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Já tomou sua dose de Psicologia Econômica hoje? Como equilibrar emoção e razão ao investir

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Vera Rita de Mello Ferreira é Psicanalista e Doutora em Psicologia Econômica. Mas, diferentemente daqueles “Doutores do mercado”, que falam bonito só para surpreender, Vera Rita tem uma outra abordagem desses assuntos que envolvem o nosso modo de pensar – e agir – sobre dinheiro e investimentos. Em seu canal do YouTube, “Pílulas de Psicologia Econômica”, que tem mais de 40 mil inscritos, ela traz doses exatas de informação sobre como entender nossa cabeça quando o assunto são finanças.

E não há contraindicação. Inclusive, com esse tratamento mais atento, é possível prevenir que os investimentos sejam comandados por instintos ou por questões que vão ainda mais fundo e que nem imaginamos. Os efeitos colaterais, é claro, são os melhores possíveis para você e sua carteira.

Nesta entrevista exclusiva cedida à ADVFN, a Doutora nos dá uma consulta completa e revela um pouco como funciona nossa mente. Vale a leitura do começo ao fim, para não perder nada do que você pode aplicar na sua vida a partir de hoje para ter uma vida financeira muito mais saudável.

Como o nosso psicológico afeta os investimentos?

Investir é um comportamento, então o nosso lado psicológico – que vai além do lado técnico, do lado matemático – que vai ter mais peso do que os outros inclusive. Eu tenho uma frase de cabeceira de um psicanalista que diz o seguinte: “A razão é escrava da emoção, e existe para racionalizar a experiência emocional”. Isso resume tudo.

Durante a maior parte da história da humanidade, só funcionamos na base dos impulsos, das emoções, dos instintos. A parte racional só veio nos últimos instantes, digamos. Então, o uso da razão ainda é muito frágil. Acontece de uma forma precária. Basta um susto, basta uma mudança, que pode ser grande ou pequena, e a pessoa já perde a direção.

E isso acontece com todos nós. Por exemplo, uma briga de trânsito. Pessoa civilizada, leva uma fechada e enlouquece, acha que tem que matar a outra pessoa. Então, o que manda na gente são as emoções, os impulsos, e eles são muito, muito mais fortes do que a razão.

Sempre nos dizem para nunca ir ao supermercado com fome. Isso também pode ser uma verdade no mercado financeiro?

Qualquer tipo de emoção mais intensa já pode atrapalhar nosso processo decisório. Então, se você está com raiva, eufórico, muito triste, tudo vai atrapalhar. Se a pessoa costuma viver em uma montanha-russa de emoções, talvez seja melhor ela não fazer a gestão direta dos seus investimentos, e isso o próprio Daniel Kahneman, o psicólogo social que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002, afirmou – aliás, ao meu lado. Eu dividi um painel com ele em 2009, quando ele veio para um Congresso na atual Ambima. Senti muita emoção, ainda bem que eu não investi naquele dia.

Nos conte curiosidades sobre essas pesquisas em Psicologia Econômica. O que temos de tendências e novidades, e também coisas que as pessoas nem imaginam, mas existem dentro dessa vertente?

A Psicologia Econômica, junto com a Economia Comportamental e a Neuroeconomia, vêm focando nos últimos tempos na chamada Arquitetura de Escolha. Outra área importante é a Psicologia da Escassez.

Em se tratando da Arquitetura de Escolha, essa é uma linha de pesquisa que estuda mudança de comportamento (principalmente do coletivo) com uso mínimo de recursos e resultados muitas vezes surpreendentes, por meio de pequenas intervenções no contexto. São “empurrõezinhos” que levam as pessoas por um caminho mais fácil para atingir os objetivos que elas próprias estabelecem para si.

O jeito de funcionar pode até ser parecido com o marketing, que não é nenhuma novidade, só que o marketing tem objetivos próprios, quer que a pessoa compre tal coisa, faça outra, tudo para beneficiar o dono da empresa. E na Arquitetura de Escolha a novidade é esta, é para beneficiar o tomador de decisão.

