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Pré-Market: Queda de braço entre BC e mercado

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O mercado financeiro vai mostrar hoje se foram convincentes as declarações do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, durante entrevista coletiva ontem à noite. A oferta adicional de US$ 20 bilhões, até a semana que vem, em contratos de swap cambial até pode segurar a escalada do dólar rumo à faixa de R$ 4, mas o investidor deve ir para cima do BC e se apegar na sinalização de que a autoridade monetária pode atuar nos negócios à vista, se necessário.

Ao final de uma quinta-feira de muito nervosismo no mercado doméstico, o rumor ao longo de todo o dia era de que o BC convocaria uma reunião extraordinária do Comitê de Política Monetária (Copom) para elevar a taxa básica de juros. Mas não foi para dizer que a Selic vai subir nem que a autoridade monetária vai “queimar” reservas que Ilan convocou a imprensa.

Segundo ele, o BC não tem nenhum “preconceito” em usar qualquer tipo de instrumento necessário para garantir liquidez ao mercado. Mas salientou que a valorização do dólar não será combatida com uma alta da taxa de juros e alertou que, até o momento, não identifica a demanda por dinheiro estrangeiro em espécie – e sim por proteção (hedge).

Até aí, nenhuma novidade – o que não ajudaria a conter o estresse da véspera no mercado de câmbio. A surpresa veio com a declaração de que o montante de recursos a ser usado para oferecer esse seguro pode até “superar níveis históricos”, ultrapassando a venda de mais de US$ 100 bilhões, como ocorreu na gestão Tombini.

Além de ampliar essa atuação, Ilan se mostrou pronto para utilizar os recursos das reservas internacionais, oferecendo linhas de financiamento em dólar com compromisso de recompra ou mesmo vendendo parte dos US$ 380 bilhões em recursos que o país tem em moeda estrangeira. A questão é que o BC não pode simplesmente se desfazer dos dólares guardados.

É preciso haver demanda de investidores, que estariam querendo sair do Brasil, mas não estariam conseguindo fazer isso por causa de uma escassez de dólares disponíveis. Segundo o presidente do BC, “até o momento” há necessidade de liquidez apenas para swaps cambiais, em meio à zeragem de posições dos investidores.

Ou seja, o que o BC está percebendo é que quem estava apostando que o dólar iria perder valor para o real, buscando pisos próximos à casa de R$ 3,00, precisa desfazer essa operação e, para tanto, buscar proteção. Não se trata, por ora, de uma fuga maciça de recursos do país, como tem ocorrido nos emergentes.

Ontem à tarde, a autoridade monetária teria entrado em contato com os principais agentes que fazem a ligação entre um comprador e um vendedor (broker) no mercado para saber se havia a necessidade de injeção de liquidez. A consulta teria sido feita pouco depois de o dólar ultrapassar a barreira de R$ 3,95, aproximando-se perigosamente de R$ 4,00.

Embora negue oficialmente, apenas o relato nas mesas de operações de que houve uma sondagem do BC foi suficiente para acalmar boa parte do nervosismo no mercado financeiro. Ainda assim, a moeda norte-americana renovou o maior nível desde o início de março de 2016, encerrando acima de R$ 3,90, na terceira alta seguida.

Há quem diga que o real está sim sofrendo um ataque especulativo. Ou seja, um conjunto de investidores decidiu que apostar na desvalorização acentuada da moeda brasileira pode ser um bom negócio – quiçá para compensar as perdas após o contrapé do Copom em maio, quando manteve a Selic em 6,50%, contrariando as apostas de mais um corte.

Tal aposta mais pessimista sobre o real faz sentido para o mercado, já que todo aquele otimismo que estava em voga não mostrou sustentação. Ainda mais agora que a agenda de reformas parece ter mesmo ficado para trás e os “candidatos dos extremos” mostram-se mais competitivos para disputar um segundo turno da eleição presidencial em outubro.

Mas o principal argumento de Ilan para culpar a alta do dólar no Brasil são as condições externas, que se tornaram mais desafiadoras às economias emergentes. Afinal, não é apenas por aqui que a moeda norte-americana vive um rali e ele finalmente reconheceu que “o cenário externo mudou significativamente”.

A poucos dias da reunião de junho do Federal Reserve, quando deve ocorrer o segundo aperto na taxa de juros norte-americana deste ano, é mesmo esperado que haja uma saída mais intensa de recursos aplicados em ativos mais arriscados, como os do Brasil, em meio à busca do retorno seguro nos títulos norte-americanos (Treasuries).

Mas como lembrou o (novo) ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, o Brasil é credor líquido em dólar – ao contrário do que ocorreu no passado – e o Tesouro Nacional tem uma posição muito confortável no colchão de liquidez para financiar a dívida interna. Logo, trata-se de uma situação bem diferente da Turquia ou da vizinha Argentina.

