A turbulência no mercado financeiro na última sexta-feira ainda ecoa hoje, com a lira turca renovando o recorde de baixa e espalhando tensão nos ativos emergentes. O Banco Central da Turquia anunciou movimentos que falharam em acalmar os negócios, à medida que o presidente Recep Tayyip Erdogan adota um tom desafiador e não mostra sinais de recuo no impasse com os Estados Unidos.

Durante as negociações asiáticas, a lira turca chegou a cair 10% em relação ao dólar, aprofundando as perdas já registradas ao final da semana passada e ignorando a disposição do BC turco de fornecer “toda a liquidez que os bancos precisam”. O colapso contaminou outras moedas emergentes, como a rupia indonésia, o rand sul-africano e o peso mexicano.

Nas bolsas, as perdas foram lideradas pela Indonésia, que caiu mais de 3%. Tóquio recuou quase 2%, em meio à valorização do iene. As bolsas europeias também abriram em queda acelerada, diante do temor de exposição dos bancos da região à Turquia. Em Nova York, os índices futuros estão no vermelho, vendo na situação turca outro risco global.

Aos poucos, os investidores vão se dando conta de que o problema é a forma como o presidente norte-americano está lidando com outros países, principalmente emergentes. Donald Trump está tirando proveito do pânico nos ativos globais para conseguir o que quer do mundo. Sem temer qualquer risco de contágio, ele acredita que não se trata de uma relação em que todos perdem.

Em vez de se preocupar com o fato de que Wall Street também está sendo infectado pela forte onda vendedora (selloff) em outros mercados, Trump está torcendo (e comemorando) pelas perdas econômicas sofridas por vários países, seja por causa das investidas protecionistas ou da escalada da tensão geopolítica. Para o presidente turco, a Turquia está em uma “guerra econômica” e não irá elevar a taxa de juros nem acionar o FMI.

Afinal, a decisão do chefe da Casa Branca de taxar o aço e alumínio turcos aconteceu dias depois de impor novas sanções à Turquia, por causa da detenção de um pastor evangélico, e veio na esteira de punições à Rússia e em meio à guerra tarifária contra a China. Há quem diga que Trump não se incomoda com tal desordem nos mercados – emergentes, principalmente – e espera que os rivais fiquem de joelhos, submetendo-se à hegemonia norte-americana.

Trata-se de uma estratégia que o republicano gosta de cultivar, tocando as relações com outros países como faz com suas empresas. No entanto, há grandes riscos nessa abordagem, que pode não alcançar resultados tão duradouros. Até porque, a aceleração da economia e o menor desemprego em anos nos EUA não são méritos da atual gestão.

Cientes de tudo isso, a segunda-feira amanheceu negra e a grande questão agora é até que ponto o pânico na Turquia pode se espalhar nos negócios globais. Por ora, as perdas na lira turca penalizam ações e moedas de países emergentes – o que tende a contaminar novamente o pregão no Brasil, pressionando a Bovespa e o real.

Nas commodities, os metais básicos também recuam e o petróleo tipo WTI é cotado abaixo de US$ 68 o barril, depois que o Irã descartou negociações com os EUA, aumentando as preocupações com a oferta global. Ao mesmo tempo, os investidores buscam segurança em ativos como o dólar, o iene e os bônus norte-americanos (Treasuries).

A agenda econômica desta semana no exterior traz dados de atividade capazes de apontar os efeitos da guerra comercial no mundo. A começar pelos indicadores da indústria e do varejo chinês em julho, na noite de hoje. Nos EUA, os números sobre a produção industrial e as vendas do comércio varejista saem na quarta-feira.

Também serem conhecidos dados dos EUA sobre o setor imobiliário, na quinta-feira, e sobre a confiança do consumidor norte-americano, na sexta-feira. Na zona do euro, os indicadores da indústria e sobre o sentimento econômico na região saem amanhã. No mesmo dia, no Brasil, tem o desempenho do setor de serviços.

Na quarta-feira, deve ser anunciado o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), que deve lançar luz sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano. O indicador deve reforçar o ritmo lento de retomada da economia doméstica, conforme já apontado pela indústria e pelo varejo brasileiro no período.

Para piorar a situação local, o cenário das eleições segue indefinido. O tom morno do primeiro debate presidencial na TV entre os candidatos não foi capaz de favorecer qualquer nome. Resta saber como ficam as intenções de voto, diante da definição dos candidatos. As chapas devem ser registradas até quarta-feira e têm até o próximo mês para serem validadas.