Um exemplo em finanças é pensar que, se você escolher se vai guardar X ou Y, ou se vai investir aquele X% no mês, isso pode dar rolo no sentido de chegar a hora e você falar “Ah, mas eu primeiro preciso pagar essa conta” ou “Estou querendo comprar aquela outra coisa, então não vou investir esse dinheiro agora, mas mês que vem eu invisto até o dobro!”. E, claro, a gente conhece o resto da história, investe nada. Ao passo que, se você nem olhar para aquele dinheiro, se realizar um investimento automático, que vai para uma aplicação que você escolheu, é certo que vai regularmente conseguir guardar dinheiro.

Já a Psicologia da Escassez estuda como as pessoas se comportam quando estão submetidas a uma pressão muito grande devido a uma condição de escassez, de uma falta extrema e crônica. Não é uma coisa pontual, é uma coisa que perdura e que o foco é estudar a pobreza.

Infelizmente esses estudos vão ser muito importantes agora como resultado da pandemia. Estamos vendo o avanço gigantesco da pobreza em todos os países, no Brasil também, inclusive aprofundando desigualdades. E, quando a pessoa tem pouco dinheiro, o tempo inteiro ela é obrigada a ficar fazendo escolhas.

Se ela tem um dinheiro na mão, não sabe se compra o jantar, se paga a conta de água que está atrasada, se guarda para a condução do filho mais velho que vai tentar em um emprego em outro bairro… então, o tempo inteiro a mente fica sobrecarregada com a exigência de ficar tentando extrair o máximo possível daquele mínimo que ela tem.

Isso, é claro, causa um desgaste muito grande. A pessoa fica esgotada. Os estudos verificaram que pode até mesmo reduzir o QI, porque a inteligência depende de uma atenção a detalhes, por exemplo, a mente tem que estar suficientemente liberada para poder realmente estabelecer relações, puxar pela memória, uma série de coisas que uma pessoa que está nessa situação de pressão extrema não consegue.

Ou essa pessoa pode virar praticamente uma especialista em fazer dinheiro render. Ela consegue encontrar a loja que está vendendo aquele mantimento mais barato, onde tem oferta; se lembra, por exemplo, de preços em detalhes. Então a memória está sendo usada para armazenar todas essas informações que são essenciais para a sobrevivência imediata. Só que não sobra espaço para poder pensar em oportunidades, alternativas, porque a pessoa não tem espaço mental para nada disso.

E como o tempo inteiro ela fica dizendo “não” para ela mesma (quero um doce, mas “não” posso”), ela acaba sendo exaurida por todos esses “nãos” sucessivos. Só que o autocontrole é um recurso finito.

Então, quando essa pessoa ganha uma grana – e isso pode também observar no mercado financeiro –, às vezes ela se atrapalha. A cabeça deixa de funcionar no modo de escassez, que otimiza a utilização daquele recurso, e entra no modo abundância, que é o que acontece quando a gente tem dinheiro e não fica fazendo continha aqui e ali, tem dinheiro para tudo e pronto, se empolga em faturar muito em um dia, mas esquece do amanhã, em que talvez tudo possa ser diferente.

Como a Psicologia vê essa questão de dinheiro?

O dinheiro tem muitos significados psicológicos, ele nunca é neutro. As pessoas podem ter uma visão mais positiva ou mais negativa a respeito dele e também ir mudando isso ao longo do tempo. Isso é fruto inclusive de influências culturais do próprio país. No Brasil, por exemplo, a gente teve o Plano Collor. Os mais jovens não pegaram essa fase, porém os familiares passaram por isso, e acabou se tornando um trauma para essas pessoas, que se refletiu nos mais jovens também, com essa insegurança e desconfiança em relação a guardar e até investir dinheiro.

