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Na corda bamba

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Os mercados domésticos podem até dar o benefício da dúvida ao governo, após o presidente Michel Temer ter endurecido o tom de resistência em novo pronunciamento no fim de semana, mas o clima de tensão tende a permanecer nos negócios locais. A incerteza no cenário político deve persistir por dias, talvez semanas, e a adversidade da questão do tempo é o que deve prevalecer entre os investidores.

Afinal, quanto mais demorar a saída de Temer – via renúncia, impeachment ou decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a chapa eleita em 2014 – maior será a incapacidade do governo em governar. Com isso, mais demorado será o processo de andamento das reformas, cujos prazos tendem a ser adiados, tornando menos factível a aprovação das mudanças nas leis trabalhistas e nas regras para aposentadoria neste ano.

Seja qual for o desfecho a ser tomado em relação à gravação da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista, novos capítulos do ambiente político doméstico devem rechear o noticiário, elevando a sensibilidade dos negócios. Porém, por mais que haja um voto de confiança dos mercados domésticos nos acontecimentos, os recuos da base aliada e a efervescência nas ruas evidenciam um clima de turbulência – e não de alívio.

Ontem mesmo, dezenas de milhares de pessoas realizaram atos em ao menos dez capitais brasileiras e em cidades de quase 20 Estados. Muitos movimentos foram esvaziados, prejudicados pelo mau tempo. Também teve baixa adesão, o jantar oferecido pelo presidente no Palácio da Alvorada, que acabou sendo cancelado. Era uma tentativa de demonstrar que Temer mantém o apoio do Congresso, mas não houve a confirmação de presença da maior parte dos líderes aliados e ministros ao encontro.

Um dia antes, logo após o novo pronunciamento, o presidente ofereceu feijoada a aliados, em almoço que contou com a presença dos líderes do governo na Câmara e no Senado, além dos ministros da Educação e da Secretaria de Governo. No encontro, também houve muita conversa sobre como reverter a pressão popular e de parte da grande imprensa, pois Temer diz que resistirá “até o fim”.

Na fala feita a jornalistas, sem direito a uma sessão de perguntas e respostas, Temer buscou desqualificar a gravação e o delator, dizendo que o áudio da conversa é “fraudulento e manipulado” e que o dono da JBS é um “falastrão”. A defesa do governo pediu, então,  a suspensão do inquérito aberto para investigar o presidente por suspeita de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato, decidiu levar o pedido ao plenário da Corte. A análise deve ocorrer na quarta-feira e a tendência é de que o inquérito contra Temer seja mantido. Fachin determinou ainda que a Polícia Federal faça uma perícia do áudio da conversa entre Temer e Joesley. Peritos ouvidos na imprensa afirmam que a gravação está intacta e que os trechos editados não são os mais comprometedores e polêmicos do diálogo.

Nos bastidores em Brasília, fala-se que os integrantes dos partidos da base aguardam a decisão do STF para definirem a saída (ou não) do governo. Até por isso, o PSDB, maior aliado do presidente Temer, cancelou a reunião prevista para amanhã sobre o assunto. Várias reuniões de bancada foram marcadas para quarta-feira, quando os partidos devem tomar uma decisão conjunta sobre o desembarque.

De qualquer forma, a sinalização é de que, independente da decisão do STF, não será mais possível continuar no governo, entoando o coro de que é preciso substituir o “capitão do time”. O agravamento da situação reflete a posição extremamente grave de Temer, que não conseguiu reverter a crise política e está cada vez mais fragilizado, mas insiste em ficar. “Se quiserem, me derrubem”, disse.

Para o mercado doméstico, a renúncia de Temer seria a melhor opção, estancando a sangria do processo político e evitando uma contaminação à melhora econômica. Mas já que o presidente reitera que não vai renunciar, a expectativa é de que haja uma eleição indireta, conforme prevê a Constituição, que poderia colocar até o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no cargo máximo do Executivo.

Isso, obviamente, se as denúncias da JBS não chegarem ao ministro, que comandou a controladora J&F desde 2012 e que pode estar envolvido em operações irregulares de captação de recursos feitas por outra empresa do grupo. A alternativa pela eleição direta, mudando a Constituição e antecipando o pleito de 2018, é a pior possível para os negócios, pois envolve mais tempo e risco, diante dos prováveis candidatos.

Com a cena política dominando e o cenário repleto de dúvidas, a agenda econômica perde um pouco de relevância. Ainda assim, merecem atenção a prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), que sai amanhã. Apesar dos riscos vindos da crise política, o indicador deve incrementar os argumentos para o Banco Central ao menos manter o ritmo e cortar a taxa básica de juros em 1 ponto no fim deste mês.

Na visão dos investidores, o aumento das incertezas políticas e o possível adiamento do cronograma das reformas econômicas não devam servir de justificativa para um arrefecimento ou mesmo interrupção do ciclo de queda da Selic. Afinal, o cenário de inflação continua benéfico e a retomada econômica segue lenta e desigual.

Ainda no calendário doméstico, merecem atenção os números do governo sobre a arrecadação de impostos, a dívida federal e os resultados primário e nominal do setor público, nos próximos dias. Hoje, saem as tradicionais divulgações de segunda-feira: Pesquisa Focus (8h25) e balança comercial semanal (15h).

No exterior, o noticiário político dos Estados Unidos também segue no radar, após a confirmação do testemunho do ex-diretor do FBI James Comey no Congresso norte-americano, na quarta-feira. Ele irá responder a perguntas sobre a possível relação entre governo Trump e a Rússia, que levaram à inesperada demissão dele do cargo. O presidente Donald Trump segue no Oriente Médio, onde assinou acordos bilionários nas áreas de defesa, energia e infraestrutura.

Entre os eventos econômicos, destaque para o Federal Reserve. O Banco Central dos EUA publica a ata da reunião de maio na quarta-feira e o documento pode trazer novidades sobre a redução do tamanho do balanço de pagamentos, que também faz parte do processo de normalização da taxa de juros norte-americana. Além disso, dirigentes do Fed discursam, ao longo da semana – incluindo hoje.

Nos indicadores, é esperada a segunda estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no primeiro trimestre, na sexta-feira. Na primeira leitura, foi apontada alta de 0,7%, o que mostrou que a economia norte-americana perdeu tração no início do ano. Na Europa, também saem os números do PIB na Alemanha e no Reino Unido, além dos índices de atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro.

Outro destaque no exterior é a reunião do cartel da Opep, na quinta-feira, quando os países produtores e exportadores de petróleo devem decidir pela extensão do corte de produção da commodity. À espera desse encontro, o barril do WTI avança para a faixa de US$ 50, sendo negociado nos maiores níveis em um mês. O dólar, por sua vez, ensaia uma recuperação, mas não exibe uma direção única em relação aos rivais.

Nas bolsas, as ações de petrolíferas e mineradoras conduzem os ganhos na Bolsa de Londres, ao passo que a libra esterlina recua, em meio à piora nas negociações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e às vésperas da eleição geral antecipada no país. Nas demais praças europeias, as bolsas estão na linha d’água, influenciadas pelo comportamento lateral dos índices futuros de Nova York. Na Ásia, apenas Xangai caiu.

De um modo geral, os investidores apostam que o crescimento econômico global pode resistir à turbulência política nos EUA e no Brasil, bem como a novos aumentos na taxa de juros norte-americana. As chances de um aperto monetário pelo Fed na reunião marcada para o mês que vem subiu para cerca de 80%. Mas nada disso parece ameaçar os mercados globais.

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