Por isso, o BC precisa ter pulso firme, pois um movimento maciço de compras de dólar tende a pressionar a moeda norte-americana para cima e, em breve, a contraparte (leia-se os bancos) pode não ter mais dólar para vender no mercado à vista. Isso demandaria uma atuação mais forte do BC, tornando necessário rever a estratégia – inclusive em relação à Selic.

Aliás, outro ponto que chamou a atenção na entrevista do presidente do BC foi o fato de ele dizer, ao final, que “como de costume, a reunião do Copom vai discutir o balanço de riscos e o impacto na inflação para tomar a decisão (sobre o juro básico)”. Pode ter sido um sinal de que a porta está aberta para uma mudança na política monetária.

Assim, por mais que Ilan tenha defendido a tese de que o rumo da Selic e a política cambial são duas coisas inteiramente diferentes, pode ter pouco resultado efetivo qualquer nova intervenção no dólar sem uma compensação de juros mais altos. O cenário mais provável, então, é de continuidade na deterioração dos ativos locais – principalmente na renda fixa.

Ontem, a curva implícita de juros futuros encerrou com 100% de chance de aumento de 0,50 ponto na Selic na reunião do Copom neste mês, com o ciclo de alta tendo continuidade com pelo menos mais dois apertos até dezembro. Tal aposta pode ser calibrada hoje após os números da inflação oficial ao consumidor brasileiro em maio (9h).

A previsão é de que o IPCA tenha alta de 0,3% no mês passado, ganhando um pouco de força em relação ao avanço em abril (+0,2%), mas ainda refletindo um impacto limitado da greve dos caminhoneiros nos preços no varejo. Já a taxa acumulada em 12 meses deve seguir sem furar o piso de 3% perseguido pelo BC pela décima segunda vez seguida, ficando em 2,75%.

Aliás, falando em caminhoneiros, a categoria reagiu negativamente à decisão do governo de voltar atrás e revogar a nova tabela do frete de cargas, horas após anunciar os novos preços, 20% menores, em meio à pressão de produtores rurais. A reação dos caminhões, que pararam o país há duas semanas, foi imediata e uma nova reunião foi marcada para esta manhã.

É bom lembrar que o quadro fiscal também é motivo de preocupação no mercado financeiro, já que o impacto da concessão de subsídios ao diesel pelo governo o cumprimento da meta orçamentária e mina a confiança dos investidores no longo prazo. Além disso, ainda não se sabe qual será o efeito da paralisação na atividade, que já vinha patinando.

Ainda no mesmo horário, saem os custos na construção civil no mês passado e os dados regionais da produção industrial em abril. Já no exterior, as atenções se voltam para os índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) na China, no fim do dia. Pela manhã, saem os estoques norte-americanos no atacado em abril (11h).

Mas é a questão comercial que pesa no mercado internacional nesta manhã. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, arrumou confusão com França e Canadá pouco antes do início da reunião do G-7, em Quebec, o que levou o presidente francês, Emmanuel Macron, a dizer que “ninguém é para sempre”.

Segundo Macron, a nova política comercial dos EUA é uma “hegemonia” e que os outros seis países do bloco são, juntos, um mercado muito maior do que o norte-americano sozinho. “Não haverá hegemonia mundial se soubermos nos organizar”, disse o francês, arrancando aplausos do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. A chanceler alemã Angela Merkel também prometeu desafiar Trump, com os europeus isolando os EUA no confronto.

Sem fazer parte do G-7, a China também monitora o encontro de cúpula com atenção, ainda mais após o enorme superávit do país com o mundo encolher em maio. O saldo da balança comercial chinesa caiu a US$ 24,9 bilhões no mês passado, com as exportações desacelerando a 12,6%, enquanto as importações aumentaram o ritmo e cresceram 26%.

A previsão era de superávit de US$ 32,6 bilhões. Em meio às crescentes tensões com a Casa Branca, o sinal negativo prevalece no exterior. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão em queda, após uma sessão de perdas na Ásia e em meio à uma abertura negativa na Europa. As commodities recuam, com o cobre tendo o maior recuo em mais de uma semana.

Já o dólar ganha terreno das moedas rivais, em meio às disputas comerciais entre os países do G-7. O euro registra o primeiro revés na semana, tendo a companhia da libra esterlina, ao passo que o iene avança. Nas divisas emergentes, o rand sul-africano despenca, em meio aos sinais de que não haverá aumento dos juros no país em breve. Nos bônus, o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) se estabiliza no menor nível em uma semana, ao redor de 2,90%, derrubando também o rendimento nos papéis europeus.

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