O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai entrar em um processo de replanejamento, que prevê uma atuação mais forte junto a pequenas e médias empresas.  A mensagem foi dada pelos novos diretores do banco, Carlos da Costa e Carlos Thadeu de Freitas, que assumiram ontem (11/08), respectivamente, a Área de Planejamento e Pesquisa e as áreas de Crédito, Financeira e Internacional. Eles adiantaram também que não está descartada a concessão de novos financiamentos à Petrobras, por seu impacto social de geração de empregos e por sua rentabilidade.

Carlos da Costa disse, durante a cerimônia de posse, que assume com o compromisso de reinventar a instituição, “no maior planejamento estratégico da história do banco”. Isso, segundo ele, será feito em diálogo com a sociedade, que estimule a inovação, a interiorização do país, apoiando projetos que não despertam o apetite dos bancos comerciais e visando o desenvolvimento do país. “No contexto internacional [de grandes transformações], o BNDES tem um papel fundamental de ser protagonista no desenvolvimento do Brasil”. Costa pretende levar para o banco sua experiência no mercado privado.

Esse planejamento tem dois horizontes: de médio prazo, até 2023, e de longo prazo, até 2030. A ideia, destacou Costa, é tornar o BNDES um banco de desenvolvimento moderno, “que tenha um papel de corrigir as falhas do mercado, que tem como papel integrar diferentes visões empresariais, políticas, sociais, para um país pujante, integrado globalmente, um país competitivo e produtivo”. Para efetuar esse trabalho, foram contratadas consultorias internacionais que participaram do replanejamento de bancos estrangeiros, como o KFW, da Alemanha. Esses apoiadores trarão para o BNDES suas experiências, mas não determinarão o que deve ser feito, ressaltou Carlos da Costa.

Já o superintendente da Área de Planejamento e Pesquisa, Fabio Giambiagi, observou que o banco está diante do seu maior desafio nos últimos 40 anos, depois de superar períodos de inflação alta e de juros elevados. Agora, o desafio, disse Giambiagi, é continuar a usar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), praticada em suas operações, da ordem de 7% ao ano, ou adotar a Taxa de Longo Prazo (TLP), que se acha em discussão no momento. Caso a TLP não seja aprovada, “teremos a (taxa básica de juros) Selic muito próxima da TJLP e uma situação concorrencial muito nova para o BNDES como organização”.

Segundo o superintendente, alguns clientes históricos tradicionais não continuarão indo ao banco em busca de crédito, ou indo pouco, o que exigirá redefinir o papel da organização. Em qualquer cenário, seja continuando com a TJLP ou com a nova TLP, Giambiagi assegurou que será um desafio para o BNDES, que precisará dar respostas adequadas. O superintendente estima que a TLP para os primeiros três anos, descontada a inflação, poderá ter uma referência real para o mercado de 3%, mais baixa que a taxa das notas do Tesouro Nacional Série B (NTN- B), de cerca de 5%.

Captações

O economista Carlos Thadeu de Freitas, novo diretor das áreas de Crédito, Financeira e Internacional do BNDES, confirmou que é ideia da instituição fazer novas captações externas, como manifestou esta semana, no Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), o presidente da instituição, Paulo Rabello de Castro. Freitas lembrou que desde 1970, o banco faz emissões de bônus no mercado internacional. “Ficar ausente do mercado durante muito tempo não é bom, porque você perde o seu rating (avaliação de risco). Mesmo que não precise tomar, é bom estar presente para verificar o risco que está tendo hoje no mercado de capitais internacional”. De acordo com o novo diretor, o BNDES vai esperar a oportunidade certa para retornar ao mercado exterior. Considerou conveniente “pavimentar o mercado” para captar mais adiante.

Petrobras

Indagado sobre a possibilidade de o banco vir a conceder novos financiamentos para a Petrobras, que já superou a situação de impedimento no banco, Freitas considerou a empresa um excelente risco. “Qualquer banco gostaria de emprestar para a Petrobras, porque paga, sem maiores problemas”. Na década de 1990, a Petrobras não tinha caixa, mas conseguiu se recuperar tomando recursos no mercado internacional. A situação de concentração de risco da empresa já foi ultrapassada no BNDES.

Embora a ideia não seja concentrar atenção em grandes companhias, Thadeu de Freitas ressaltou que “Petrobras é diferente”. Acrescentou que embora as normas financeiras internacionais sejam importantes e devam ser consideradas, “risco com a Petrobras não pode ser comparado com um risco qualquer”.

Desembolsos

O diretor de Planejamento, Carlos da Costa, disse que todo o mercado de crédito brasileiro passou, nos últimos meses, por um período de retração da demanda. O mesmo ocorreu no BNDES, cujos desembolsos para financiamento caíram. Cabe ao BNDES apoiar os empresários para encontrarem alternativas de investimento com as linhas de crédito do banco “e outras”, que promovam o desenvolvimento do Brasil, afirmou.

Costa acredita no aumento da demanda dessas linhas nos próximos meses. “Já vemos, por vários indicadores, que a recessão passou”. O banco, afiançou, não pode ter uma postura passiva. Tem responsabilidade de apoiar as empresas brasileiras para que elas encontrem oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Os desembolsos vão depender muito das expectativas das empresas nos próximos meses.

barato. Já o BNDES tem uma política de juros mais “discreta”. É preciso, segundo o diretor, que o BNDES comece a gerar mais competitividade na fixação das taxas que cobra. Avaliou que a retração da demanda tem a ver também com o crédito concedido pelo banco que é de mais médio e longo prazo.