Termina na quarta-feira, dia 25, o prazo para reservar ações da oferta pública inicial (IPO) do Banco Inter, instituição que busca se posicionar como fintech oferecendo serviços de banco digital. A faixa de preço das ações vai de R$ 18 a R$ 23,00, com preço indicativo de R$ 20,50.
Da oferta inicial, de R$ 727 milhões, 82,5% são novas ações, que serão usadas para o banco investir em seus projetos, e 17,5% são ações dos controladores, a chamada oferta secundária. A aplicação mínima é de R$ 3 mil. O banco foi fundado em 1994, como Banco Intermedium, e faz parte do grupo da construtora MRV Engenharia, servindo como braço de financiamento das operações. O grupo tem também a MRV Logística, de galpões e shoppings, hoje uma empresa de capital fechado.
A oferta inicial do Inter foi a primeira analisada pela recém-criada empresa de consultoria Levante. Segundo Eduardo Guimarães especialista de ações da consultoria, a recomendação aos clientes é não entrar na oferta. Ele comenta um pouco da operação do Inter e o que o investidor deve olhar na hora de avaliar uma oferta inicial.
Ancoragem da oferta
Segundo ele, o primeiro ponto a ser observado é a questão da ancoragem da oferta, ou seja, se há investidores institucionais grandes bancando a operação. Foi o que aconteceu em ofertas anteriores de sucesso, como a da Intermédica e da Notre Dame. No caso da Notre Dame, a oferta, concluída na sexta-feira, saiu pelo preço de R$ 16,50 a ação, para um intervalo entre R$ 14,50 e R$ 17,50.
O segundo ponto a acompanhar é a seletividade maior dos IPOs hoje, diferentemente da bolha de ofertas dos anos 2000, em que todas as ofertas eram um sucesso e os preços dos papéis disparavam após a estreia.
Ele dá o exemplo da oferta da rede de lojas de brinquedos Ri Happy, que foi adiada no fim de março pois não reuniu interessados suficientes. A empresa, controlada pelo fundo americano Carlyle, estimava um preço entre R$ 20,30 e R$ 26,30 para seus papéis, mas enfrentou problemas com a crescente concorrência das lojas virtuais, evidenciada pela falência nos EUA da Toys no início deste ano.
Situação diferente ocorre com o setor de diagnóstico, que tem visto várias empresas abrindo capital. O mercado vê oportunidades de crescimento e consolidação. Há ainda uma oferta do setor em andamento, da Happy Vida. “São empresas verticalizadas, tem estruturas diferentes de grandes grupos, como Bradesco”, diz.
E o terceiro ponto é o preço da oferta. “Há uma disputa por preço e o investidor grande tem maior peso para definir o valor final”, diz. “Resumindo, ancoragem, seletividade e preço são questões fundamentais para se avaliar uma oferta”, afirma Guimarães.
Banco por preço de fintech
No caso do Banco Inter, a Levante recomenda não entrar também por esses três motivos. Guimarães acha que o preço pedido é elevado, pois usa como base dados de avaliação de fintechs, quando o Inter ainda é um banco tradicional. “O banco e o negócio são bons, é um setor em crescimento, houve um aumento de contas digitais”, diz Guimarães, para acrescentar que “mas, considerando o preço de R$ 20,50, o banco estaria sendo avaliado com uma relação preço versus valor patrimonial de 1,8 vezes, e uma relação entre o preço da ação e o lucro projetado de 30 vezes, números elevados para os padrões do setor”.
Além disso, o retorno sobre o patrimônio líquido projetado é 13%, baixo em relação aos bancos hoje no mercado e perto do retorno do estatal Banco do Brasil, que tenta aumentar esse percentual. “Na nossa avaliação, o risco retorno não favorável”, afirma.
Há também a questão da governança corporativa, uma vez que as ações serão listadas no Nível 1 de governança da B3, o menor nível do Novo Mercado, acima apenas do mercado tradicional. “O que significa uma transparência menor.”
Carteira de crédito tradicional
Guimarães explica que, apesar de o Inter buscar um perfil de banco digital, hoje 85% de sua carteira é formada por empréstimos imobiliários e consignados no formato tradicional.
“Ele ainda é muito banco tradicional, com forte presença no mercado imobiliário pelo grupo MRV Engenharia, que já tem capital aberto”, lembra. O grupo controla também a MRV Logística, de galpões industriais, que tentou abrir o capital recentemente, mas não teve sucesso por conta do preço também. E, como a oferta não é tão grande, R$ 727 milhões, acaba não atraindo investidores estrangeiros, que poderiam dar mais força para a operação.
O mais importante, porém, é o preço, avalia Guimarães. “Trata-se de um banco que cresce muito, mas não é tão rentável, apesar de ser de um setor bom, que veio para ficar”, diz. Ele lembra que a operação até tem dois grandes investidores dando suporte, as gestoras de fundos de participações Atmos e Squadra, que se comprometeram a ficar com 30% da oferta. “Mas eles não serão obrigados a fazer a oferta se o valor for inferior a R$ 500 milhões”, observa.