O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 18,3% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, uma taxa recorde de crescimento a que se chegou graças à base de comparação deprimida pelo início da pandemia de covid-19 começo de 2020, mas que também reflete o impulso contínuo na segunda maior economia do mundo.
A taxa de crescimento do PIB nos três primeiros meses de 2021 foi nitidamente superior ao crescimento de 6,5% na base anual registrado no último trimestre de 2020.
Embora vistoso, o resultado do primeiro trimestre ficou aquém do crescimento de 19,2% esperado por economistas consultados pelo “The Wall Street Journal”.
Os dados foram divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês) nesta sexta-feira em Pequim.
Os analistas previram que o crescimento do PIB nos primeiros três meses do ano teria um salto acentuado em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando a economia chinesa sofreu uma contração histórica de 6,8% diante do surgimento do novo coronavírus, que forçou Pequim a fechar grandes áreas do país.
A taxa de crescimento do PIB ano a ano quase certamente tenderá a cair nos próximos trimestres, uma vez que a economia chinesa é medida em relação aos níveis mais altos do período do ano anterior.
A economia da China começou a se recuperar no segundo trimestre de 2020 e registrou números mais elevados de crescimento na comparação anual nos demais trimestres do ano passado.
Na comparação com os últimos três meses de 2020, a economia chinesa cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2021, desacelerando em relação a um aumento trimestral de 2,6% do PIB no quarto trimestre de 2020, de acordo com os dados do NBS.
A taxa de crescimento de 18,3% para o primeiro trimestre é a mais alta desde que a China começou a divulgar o PIB trimestral em 1992, superando a taxa de 15,3% no primeiro trimestre de 1993.
Indicadores de atividade em alta
Junto com os dados trimestrais de crescimento da economia, o NBS divulgou números da atividade econômica da China que ajudaram a formar o resultado robusto do PIB no primeiro trimestre deste ano.
A produção industrial, o investimento e os gastos do consumidor registraram um crescimento percentual de dois dígitos em março, embora as taxas de crescimento tenham sido geralmente menores do que aquelas durante o período de janeiro a fevereiro, que foram medidas contra a base de comparação mais baixa de um ano atrás, quando o surto de covid-19 paralisou a atividade econômica do país.
A produção industrial cresceu 14,1% em março em comparação com o mesmo mês do ano anterior, abaixo dos 35,1% registrados no período janeiro-fevereiro sobre um ano antes e também abaixo do ritmo de 16,5% esperado pelos economistas consultados pelo “The Wall Street Journal”.
Em comparação com fevereiro, a produção industrial da China cresceu 0,60% em março, ante o crescimento mensal de 0,69% em fevereiro.
As vendas no varejo, um indicador-chave do consumo doméstico chinês, aumentaram 34,2% no comparativo anual em março, informou o NBS. O resultado foi superior ao crescimento de 33,8% no primeiro bimestre e superou a expectativa dos economistas para março, de crescimento de 28%.
As vendas no varejo aumentaram 1,75% em março na comparação com o mês anterior, acelerando em relação ao ritmo de 0,56% de fevereiro sobre janeiro.
O investimento em ativos fixos não rurais da China, uma medida importante da atividade de construção civil, aumentou 25,6% no primeiro trimestre deste ano em comparação com um ano antes. Ficou abaixo dos 35% de alta no período de janeiro a fevereiro sobre o primeiro bimestre de 2020.
Também ficou abaixo da previsão dos economistas, que esperavam que o investimento crescesse 26,4% nos primeiros três meses do ano na base anual.
VISÃO DO MERCADO
Julian Evans-Pritchard, economista da Capital Economics, afirmou que a taxa de crescimento na comparação com o trimestre anterior foi a mais baixa registrada na última década, com exceção apenas do primeiro trimestre de 2020. Os números, segundo o analista, apontam para um enfraquecimento nos setores da indústria, da construção e dos serviços.
