O dólar devolvia as perdas iniciais e operava em alta contra o real nesta segunda-feira, após disparada histórica na semana passada, com a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de acalmar os ruídos políticos domésticos sendo ofuscada pelo cenário de juros baixos e pouca entrada de fluxo nos mercados brasileiros.

Às 14:14, o dólar avançava 0,44%, a 5,6929 reais na venda, dando continuidade ao rali da semana passada, que foi a pior em 11 anos para o real em meio à turbulência política que culminou na saída de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça.

Nesta segunda-feira, numa tentativa de demonstrar união dentro do governo, o presidente Jair Bolsonaro apareceu ao lado de ministros ao deixar o Palácio da Alvorada, e — em meio a rumores sobre a possibilidade de o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixar o cargo — alinhou o discurso de sua administração e deixou claro que Guedes continua com a palavra final nos gastos federais.

Inicialmente, o posicionamento de Bolsonaro pressionou para baixo a divisa norte-americana, somando-se a um cenário otimista no exterior diante da expectativa de flexibilização das medidas de combate ao coronavírus nas principais economias do mundo. Na mínima do dia, o dólar bateu 5,5370 reais, queda de mais de 2,3%.

Mas “a volatilidade que a gente tem acompanhado nos últimos dias em relação ao cenário político permanece, e o diferencial de juros do Brasil em relação a outros países vai continuar afetando” o câmbio, disse à Reuters Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset.

O movimento desta sessão reflete “algo mais estrutural; não se trata propriamente do contexto de um dia”, completou.

Recentemente, os cortes da taxa Selic a mínimas históricas têm sido apontados por analistas como fator de pressão sobre o real, uma vez que reduzem rendimentos atrelados à taxa básica de juros, deixando o Brasil menos atraente para investidores estrangeiros quando comparados a pares emergentes com o mesmo nível de risco.

Esse cenário, associado à instabilidade política e às consequências econômicas da pandemia de coronavírus, já deixam o dólar em alta de mais de 41% ante o real no ano de 2020.

Na tentativa de corrigir possíveis movimentos exagerados no câmbio, o Banco Central tem marcado sua presença nos mercados, apesar do impacto limitado das medidas.

A autarquia realizou neste pregão leilão de venda de moeda à vista, em que vendeu 600 milhões de dólares, e vendeu o total da oferta de 10 mil contratos de swap tradicional.