Um acionista da Marfrig fez uma denúncia na Comissão de Valores Mobiliários alegando que o segundo maior frigorífico do país estaria induzindo os acionistas a erro ao incluir ações da BRF que comprou meses atrás como equivalente de caixa.

Na denúncia, a qual a Mover teve acesso, o acionista diz que a empresa chegou a colocar no balanço duas linhas que discriminavam o saldo final do fluxo de caixa: Caixa e Equivalentes de Caixa, no valor de R$ 1,61 bilhão, e Aplicações e Títulos Mobiliários, no montante de R$ 11,89 bilhões. O acionista, cujo nome foi mantido em sigilo pela Mover, chama a atenção para o fato de que o item “Aplicações e Títulos de Valores Mobiliários” são compostos basicamente de dois perfis de instrumentos.

O primeiro deles são aplicações financeiras de longo prazo, ou seja, com prazo superior a 12 meses, no valor de R$6,69 bilhões. Segundo ele, essas aplicações não poderiam ser “Caixa ou Equivalentes de Caixa”. O prazo médio ponderado de vencimento dessas aplicações financeiras foi determinado em 2,78 anos, de acordo com a Nota Explicativa 5 do balanço da Marfrig (BOV:MRFG3). O segundo é formado por ações da BRF no valor de R$ 5,198 bilhões, disse o documento.

As informações foram corrigidas pela Marfrig no Formulário de Informações Trimestrais enviados para a CVM para o segundo trimestre. No item “saldo inicial de caixa e equivalentes” o valor saltou de R$11,7 bilhões para R$2 bilhões, em uma segunda versão. Já o item “saldo final de caixa e equivalentes” foi de R$13,5 bilhões para R$1,6 bilhão.

O acionista chama a atenção para o fato de que a companhia afirma que as aquisições das ações da BRF visam “diversificar os investimentos da Companhia em um segmento que possui complementaridades com seu setor de atuação em uma Companhia onde a administração vem realizando uma reconhecida gestão”. Portanto, o acionista alega, não se trata de um aplicação de curto prazo.

A denúncia, que segundo auditores e contadores consultados pelo TC tem poucas chances de prosperar, mostra como os investidores estão cada vez mais cautelosos com a abertura do fluxo de caixa da empresas, após uma série de recentes escândalos contábeis em empresas financeiras e do setor real. A Marfrig informa que tal alteração foi respaldada pela auditoria independente, a Grant Thornton, e ressaltou que todos os documentos estão disponíveis no site da CVM para consulta dos investidores.”

Apesar de a informação ter sido mudada no documento, não foi enviado fato relevante nem feita a troca no comunicado de divulgação de resultados da empresa, de acordo com o acionista. Procurada, a Marfrig diz que ainda não recebeu nenhum ofício da CVM relacionado ao questionamento.

“A companhia também esclarece que apresentou seu ITR referente ao segundo trimestre de 2021 em 10 de agosto, após o encerramento do pregão, e que fez sua reapresentação em 11 de agosto, antes da abertura do pregão, ou seja, entre a apresentação e reapresentação não houve negociação da ação”. Isso foi feito conforme legislação vigente, disse a empresa.

Para o acionista, no entanto, a alteração realizada, “entretanto, é na verdade o reconhecimento da irregularidade material da publicação original”. Entre os pedidos que ele fez para a CVM está a publicação de um fato relevante, para divulgar e detalhar as retificações realizadas e a divulgação de um novo comunicado de resultados.

Procurada, a CVM diz que “acompanha e analisa informações envolvendo companhias abertas, tomando medidas cabíveis, sempre que necessário. Adicionalmente, a Autarquia informa que reclamações e consultas encaminhadas à entidade são devidamente verificadas, recebendo o tratamento adequado”.

Informações TC