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Pré-Market: Guerra S.A.

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Mais do que qualquer frustração dos investidores com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que deu sobrevida ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o dia 4 de abril, o que vai pesar nos mercados domésticos nesta sexta-feira é a disputa entre as duas maiores economias do mundo, na qual todos os países do globo saem perdendo. A China respondeu rapidamente à guerra comercial ativada por Donald Trump, e ameaça sobretaxar, por ora, 128 itens norte-americanos, retaliando US$ 3 bilhões em tarifas contras produtos made in USA.

Os negócios na Ásia desabaram, diante da crescente tensão com as investidas protecionistas dos Estados Unidos, que parecem dispostos a construir um muro não só para o México, criando barreiras comerciais que fecham a era do engajamento econômico construtivo com a China, ameaçando o crescimento econômico global. A Bolsa de Tóquio liderou as perdas na região, com queda de 4,5%, ao passo que Xangai (-3,4%) e Hong Kong também tiveram perdas aceleradas (-2,5%). Na Austrália, a Bolsa de Sydney caiu mais de 2%.

O temor dos investidores de que a tensão comercial ganhasse forçasse já se confirmou, após o Ministério do Comércio da China afirmar que o país planeja tomar medidas contrárias em até US$ 3 bilhões de importações dos EUA, em produtos como tubos de aço, frutas, vinhos e carne suína, de modo a equilibrar as sobretaxas impostas sobre o aço e o alumínio. Ainda não se trata, portanto, de uma represália à promessa de Trump de cobrar até US$ 50 bilhões em medidas punitivas às exportações chinesas. Pequim iniciou as retaliações devagar, mas ainda pode vir bem mais por aí…

O tom das ameaças dos dois lados já é suficiente para provocar um forte onda vendedora (selloff) nos mercados globais, com os investidores buscando proteção em ativos seguros. Os rendimentos (yields) dos títulos norte-americanos (Treasuries) recuam nesta manhã, diante da maior procura pelos papéis, ao passo que o dólar perde terreno para rivais como o euro e o iene. Já o petróleo avança, reagindo à substituição de H.R. McMaster por John Bolton como conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca e às ameaças do recém-chegado ao cargo contra o Irã.

No Ocidente, os índices futuros das bolsas de Nova York têm perdas aceleradas, um dia após Wall Street registrar a maior queda desde o início de fevereiro, o que também contamina a abertura da sessão na Europa. A sensação ao redor do globo é de que a brecha de retaliações à guerra comercial foi aberta, deixando muitas incertezas sobre o avanço da economia global, uma vez que os EUA buscam se proteger, angariando apoio de países parceiros, mas sem garantia do equilíbrio comercial às demais nações.

No caso brasileiro, por exemplo, a China é o maior parceiro comercial do país, ao passo que o saldo da balança do Brasil com os EUA é negativo, o que mostra que se o Palácio do Planalto assumir um lado, pode ser ruim para as contas externas domésticas, ainda mais diante do crescente investimento chinês na infraestrutura local. Outros países do mundo tem a mesma situação, principalmente no Sudeste Asiático.

Há, então, um risco potencial ainda imensurável para todo os países do mundo diante desse enfrentamento de gigantes, sendo que não se pode perder de vista todo o poderio chinês e o fato de Pequim ser o grande financiador da dívida pública norte-americana, com cerca de US$ 2 trilhões das reservas internacionais em dólares – lembrando que a moeda chinesa (renminbi) é atrelada ao comportamento da moeda norte-americana. Para a Eurasia, trata-se do maior (e pior)  risco geopolítico desde o fim dos anos 1990.

Tal fato, tende, então, a se sobrepor às questões locais, mas a decisão do STF de deixar para depois da Páscoa o julgamento sobre o habeas corpus que pode evitar a prisão de Lula tende a potencializar as perdas dos ativos domésticos, uma vez que o cenário eleitoral volta a ficar mais indefinido. Isso porque, até o assunto ser retomado na Corte, o líder petista não pode ser preso, independentemente do que for decidido em segunda instância (TRF-4), na próxima segunda-feira, quando o último recurso contra o ex-presidente for julgado.

