Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais que investiga a tragédia em Brumadinho (MG), um funcionário da Vale (BOV:VALE3) afirmou que um vazamento de rejeitos no gramado da barragem que se rompeu em 25 de janeiro foi identificado pelo menos sete meses antes. Fernando Henrique Barbosa Coelho, que trabalha na mineradora há 17 anos, disse que o episódio ocorreu antes da instalação de um dreno horizontal profundo, colocado no local em junho de 2018.

Fernando Henrique atuava como operador mecânico e era responsável pelo bombeamento de rejeitos da barragem. Seu pai, Olavo Coelho, também era empregado da Vale e morreu na tragédia. “Meu pai trabalhava naquela mina há mais de 40 anos. Antes da Vale assumir, o complexo era operado pela Ferteco. Eu nasci e fui criado ali. Meu pai conhecia tudo na palma da mão”.

Ele contou que, no dia em que foi identificado o vazamento, buscaram seu pai em casa às 22h40 para verificar o que estava ocorrendo. De acordo com o depoimento prestado à CPI, Olavo teria constatado que os danos eram irreversíveis e alertou para o risco de rompimento da barragem.

O funcionário disse ainda que uma empresa que ele não soube identificar foi contratada para fazer intervenções na estrutura em caráter emergencial. Ele afirmou não saber dizer se as devidas providências foram tomadas, uma vez que o local do vazamento foi isolado, mas acrescentou que a instalação de sirenes e a realização de treinamentos ocorreu após o alerta dado por seu pai.

Fernando contou que foi orientado por Olavo a ficar atento e chegou a se emocionar. “Meu pai falou comigo: ‘Filho, você, que trabalha perto da barragem, fica na parte mais alta que aquilo está igual uma bomba. Aquilo vai estourar a qualquer hora. Qualquer barulho, você corre’”.

A Vale

Questionada sobre as alegações, a Vale afirmou em nota que nenhuma de suas inspeções detectou anomalias que apontassem para um risco iminente de ruptura. A mineradora disse ainda que a barragem possuía todas as declarações de estabilidade aplicáveis e passava por constantes auditorias externas e independentes.

“Havia inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração, sendo a última datada de 21 de dezembro de 2018. A estrutura passou também por inspeções nos dias 8 e 22 de janeiro deste ano, com registro no sistema de monitoramento da Vale”, registrou o comunicado.