O Banco Central indicou que as condições para sua sinalização de que a taxa Selic não deve subir, segundo ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira, na qual reforçou considerar adequado manter a chamada prescrição futura como instrumento de política monetária adicional, mantendo a taxa básica de juros, a Selic, em 2% ao ano.
Apesar da existência de uma assimetria em seu balanço de riscos para a inflação para o lado altista, o BC ressaltou que não pretende reduzir o grau de estímulo monetário a menos que o quadro mude.
“O Copom avaliou que as condições para a manutenção do ‘forward guidance’ seguem satisfeitas. O comitê considera que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas”, apontou a ata.
No documento, o BC também reiterou a mensagem de que por questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço para cortar ainda mais os juros, se existente, deve ser pequeno.
Parte do mercado se ressentiu da falta de mensagens mais atualizadas do BC sobre o lado fiscal, em meio a pressões crescentes para mais despesas em 2021 e dúvidas quanto à manutenção da regra do teto de gastos nesse contexto, e sobre o avanço de preços na economia, na esteira de uma disparada da inflação ao produtor e de alta em alimentos e na construção civil.
Sobre a visão de que a inflação ao consumidor deve se elevar no curto prazo, o BC disse na ata que contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade.
Já sobre os preços administrados, a avaliação é que eles devem apresentar “variação contida”, com destaque para o recuo nas tarifas de plano de saúde em setembro e a queda projetada para o preço da gasolina a partir de outubro.
Cenário melhor para emergentes
Quanto ao quadro externo, o BC deu mais pistas sobre sua leitura após já ter assinalado no comunicado da semana passada que ele estava “relativamente mais favorável” para emergentes.
Para a autoridade monetária, isso decorre da retomada da atividade nas principais economias, ainda que concentrada no mercado de bens, e da moderação na volatilidade dos ativos financeiros.
De qualquer forma, o BC ponderou que há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário benigno.
“Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais pode atrasar a recuperação da demanda por bens e o processo de recomposição de estoques. Ao mesmo tempo, a própria evolução da pandemia da Covid-19 pode atuar como um limitante para o pleno funcionamento do setor de serviços”, disse.
Inflação
Na ata, o Copom ressalta que a inflação ao consumidor deve se elevar no curto prazo. “Contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade. Os preços administrados devem apresentar variação contida, destacando-se o recuo nas tarifas de plano de saúde em setembro e a queda projetada para o preço da gasolina a partir de outubro”, diz o Copom.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,24%, a maior taxa para o mês desde 2016 (0,44%). O IPCA acumulou taxas de inflação de 0,70% no ano e de 2,44% em 12 meses. Em agosto, a inflação foi influenciada principalmente pelo aumento do custo dos transportes (0,82%) e dos alimentos (0,78%).
Na ata, há dois cenários com projeções para a inflação neste ano. No primeiro cenário, a inflação termina 2020 em 2,1%, sobe para 2,9% em 2021 e chega a 3,3% em 2022. As projeções para a inflação de preços administrados são 0% em 2020, 4,3% em 2021 e 3,7% em 2022. Nesse cenário, a taxa de câmbio fica constante em R$ 5,30 e a Selic encerra 2020 em 2% ao ano, se eleva para 2,5% ao ano em 2021 e 4,5% ao ano em 2022 (de acordo com a pesquisa do BC ao mercado financeiro para a taxa básica).
No cenário com taxa de juros constante a 2% ao ano e taxa de câmbio constante a R$5,30, as projeções de inflação ficam em 2,1% em 2020, 3% em 2021 e 3,8% em 2022. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são 0% para 2020, 4,3% para 2021 e 3,9% para 2022.
As estimativas para 2020 estão abaixo do piso da meta de inflação que deve ser perseguida pelo Banco Central. A meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4% em 2020, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,5% e o superior, 5,5%.
Para 2021, a meta é 3,75%, para 2022, 3,50%, e para 2023, 3,25%, com intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo em cada ano.
Taxa de juros
O comitê reconhece que pode haver necessidade de reduções na taxa básica de juros, a Selic, mas por “questões prudenciais e de estabilidade financeira”, se houver mais cortes, serão pequenos e de graduais. “O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado [taxa Selic baixa], mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno. Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal [contas públicas sob controle], assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva”, diz o Copom.