Existem também as influências sociais do grupo em que a pessoa se insere, em termos de faixa socioeconômica, faixa etária, localização geográfica, mas as influências familiares são sempre fundamentais, seja para a pessoa fazer igual, seja para ela fazer exatamente o oposto.

Às vezes você tem, por exemplo, uma família superdesorganizada financeiramente e os filhos são superorganizados. Uma vez um rapaz me falou: “A gente era despejado a cada seis meses. Eu não quero mais isso na minha vida”. Ele não tinha nem cartão de crédito, só gastava o dinheiro que tinha. Veja até onde chega a influência psicológica.

Ou o contrário, a família é muito organizada, ou mesmo rígida com dinheiro, mas o filho ou um dos filhos fala: “Eu quero é curtir, vivo como se não houvesse amanhã”. Mas, querendo ou não, ele está refletindo algo da família, tendo ela como exemplo.

E existem ainda aquelas pessoas que eu brinco que já vêm com um chip para poupar dinheiro, que guarda sem a menor dificuldade. Passa mal se não guardar.

A maneira como a pessoa se relaciona com o dinheiro passa por todas essas vertentes. Em geral, o dinheiro está associado a poder, segurança, liberdade. Quando falta dinheiro, isso afeta muito a própria autoestima da pessoa, ela se sente fracassada, com vergonha, acanhada. A identidade dela é afetada.

Hoje não existe mais discussão, Educação Financeira tem que ser estudada com base em questões comportamentais. Não adianta de nada a pessoa saber de cor e salteado como se faz planilha, que não pode gastar mais do que tem, que não deve pegar crédito caro, que deve ter reserva de emergência, que é bom investir, só saber não quer dizer nada, não garante que ela execute nada disso. Educação Financeira passando pelo viés comportamental se tornou uma unanimidade.

O que está dentro da “cabeça do investidor”?

Daniel Kahneman diz o seguinte: quanto mais ideias o investidor homem tem, mais dinheiro ele perde. Ele está se referindo a uma autoconfiança exagerada, a confiar demais no “próprio taco”. O investidor homem acredita que comprou a ação e ela vai subir mesmo que já esteja caindo, e também não se desfaz dela.

Kahneman está se referindo a uma tendência que os investidores homens têm de ficar “pulando de galho em galho”. Mas ele fala em geral do investidor individual, porque é muito difícil de competir com investidores institucionais, profissionais, que dispõem de uma base de dados gigantesca. É muito difícil o investidor individual sozinho tentar bater esses players.

O investidor está desesperado para ganhar dinheiro, porque é rara a pessoa que tem aquela estratégia do “buy and hold” (comprar e manter), como em mercados mais maduros. Agora, ao ficar “pulando de galho em galho”, o dinheiro acaba indo nas taxas e nos impostos.

A pessoa fica seguindo a “manada”. Mas, às vezes, essa notícia de “compra x ou y” chega tarde, ela entra tardiamente e aí comete aquele erro que a gente conhece, que é o de comprar na alta e vender na baixa, exatamente o oposto do que te permitiria ganhar algum dinheiro.

As mulheres investidoras, porém, costumam ter melhores resultados porque não ficam operando tanto. São mais conservadoras. Em geral, não têm tantas informações, então são até mesmo inseguras. Nesse caso, pode ser uma vantagem, porque elas acabam deixando, permanecendo na mesma posição, e perdem menos dinheiro. Então, no longo prazo, as mulheres costumam ter retornos melhores. Os homens precisariam aprender a investir com as mulheres.

Faz pouco tempo que as mulheres começaram a entrar no mercado financeiro e, antes disso, a entrar no mercado de trabalho. Elas vão mais assim, devagar, e acabam tendo mais sucesso.

Existem comportamentos financeiros típicos dentro de cada faixa de idade?

