O governo cedeu ontem a praticamente todas as reivindicações dos caminhoneiros, jogando a conta para os contribuintes. Acuado pela crise nos postos e no abastecimento e pelos próprios aliados no Congresso, que erraram a conta de um corte de impostos, de R$ 14 bilhões para R$ 3 bilhões, o governo enfraquecido de Michel Temer acabou aceitando a chantagem dos motoristas e, suspeita-se, também dos empresários do setor, que vão de carona na boleia dos subsídios. Mas, como lembram alguns economistas, o problema de ceder à chantagem é que ela pode continuar, ou estimular outros setores a fazer o mesmo. Afinal, todos podem tentar ganhar no grito um naco do dinheiro público. Um sinal disso é a continuidade da greve hoje, apesar de quase todas as reivindicações estarem sendo atendidas.
Subsídio para o caminhoneiro e para a SUV
Pelo acordo, o Tesouro, ou seja, o contribuinte, ou seja, você, pagará para a Petrobras (BOV:PETR4) manter os preços do diesel reduzidos em 10% e tabelados por 15 dias além dos 15 que a empresa já havia prometido. Isso inclui caminhoneiros, empresas e também donos de SUV e caminhonetes cabine dupla.
Além disso, o governo propôs que os reajustes do diesel passem a ser mensais e a diferença que a Petrobras perder em relação ao preço internacional será paga em uma espécie de nova “conta-petróleo”, como havia no passado. As estimativas são de que esse acerto custe R$ 5 bilhões, se os preços do petróleo e do dólar continuarem onde estão. Se subirem, a conta será maior. Além disso, o governo não disse de onde vai tirar esses recursos, já que a previsão para este ano já é de déficit primário.
ADR tem leve respiro de alta nos EUA
Apesar de a greve não ter acabado, o acordo acabou favorecendo os papéis da Petrobras. O recibo de ações da estatal negociado em Nova York estava agora pela manhã em alta de 0,90% na pré-abertura do mercado. Um pequeno ajuste depois da queda de mais de 13% ontem e de 21% na semana, que reflete ainda o receio com o impacto dessa crise toda na política de preços da empresa e em seu desempenho.
Crise pode voltar