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Delação indigesta

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A quinta-feira, 18 de maio de 2017, será marcada pelo pânico no mercado financeiro. Os negócios locais abrem sob o impacto da delação dos donos do frigorífico JBS, que abala a República e já dá sinais de que o governo Temer acabou. Os investidores já não devem contar mais com as reformas, o ajuste fiscal, a base aliada, a equipe econômica e tudo o que existiu até ontem à noite, pois agora começa a maior das crises em Brasília.

Nem mesmo o mais pessimista poderia imaginar uma bomba desta dimensão, por envolver diretamente o presidente Michel Temer. Os empresários Joesley e Wesley Batista teriam gravado Temer dando aval para comprar o silêncio do deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, depois que ele já havia sido preso na Lava Jato.

A delação ainda não foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Mas se for confirmado o envolvimento de Temer, fica configurado um caso de obstrução da Justiça, que explica, por exemplo, porque Cunha nunca aceitou também fazer um acordo de delação premiada e contribuir nas investigações da Lava Jato. O deputado está preso desde outubro de 2016.

A gravação feita pelos empresários ocorreu em março deste ano e revela que quando um deles disse ao presidente que estava dando a Cunha uma mesada para que permanecesse calado na prisão, Temer teria dito: “tem que manter isso, viu?”. Além disso, o presidente teria indicado um deputado para resolver assuntos da J&F, holding que controla o frigorífico e que foi presidida pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda), desde 2012.

Mais que isso, os delatores da JBS têm nas mãos um histórico de propinas distribuídas a políticos nos últimos dez anos. Tal material pode esclarecer também uma das irregularidades relatadas na delação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, que diz respeito à captação de recursos feitas por uma das empresas da J&F no período em que Meirelles era o todo-poderoso do grupo.

Em outro áudio, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, é gravado pedindo a Joesley R$ 2 milhões para pagar sua defesa na Lava Jato. Um dos pagamentos foi filmado pela Polícia Federal, que teria rastreado o caminho do dinheiro e descoberto que uma das quatro parcelas, de R$ 500 mil cada, foi depositada numa empresa do senador tucano Zezé Perrella.

É sob esse noticiário devastador que os mercados domésticos iniciam o pregão hoje. A perspectiva é de queda superior a 5% na Bovespa já nos primeiros minutos, o que acionaria o sistema de proteção chamado circuit breaker, mas que permitiria uma retomada dos negócios até uma nova queda, de 10%, quando a sessão então seria encerrada.

No dólar, a previsão é de que a moeda norte-americana dê uma arrancada para R$ 3,30 só de início, disparando operações que podem intensificar o ritmo de alta. No exterior, o dólar se recupera e ganha terreno, após ter caído ao menor nível desde novembro ante os rivais, com o peso mexicano liderando as perdas entre as moedas emergentes. Em Wall Street, o sinal negativo perde força, mas isso não deve aliviar as perdas esperadas por aqui. Até porque o dólar mais forte enfraquece as principais commodities industriais.

No caso dos juros, a recomposição de prêmios tende a ser intensa, após o enxugamento das taxas, com os papéis mais longos chegando a projetar juro inferior a 10% daqui a quatro anos. A curva a termo deve disparar uma forte correção para cima, acompanhando o movimento do CDS de 5 anos, que reflete o risco Brasil, em meio ao fim da confiança no país. Até mesmo a aposta de corte mais intenso na taxa básica de juros (Selic) neste mês caiu por terra.

Portanto, pânico é pouco para definir a sessão de hoje nos mercados domésticos. Não se trata, aqui, de potencializar os efeitos da delação da JBS, que ainda nem foi conhecida, mas tampouco pode-se subestimar os impactos de tal fato. Já se fala em uma ruptura institucional sem precedentes, pois nem Collor e Dilma, os presidentes que passaram por processos de impeachment no pós-redemocratização foram implodidos de tal forma.

Para executivos do mercado financeiro, o governo acabou e Temer deve sair. Afinal, o que vinha sustentado ele no poder eram as reformas econômicas que sua equipe propôs e, com o presidente em xeque, não haverá apoio no Congresso para aprová-las.

Ontem, aliás, a sessão na Câmara e no Senado foi encerrada às pressas, à medida que os parlamentares liam a notícia, capaz de botar fogo na pauta do governo, que avançava em velocidade cruzeiro. Para o presidente Rodrigo Maia, não havia clima para trabalhar, enquanto Eunício de Oliveira tentou deixar o local por uma saída alternativa. Ambos são investigados na Lava Jato e também estão na linha sucessória da Presidência.

Mas a pergunta que fica é, e agora? Por enquanto, não se ouve ninguém falar que é possível salvar o governo. Temer se vê sozinho, mas ainda não renunciou e mesmo aliados do presidente falam que ele deveria, o que ainda não está totalmente descartado. A oposição já protocolou mais de um pedido de impeachment, ao passo que a convocação de eleições pelo Congresso ou um Colégio Eleitoral já vem sendo ventilada.

O fato é que, quanto mais tempo demorar para o afastamento do presidente, em busca de uma solução menos traumática ao país, maiores serão as chances de uma comoção popular por Diretas Já. Esse movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas foi entoado em várias cidades do país ontem. Brasília e São Paulo tiveram protestos à noite e, no Rio de Janeiro, foram ouvidos panelaços.

Com o espasmo e o pânico instaurado, os mais oportunistas irão dizer que “Michel Temer não tem saída, mas o Brasil tem”. Mas não dá para ser frívolo diante de tal situação, que põe fim ao cenário montado de retomada econômica e de confiança dos estrangeiros no país. Tudo isso acabou e virou um desastre de proporções ainda não calculadas.

Não foi, portanto, nos Estados Unidos que a Casa caiu, como intitulou-se ontem. Aliás, no exterior, os mercados internacionais buscam uma recuperação, mas não conseguem esconder o desconforto com o governo Trump, após as notícias envolvendo o presidente Donald Trump e sua relação com os russos e suposta tentativa de obstruir a Justiça, no caso da demissão do diretor do FBI.

Para quem gosta de história, o noticiário atual na Casa Branca relembra o escândalo de Watergate, que derrubou o ex-presidente Nixon, nos anos 70. Diante desses ruídos, cresce o coro em torno de um possível impeachment de mais um presidente norte-americano e, por mais que lá tal cenário ainda possa ser prematuro, fica claro que o republicano perde poder de fogo nas negociações com o Congresso e na agenda pró-crescimento.

Assim, qualquer semelhança com o caso brasileiro não é mera coincidência. A conferir a solução jabuticaba a ser dada em terra brasilis…

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