A última semana cheia de 2018 começa com os investidores redobrando a cautela, após dados fracos de atividade na China e na zona do euro reacenderam as preocupações com a desaceleração global em 2019. Esse temor fez as bolsas de Nova York entrarem em um mercado de baixa (bear market), marcando o pior início de dezembro desde 1980.
Os investidores refazem as contas dos prejuízos que a prolongada guerra comercial pode causar à economia dos Estados Unidos, que ainda continua forte. Essa reflexão é ruim para os ativos de risco, mas pode não ser o suficiente para levar o Federal Reserve a oferecer o alívio que o mercado financeiro anseia na reunião de quarta-feira.
E o fato é que as bolsas chinesas tiveram um desempenho melhor que as de Nova York desde que Pequim e Washington concordaram em assinar uma trégua de 90 dias, durante o encontro do G-20, no fim do mês passado. No período, o índice Xangai Composto subiu 0,2%, enquanto o S&P 500 caiu 5,8%.
Porém, as ações chinesas acumulam perdas de mais de 20% no ano, enquanto o índice norte-americano migrou para o vermelho recentemente, em meio à reavaliação do crescimento econômico em 2019, com a guerra comercial parecendo agora ser negativa também para os EUA.
Por isso, as bolsas chinesas têm mostrado maior resiliência às perdas significativas em Wall Street, já que o mercado acionário norte-americano ainda vinha embalado pelo sinais robustos da economia dos EUA, o que ainda demanda juros mais altos por parte do Fed. No primeiro pregão da semana, a Ásia relegou o tombo em Nova York na sexta-feira e fechou em alta.
Xangai e Hong Kong oscilaram em alta, de +0,2%, enquanto Tóquio subiu 0,6%. Esse movimento ameniza a forte onda vendedora (sell-off) dos ativos de risco no exterior e abre espaço para uma recuperação das bolsas de Nova York. Os índices futuros amanheceram apontando para um dia positivo, o que deve embalar também a sessão na Europa.
Nos demais mercados, o rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) está estável, abaixo de 2,90%, o que enfraquece o dólar em relação às principais moedas rivais – como o euro, a libra e o iene – mas abre espaço para uma recuperação das commodities. Mas o barril do petróleo tipo WTI segue abaixo de US$ 52.
Na semana que antecede os inícios das festas de fim de ano, o destaque fica com a reunião do Fed, que começa amanhã e termina na quarta-feira. A expectativa é de que o Banco Central dos EUA promova o último aumento de 0,25 ponto nos juros de 2018, levando a taxa para o intervalo entre 2,25% e 2,50%.
Com isso, as atenções se voltam para a entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell, logo após o anúncio da decisão, em meio às apostas de uma condução mais suave (“dovish”) no ciclo de alta (normalização) a partir do ano que vem. A expectativa são de aumentos mais espaçados após quatro apertos neste ano – um a cada trimestre.
Tudo vai depender da forma como o Fed vê os sinais de pressão inflacionária vindos do crescimento dos salários e da geração de postos de trabalho, em contraste com os indícios de desaceleração econômica, principalmente fora dos EUA. Aliás, dados de inflação e atividade também são destaque no calendário norte-americano.
Na sexta-feira, sai a terceira e última revisão do Produto Interno Bruto (PIB) do país no trimestre passado, juntamente com os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo, além do índice de inflação PCE, que baliza as previsões para os preços ao consumidor nos EUA. Também serão conhecidos números sobre o desempenho do setor imobiliário, amanhã e quarta-feira.
No eixo Europa-Ásia, destaque para as decisões de juros dos bancos centrais da Inglaterra (BoE) e do Japão (BoJ), na quinta-feira. Hoje, a agenda econômica traz logo cedo o índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro em novembro e o índice de atividade econômica no Brasil em outubro, medido pelo Banco Central (IBC-Br), juntamente com o relatório de mercado Focus.
Amanhã, o BC brasileiro publica a ata da última reunião de política monetária deste ano. No encontro da semana passada, o Comitê de Política Monetária manteve a taxa básica em 6,50% pela sexta vez seguida e reforçou a percepção de juros baixos por um período prolongado no horizonte à frente. Essa sinalização já alimenta a possibilidade de novos cortes na Selic em 2019, diante do comportamento benigno da inflação e da atividade ainda fraca.
Aliás, o relatório trimestral de inflação (RTI), na quinta-feira, e a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), um dia depois, podem calibrar as expectativas dos investidores em relação ao comportamento dos juros básicos nos próximos meses. Mais que isso, pode ter início o debate no mercado financeiro sobre juros neutros mais baixos.
Essa discussão pode até ser favorável à Bolsa brasileira, uma vez que o retorno na renda variável torna-se mais atrativo em relação aos investimentos em renda fixa, beneficiando principalmente os setores mais sensíveis aos juros – consumo, imobiliário e infraestrutura. Tal perspectiva pode facilitar o avanço do Ibovespa para o degrau dos 90 mil pontos.
Porém, tal cenário em relação à Selic tende a manter o real pressionado, diante da menor atratividade aos olhos dos estrangeiros com o diferencial de juros pago pelo Brasil e por outros bônus no exterior, levando os “gringos” a retirar dólares do país. Com isso, a moeda norte-americana tende a se sustentar na faixa entre R$ 3,85 e R$ 3,90.
Essa perspectiva não leva em conta os ruídos causados pela movimentação financeira suspeita envolvendo um assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Mas a pergunta de R$ 1,2 milhão, feita pela imprensa no fim de semana, é: “Onde está Fabrício Queiroz?”.
Ele segue em silêncio e ainda não apresentou nenhuma explicação plausível sobre os 176 saques e 59 depósitos feitos em 12 meses. Espera-se que ele fale ao Ministério Público nesta semana. Por ora, os Bolsonaro supõem que o silêncio de Queiroz pode ser compensado por suas breves declarações.
Seja como for, tanto o movimento nas ações quanto no câmbio brasileiro vai depender mesmo é da estratégia do Fed para 2019. Afinal, uma postura mais suave da autoridade monetária em relação aos juros dos EUA pode manter o fluxo de recursos aos ativos emergentes. Em contrapartida, um tom mais duro (“hawkish”) pode reduzir o apetite global por risco.
Por isso, os investidores estão em compasso de espera pela decisão do Fed, na quarta-feira, que deve ser um último grande evento de 2018.