Embora os riscos de aumento do protecionismo tenham se elevado nas últimas semanas, o ambiente internacional permanece amplamente favorável, enquanto no Brasil a inflação vem surpreendendo para baixo e a economia se recupera muito gradualmente, sem pressões sobre os preços. Nessas circunstâncias, o Banco Central deverá reduzir a Selic para 6,5% na próxima semana; e, caso esse quadro de “céu-de-brigadeiro” se estenda para o segundo trimestre, crescerá a chance de que a taxa básica seja reduzida ainda mais, mais para perto de 6% ao ano ao longo do segundo trimestre. A avaliação é da LCA Consultores, em relatório enviado aos clientes.

A projeção do mercado é que o juro pare em 6,5% e fique assim até o fim do ano. Um novo corte, para 6,25% ou 6%, reduzirá mais a rentabilidade das aplicações em renda fixa, especialmente as atreladas ao juro diário da Selic (fundos DI ou Tesouro Selic) ou ao CDI (LCI, LCA, CDBs pós fixados). Mas será benéfico para a bolsa, pois reduzirá o custo para as empresas e o custo de oportunidade para o investidor optar pela renda variável, também em outros ativos, como fundos imobiliários. O real também pode se desvalorizar um pouco mais diante do dólar. Caso a queda continue, papéis prefixados, que hoje trabalham com juros de 6,5% por um período mais longo, vão se valorizar.

A consultoria observa que, nos EUA, o relatório do mercado de trabalho não poderia ter apontado resultados melhores: a criação de empregos segue sólida; a taxa de desemprego permanece estabilizada em nível reduzido; e as pressões salariais continuam contidas. Ao lado disso, a inflação ao consumidor manteve-se bem comportada no começo de 2018.

Os mercados continuaram a ajustar suas expectativas para a taxa básica de juros do Federal Reserve, o banco central americano (Fed): a perspectiva de três aumentos para 2018, em linha com as sinalizações oficiais, passou a preponderar; e a hipótese de que sejam promovidos mais do que três aumentos continuou a ganhar força.

Apesar desse ajuste nas expectativas de mercado para a trajetória do juro do Fed, a aversão global ao risco permanece reduzida; os ativos e moedas emergentes continuam a apresentar bom desempenho; e os mercados internacionais de câmbio têm operado sob baixa volatilidade, descreve a LCA.

No Brasil, o câmbio também tem permanecido bem-comportado, oscilando em intervalo estreito, com o dólar americano cotado ao redor dos R$ 3,25. Uma situação que reflete o “céu-de-brigadeiro” do ambiente externo e a baixa influência que, por ora, as incertezas político-eleitorais têm exercido sobre os mercados domésticos.

Mas, para a consultoria, a principal surpresa neste começo de ano tem sido a inflação, que continua a correr abaixo das expectativas – em parte refletindo o persistente comportamento favorável dos preços de alimentos, mas também como reflexo de uma desinflação mais consistente de bens e serviços cujos preços são bem menos voláteis.

A atividade econômica, que poderia pressionar a inflação, tem alternado resultados positivos com outros decepcionantes; e, no geral, não parece vir mostrando, neste começo de ano, uma mudança nítida de inclinação no ritmo (moderado) de crescimento observado na segunda metade do ano passado.

A LCA cita o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado no final de dezembro, no qual o Banco Central projetava que a inflação acumulada no período de 12 meses encerrado em março deste ano seria de 3,2%. Com os resultados recentes mais baixos do que se esperava, agora espera-se que a alta acumulada pelo IPCA em 12 meses encerre o primeiro trimestre em cerca de 2,8%,  abaixo dos 2,95% do encerramento do ano de 2017 e cerca de 0,4 ponto percentual abaixo da projeção oficial divulgada em dezembro.

“O comportamento da inflação (corrente e projetada), portanto, pode tentar o Banco Central a estender a flexibilização monetária para além da redução praticamente certa a ser promovida na semana que vem”, avalia a LCA. Nessas circunstâncias, acrescentam os economistas da consultoria,o Banco Central deverá reduzir a taxa básica Selic para 6,5% na próxima semana; e, caso esse quadro de “céu-de-brigadeiro” se estenda para o segundo trimestre, crescerá a chance de que a Selic seja reduzida mais para perto de 6% ao ano ao longo do segundo trimestre.