Se tudo correr bem e Donald Trump e o gordinho maluco da Coreia do Norte, também conhecido como Kim Jong Un, não acabarem com o mundo antes, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzir os juros básicos da economia, a taxa Selic, hoje de 12,25% ao ano, para 11,25% ao ano na reunião que começa dia 11 e termina dia 12 de abril. Com isso, na quinta-feira, o juro mensal ficará abaixo de 1% ao mês, o que não ocorria desde janeiro de 2015, para desespero de alguns investidores que têm nesse porcentual um número mágico para suas aplicações.
Na verdade, o juro já está um tiquinho abaixo de 1%, 0,97% ao mês, ainda assim considerando o rendimento bruto. Líquido de imposto, o ganho da Selic já está em 0,82% ao mês, ou 10,33% ao ano na melhor das hipóteses, caso o investidor consiga 100% da taxa e com uma alíquota de imposto de 15%, para aplicações acima de dois anos. Para aplicações até seis meses, com alíquota de 22,5%, o ganho é ainda menor, 0,75% ao mês, ou 9,38%. Isso imaginando um mês perfeito, de 21 uteis, já que o rendimento varia de acordo com os feriados e dias úteis de cada mês.
Se cair para 10,25% – e há quem aposte em queda maior, de 1,25 ponto, para 10% ao ano – o juro mensal será de 0,816% ao mês brutos, ou 0,69% líquidos, também considerando alíquota de 15% de imposto. Isso dá 8,65% ao ano livres de imposto, ainda um belo real ganho acima da inflação, estimada em torno de 4% para os próximos 12 meses. O problema é que a queda dos juros não vai parar por aí e, se tudo correr bem, a reforma da Previdência passar, o presidente Michel Temer terminar seu mandato, e os dois malucos, o americano e o coreano, não explodirem o mundo, a taxa deve parar perto de 9% ao ano no fim de 2017.
Ainda assim, um ganho real razoável, acima de 4% ao ano, como destaca João Albino Winkelmann, presidente do Comitê de Private Banking da Anbima, que reúne os gestores de fundos do mercado. “Juros de 9% com inflação de 4% a 4,5% ainda representam um ganho real muito interessante, eu não deixaria de investir em renda fixa a maior parte do meu portfólio”, diz.
Viúvas do juro de 1%
Na iminência da queda, porém, as viúvas do juro de 1% ao mês não dão muita bola para o ganho real ainda elevado e buscam desesperadamente alternativas para manter a rentabilidade. E aí mora o perigo: começam a surgir sugestões mirabolantes para o ganho, que para atingir 1% líquidos, após o imposto, exigiria uma aplicação de 15% brutos ao ano. Com a Selic a 9% ao ano, deve-se imaginar que tipo de devedor pagará 15% ao ano para um investidor. Ou seja, será preciso correr muito mais risco se se quiser manter o ganho.
Falsas ilusões
No desespero de manter os ganhos, as viúvas do juro de 1% acabam se tornando presas fáceis de falsas ilusões. A mais comum é procurar, com a ajuda de gerentes de bancos mal informados ou mal intencionados, fundos de renda fixa que renderam extraordinariamente nos últimos meses apostando que vão manter a rentabilidade.
Um risco enorme, pois rentabilidade passada nada mais é que passado. Muitos fundos renderam bastante no ano passado e neste ano porque os juros caíram e os papéis antigos em suas carteiras, com juros mais altos, se valorizaram. Ou seja, a partir de agora, seu rendimento já está ajustado ao nível atual de juros futuros. Só darão ganhos extraordinários se houver uma queda além do já esperado pelo mercado, o que significaria taxas abaixo de 9% no fim do ano. Há hoje até o risco de uma reversão de tendência, que jogue o juro para cima e provoque perdas em quem estiver em papéis longos.
Outra promessa é de fundos de crédito, que costumam ter ganhos acima da taxa dos papéis do Tesouro. É verdade, empresas e bancos menores pagam juros bem acima da Selic. Mas há o outro lado da moeda: é preciso tomar cuidado com o risco de crédito dessas carteiras. Uma empresa que dê calote (Oi, PDG, OAS, Lupatech são exemplos) pode colocar a perder todo o ganho extra do fundo de crédito. Por isso, a qualidade do gestor em avaliar a saúde das empresas e sua independência em escolher o que é melhor para o fundo e não para o banco para quem trabalha são fundamentais quando se fala em fundos de crédito.
Salsichas financeiras
É preciso ver também o que há nas carteiras dos fundos que vão bem demais, mas que podem estar recheadas de papéis de maior risco e derivativos nada saudáveis para o investidor. Quem se assustou com os ingredientes das salsichas e linguiças revelados pela Operação Carne Fraca ficaria ainda mais apavorado com o que alguns gestores colocam em seus fundos para obter maior rendimento. Um bom indicador desse risco podem ser as taxas de volatilidade das carteiras. Algumas chegam a superar a oscilação da bolsa de valores, o que pode tanto ser fruto da oscilação dos papéis longos do Tesouro quanto operações mais arriscadas. Mas, mesmo nos fundos com títulos do Tesouro, há o risco das oscilações de curto prazo, que precisa ser levado em conta por quem aplica por alguns meses apenas.
O principal, portanto, é o investidor analisar bem onde vai investir seu dinheiro, olhando para o futuro, não para o passado, e se adaptando à nova realidade do mercado, que ainda oferecerá um retorno real razoável e exigirá mais risco para ganhar mais. Há muitos papéis isentos emitidos por empresas chegando ao mercado, com ganhos razoáveis ampliados pela isenção, debêntures de infraestrutura e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
Winklemann, da Anbima, vê oportunidades em papéis privados, já que os bancos por enquanto não precisam de recursos para emprestar e por isso pagam pouco em seus CDBs, e em fundos multimercados, que podem buscar ganhos com câmbio, ações e juros. Os fundos imobiliários já subiram bastante neste ano e no ano passado, mas ainda há oportunidades desde que o investidor procure bem.
Mas mesmo assim seu ganho não se distanciará muito da Selic, até porque em geral elas usam a taxa do CDI, que acompanha o juro básico, como referência, ou a NTN-B do governo, que já paga 5% ao ano mais inflação, ou cerca de 9% ao ano. Aliás, uma NTN-B já paga menos de 1% ao mês considerando o IPCA de 0,23% esperado para março mais 0,40% dos juros de 5% ao ano.
Portanto, o ideal para as viúvas do juro de 1% ao mês é deixarem o luto de lado e aproveitarem os juros reais ainda altos ou partirem para aventuras mais ousadas, sempre calculando bem o risco.