Citando a comparação com o trimestre anterior, economistas do J.P. Morgan reduziram a previsão de crescimento da economia da China para 2021 de 9,5% para 9,3%.
“A recuperação econômica doméstica ainda não é sólida”, disse Liu Aihua, porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas da China (NBS, na sigla em inglês), apontando para incertezas no setor manufatureiro, que restringiu os investimentos, e o aumento do desemprego entre trabalhadores migrantes e jovens recém-formados.
Liu afirmou que o número de trabalhadores que migraram para as cidades chinesas no primeiro trimestre foi 2,5 milhões menor do que antes da pandemia, o que reflete as dificuldades que estão sendo enfrentadas pelo setor de serviços e pelas empresas de menor porte, os dois principais empregadores desta parcela da população.
Além disso, a taxa de desemprego para pessoas com idades entre 16 e 24 anos chegou a 13,6% no fim de março, uma alta de 0,3 ponto percentual em relação ao mesmo mês de 2020. O número é também muito superior ao índice de desemprego urbano, de 5,3%, destacou a porta-voz do NBS.
Alguns dos outros indicadores econômicos mensais divulgados nesta sexta-feira por Pequim também ficaram aquém das previsões, desacelerando de forma mais acentuada do que o esperado pelos analistas. A produção industrial em março, por exemplo, cresceu 14,1% em relação ao ano anterior, abaixo do ritmo de 35,1% registrado entre janeiro e fevereiro. O crescimento do investimento em ativos fixos também desacelerou, para 25,6%.
“A tendência de crescimento subjacente provavelmente continuará a desacelerar”, disse Hao Zhou, economista do Commerzbank, em uma nota a clientes. Tommy Xie, analista do OCBC, citando uma taxa média de crescimento de 5% para os primeiros trimestres de 2020 e 2021, disse que a economia chinesa ainda não recuperou o potencial pré-pandemia, de expansão de 6%.
Apesar da perda de impulso, há sinais positivos nos números divulgados nesta sexta-feira. As vendas no varejo aumentaram 34,2% em março na comparação com o mesmo mês de 2020, um resultado melhor do que o esperado por analistas. O ritmo também acelerou em relação a janeiro e fevereiro.
A porta-voz do NBS explicou que o consumo no setor de alimentação voltou em março, pela primeira vez desde o surgimento do vírus, aos níveis pré-pandemia.
Apesar das fraquezas apontadas no emprego, Liu afirmou que a “a contínua recuperação econômica, assim como a melhoria da renda e do mercado de trabalho, elevarão ainda mais o consumo na China”.
Outros economistas veem de forma diferente os dados divulgados hoje. Alguns analistas argumentaram que a expansão de 0,6% em relação aos três últimos meses de 2020 reflete apenas uma redução natural do crescimento após a forte recuperação do ano passado.
“A economia da China voltou à normalização”, disse Serena Zhou, economista da Mizuho Securities, de Hong Kong.
Para ela, as vendas no varejo e as exportações vão sustentar o PIB do país na primeira metade do ano, antes que os embarques ao exterior começarem a cair no segundo semestre devido ao aumento da produção em fábricas de outros países.
Serena avalia que o novo pacote de estímulos dos EUA pode impulsionar as exportações chinesas, embora também possa pressionar a inflação para os produtores, que começou a crescer na China.
Na semana passada, Pequim disse que os preços do produtor em março cresceram 4,4% em relação ao ano anterior, a taxa de aumento mais rápida em dois anos.
Exportadores chineses reclamaram em recentes entrevistas da queda nos lucros, já que os preços das matérias-primas estão aumentando e os custos de transporte permanecem elevados. Embora o volume de pedidos tenha atingido os níveis pré-pandemia, alguns deles dizem que os lucros caíram mais de 30% neste ano.
A porta-voz do NBS minimizou hoje as preocupações inflacionárias, observando que os preços da carne suína, um dos principais motores da inflação para os consumidores, continuaram caindo no país.
(Fonte Dow Jones NewsWire)