Diante desse cenário mais incerto, com deterioração do ambiente externo e ausência de sinais de avanço na agenda de reformas – já que não há ainda qualquer candidato que lidere as pesquisas de intenção de votos com um viés reformista – fica difícil entender a indicação inédita do Banco Central brasileiro, na noite quarta-feira, sobre as ações a serem feitas nas próximas duas reuniões. A sinalização, aliás, levantou duras críticas no mercado financeiro.

A questão é que nem o mais fervoroso defensor de um ciclo de cortes dos juros básicos esperava uma sinalização tão suave (“dovish”) do Comitê de Política Monetária (Copom), dizendo o que pretende nas próximas duas reuniões. Ao desdizer, agora, o que havia dito no primeiro encontro deste ano, em fevereiro, o Banco Central falhou na comunicação junto ao mercado financeiro, que passou a indagar qual é a estratégia da autoridade monetária.

Afinal, o risco fiscal segue latente, sem solução eficaz para contornar o rombo das contas públicas, e não há qualquer sinal de avanço da agenda de reformas – o que deve ficar apenas para o próximo governo, a depender  de quem for eleito em outubro. Aliás, a percepção é de que a decisão do Copom teve cunho eleitoral, apoiando-se em um cenário que desconsidera as tensões internas e externas e que favorece candidatos de centro (e do governo).

Aliás, as consequências das investidas protecionistas de Donald Trump ainda seguem como as mais imponderáveis. Seja por causa da capacidade de represália da China, seja diante do viés fiscal expansionista do governo norte-americano, em meio ao processo de normalização da taxa de juros nos Estados Unidos. Até porque, ainda há dúvidas se o Federal Reserve adotará três ou quatro altas no custo do empréstimo no país neste ano.

Há, portanto, inúmeros focos de tensão para os mercados globais, dos quais, certamente, o Brasil não passará ileso – apesar de ignorar tais fatores, que tendem a impactar os negócios com ações, moeda e derivativos no país. Só a questão do diferencial de juro doméstico menor em relação ao praticado no exterior já reduz a atratividade do retorno no rendimento aos investidores estrangeiros, que passam a procurar outros países para aplicar seus recursos.

É bom lembrar que os sinais de saída de recursos do país continuam se acentuando, com a Bolsa brasileira acumulando retirada de capital externo em todas as sessões de março até o último dia 20, totalizando um déficit de quase R$ 4,5 bilhões apenas neste mês. Considerando-se o início do movimento, no fim de fevereiro, os “gringos” já retiraram mais de R$ 6 bilhões em ações, enxugando o saldo positivo no ano para menos de R$ 1 bilhão.

Portanto, a “alegria” na Bolsa, que segue acima dos 85 mil pontos, e a intensa retirada de prêmios na curva local de juros futuros é um movimento capitaneado por fundos nacionais e investidores residentes. Um ponto a salientar, no entanto, é que quanto mais a taxa básica de juros for cortada agora, mais a Selic terá de subir em 2019.

Na agenda econômica desta sexta-feira, o destaque no Brasil fica com a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), que deve chancelar a indicação do Banco Central, de que cabe uma queda adicional na taxa básica de juros. Mas depois do recado claro da autoridade monetária, não restam dúvidas de mais um corte na Selic em maio.

A expectativa para o IPCA-15 é de desaceleração a 0,13%, após subir 0,38% em fevereiro, com a taxa acumulada em 12 meses seguindo abaixo do piso de tolerância do Banco Central (3%) pela segunda vez seguida, em 2,83%. Os números efetivos serão conhecidos às 9h. Antes, sai a confiança do consumidor em março (8h).

Depois, é a vez da nota do BC sobre o setor externo em fevereiro (10h30), com dados sobre os investimentos estrangeiros no país e o saldo em conta corrente. Já no exterior, serão conhecidos os pedidos de bens duráveis nos Estados Unidos (9h30) e as vendas de imóveis novos no país (11h), ambos referentes ao mês de fevereiro.

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