defesa. Acontece que a bomba GBU-43 não é tecnicamente perfurante, logo, sua eficácia contra túneis é questionada. A GBU-43 explode pouco antes de tocar o solo e abrange uma grande área, portanto, parece ter sido um lançamento mais cinematográfico, com objetivo de intimidação, na medida em que a Coréia do Norte se prepara para celebrar o Dia do Sol.

A península coreana nunca esteve tão perto de um conflito militar desde o primeiro teste nuclear, fato que tem aumentado a tensão nas principais praças financeiras mundiais. Entretanto, um conflito parece ser inviável, já que Trump tem feito outra guinada em política externa: se afastando de Putin, presidente da Rússia, ao mesmo tempo em que se aproxima de Xi Jinping, líder chinês.

A China é a chave de solução para redução dos temores relacionados à Coréia do Norte. Um editorial do Global Times, jornal ligado ao partido comunista chinês, admitiu nesta quinta-feira que os líderes do partido não estão convencidos de que Trump vá blefar no jogo de poker com a Coreia do Norte e, por conta disso, o regime chinês estaria disposto a aumentar sua pressão contra Kim Jong-um.

Em caso de nova provocação, os chineses estariam dispostos a adotar sanções contra a Coreia do Norte, incluindo uma restrição às importações de petróleo, algo que seria inédito na história. Kim Jong-um é totalmente dependente do petróleo chinês. O endurecimento da China em relação à Coréia do Norte parece ser o primeiro sinal concreto de que Trump realmente se aproximou de Xi Jinping no encontro realizado semana passada em seu resort na Flórida.

Trump disse estar muito confiante de que a China vai lidar de forma apropriada com a Coreia do Norte e elogiou a primeira atitude já tomada no mês passado. A China suspendeu as importações de carvão norte-coreano, uma das principais fontes de rendimento do País.

Receosos com o quadro geopolítico, investidores/operadores estão desmontando posições em ativos de risco e buscando o porto seguro dos títulos da dívida soberana de países desenvolvidos.

O rendimento da Treasury de 10 anos (título do Tesouro norte-americano, referência global), está caindo ladeira abaixo. O forte movimento comprador provocou rompimento da principal zona de sustentação de curto prazo localizada aos 2,30% ao ano. Neste momento, o rendimento da Treasury é negociado aos 2,24%, com relativa distância da máxima atingida no final do ano passado aos 2,60%.

As Gilts (títulos do Tesouro Britânico) viraram fortemente para bullish (gráfico no blog). Após a taxa atingir máxima em 1,51% ao ano, uma onda compradora, acentuada recentemente, tem derrubado rapidamente os rendimentos dos títulos britânicos. Neste momento, o rendimento da Gilt de 10 anos é negociado a 1,04%.

Na Alemanha, os rendimentos dos títulos do Tesouro estão voltando a se aproximar do patamar zero (gráfico no blog). Neste momento, o prêmio do título de 10 anos é de apenas 0,18% ao ano, muito inferior à máxima registrada em 0,48% no início deste ano.

O mercado é bullish também no Japão (gráfico no blog). O rendimento do título do tesouro de 10 anos despencou de 0,11% ao ano para 0,031%, praticamente de volta ao nível zero.

Conforme esperado, a forte onda compradora que atinge os títulos da dívida soberana de países desenvolvidos é acompanhada pelo desmonte de posições em títulos da dívida soberana, ações e moedas de países emergentes.

Enquanto o mercado estava bearish na dívida soberana de praças desenvolvidas durante boa parte do ano passado, investidores/operadores correram para títulos mais arriscados em países emergentes, surfando a onda que estava favorável para carry trade. Agora, a janela para praças emergentes está fechada com o fluxo retornando às suas origens.

A bolsa de valores brasileira (BOV:IBOV) despencou novamente nesta quinta-feira, reforçando o status de mercado vendido. A perna de baixa iniciada aos 69,5k tende a ser fortificada com eventual rompimento da linha de suporte localizada na região dos 62.5k. As condições técnicas jogam a favor do rompimento e a bolsa pode acabar voltando para a média móvel simples de 200 períodos diária nas próximas semanas.

No cenário local, destaque para o vídeo divulgado pelo presidente Michel Temer, defendendo-se da acusação de que teria participado de uma reunião para acertar um pagamento milionário de propina com a Odebrecht. Temer confirmou ter participado do encontro com um executivo da Odebrecht, mas nega ter tratado de valores destinados a políticos com a empreiteira.

A delação de Marcelo Odebrecht afeta em cheio toda a aparente podridão do sistema político brasileiro, mas bate forte, especialmente, no atual governo, abrindo novamente a possibilidade de voltarmos a ter um quadro praticamente ingovernável.