Até certo ponto, o fato de a pessoa envelhecer não garante que ela fique mais hábil. Claro que jovens são até mais impetuosos, eles ainda têm algum tempo para se recuperar de tombos, caso haja. Mas a gente não tem esse foco nas diferenças etárias. Temos alguma coisa na diferença de gênero, mas, de um modo geral, em se tratando de faixa etária, não.

Porém, existe para todos os chamados erros sistemáticos, que são a aversão à perda, porque a gente odeia perder, chega mesmo a fazer loucura para tentar reverter isso. Ou seja, acaba correndo muito risco para não perder tanto.

O Kahneman sempre diz: em situação de perda, quando estamos inconformados, a gente se expõe a mais riscos. Em outras palavras, a gente não tem aversão ao risco, e sim aversão à perda. Até porque, corremos riscos porque não nos damos conta de que sejam riscos. A gente ignora a probabilidade de aquilo dar errado, então acaba caindo nessas ciladas.

Quais comportamentos são mais adequados quando se fala de finanças?

Comportamentos mais adequados seriam dois: atenção e serenidade. Você precisa ter atenção para estabelecer seus critérios, para a escolha de portfólio a partir dos seus objetivos e de tudo o que você conhece a seu próprio respeito.

Eu consigo esperar quanto tempo? O que acontece quando eu perco dinheiro? Perco a cabeça imediatamente? Eu aguento um pouco? A partir de que ponto que eu fico maluco?

E é pensar até em investimentos com os quais a pessoa se sente mais confortável. Antes as pessoas nem sabiam em que estavam investindo, hoje já podemos pensar: “Não quero colaborar com o desmatamento da Amazônia, então não vou investir no agronegócio, porque, se eu fizer isso, não vou conseguir dormir à noite”. Para algumas pessoas isso faz tanto sentido que de fato ficariam desconfortáveis, dependendo do tipo de investimento.

A pessoa tem que levantar todos os dados que ela puder, inclusive de experiências passadas. Não necessariamente da rentabilidade passada, mas como é que ela ficou quando investiu em tal coisa. Deu certo? Não deu? Se desesperou já nos primeiros três meses quando colocou dinheiro num fundo que tinha que deixar o dinheiro preso durante dois anos?

Então, é preciso poder ter essa aproximação com seu próprio estilo de investir e a partir daí fazer algumas escolhas. Ou, como falei antes, escolher o gestor ou a empresa que vai fazer isso por você.

Qual o recado que deixa para a cabeça dos investidores, ou seja, algo que podemos refletir?

A nossa cabeça pode ser uma aliada ou inimiga. Então, quanto mais a gente souber, não só as informações técnicas sobre finanças, mas em especial como a nossa cabeça funciona, maior será a probabilidade de acertar nas escolhas, ao passo que, se a gente deixar tudo no piloto automático, só no impulso, o prejuízo vai ser grande.

Se você tiver uma segurança baseada em fatos reais, não vai aceitar coisas que estão tentando te empurrar “goela abaixo”. Se tiver essa capacidade de auto-observação e de observação dos fatos de uma forma mais imparcial – completamente nunca vai ser –, um pouco mais de espírito científico, então você vai poder separar o joio do trigo. Porque agora a internet tem de tudo: “como ficar milionário em 15 minutos”, “faça isso agora e ganhe XXXX%”, e aí é aquela coisa de ir com fome ao supermercado.

Todo mundo quer ganhar dinheiro, e na pandemia isso aumentou mais ainda, e aumentou muito a quantidade de pirâmides financeiras, por desespero ou pura autoconfiança exagerada. Já ouvi dizer: “Eu sei que é pirâmide, mas eu vou pôr o dinheiro rápido e pego o rendimento mais rápido ainda, para sair antes de desmoronar”. Altíssimo é o risco de isso não funcionar, tanto que as pirâmides costumam colapsar com o dinheiro da maioria das pessoas, que ficam a ver navios.

Então, é sempre importante buscar os conhecimentos em fontes sérias, consistentes, sobre o seu próprio processo decisório e sobre as alternativas que o mercado pode oferecer.

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