O dólar voltou a subir hoje diante do real e encerrou a R$ 3,934 no mercado comercial, do atacado, em alta de 0,55%, a maior cotação em dois anos. A desvalorização da moeda brasileira, que levou o dólar ao maior preço desde março de 2016, durante a crise do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, foi motivada especialmente por fatores locais, uma vez que a moeda americana fechou em baixa no exterior diante do euro e de outras moedas de países emergentes. “O real, entre os emergentes, ficou em segundo lugar nas piores depreciações do dia, somente perdendo para o peso chileno”, diz o Banco Fator em relatório.
O dólar chegou a R$ 3,94 reais, mas mesmo assim o Banco Central (BC) continuou fora do mercado, apenas garantindo a rolagem dos contratos de swap cambial que vencem em agosto e equivalem à venda de dólar futuro.
Cenário político pesa
Outro motivo para a desvalorização do real é o cenário político e a falta de um candidato de centro com boas chances de ganhar a eleição presidencial e levar adiante o ajuste fiscal e as reformas da Previdência do país. Jornais noticiaram hoje que representantes do chamado Centrão teriam jantado com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e indicado que devem apoiar Ciro Gomes, do PDT, diante da dificuldade do tucano em decolar nas pesquisas e da rejeição ao partido, que seria maior que a do PT.
Juros futuros sobem e apontam para alta na próxima reunião do Copom
Os juros futuros também subiram passando de 6,84% para 6,89% no contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2019 e de 9,32% para 9,38% no de janeiro de 2021. “Mantém-se, assim, a expectativa de alta da Selic na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)”, avalia o Fator.
Ata do Fomc reforça aperto monetário nos EUA
O banco destaca ainda no exterior a ata da reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, banco central americano) trouxe pouca novidade em relação ao tom mais duro (hawkish) do comunicado e da entrevista do presidente do Fed, Jerome Powell.
Os membros do Fomc indicaram que o ciclo de alta dos juros prossegue, mas que não vai tão longe, notando que, com altas graduais adicionais nos juros, a taxa de juros básica americana pode estar em torno da taxa neutra (que não reduz nem amplia a inflação) ao longo de 2019. Assim, avisaram que pode ser apropriado logo modificar a linguagem do comunicado a respeito de a política monetária permanecer acomodativa.
Para o Fator, com a expectativa de que a juro americano atinja 2,50% ao ano no fim deste ano, a exclusão da referência ao nível acomodativo da taxa deve trazer algo como “perto do neutro”. “Isto deve se dar em torno de 3,0% ao ano”, estima o banco.
Expectativa do consumidor cai em junho
No Brasil, outro indicador negativo foi o índice de expectativa do Consumidor, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que caiu 3,9 pontos em junho, atingindo 98,3 pontos, após ficar estável em 102,2 de abril para maio. O pessimismo cresceu em relação a inflação, renda própria, situação financeira, endividamento e desemprego.
O indicador que mede a compra de bens de maior valor foi o único, do conjunto desta sondagem, que cresceu em junho.
Mercado atento à guerra comercial e ao desemprego nos EUA
Os mercados fecharam hoje na expectativa com a entrada em vigor das restrições americanas contra importações chinesas no valor de US$ 34 bilhões, e que terão contrapartida em tarifas sobre produtos americanos no mesmo valor. Vários setores da economia americana serão atingidos, em especial o agrícola.
Amanhã também saem os dados do desemprego nos EUA em junho, que podem levar o Fed a acelerar a alta dos juros além do esperado pelo mercado. Hoje, os números do setor privado divulgados pela consultoria ADP vieram abaixo do esperado.
No Brasil, o destaque será o IPCA de junho, inflação oficial, divulgado pelo IBGE.