A companhia aérea Gol registrou um prejuízo líquido de R$ 2,8 bilhões no quarto trimestre, revertendo o lucro líquido de R$ 16,9 milhões em igual período de 2020. Os dados, entretanto, são fortemente influenciados por despesas não recorrentes e variação cambial. Excluindo tais fatores, a companhia teria reportado um prejuízo líquido de R$ 682,1 milhões no trimestre, queda de 20,9% na comparação com os números ajustados do ano passado.
Segundo a operadora aérea, o resultado trimestre foi impactado negativamente por despesas em decorrência do investimento necessário para retornar as aeronaves e motores ociosos para a operação, além da depreciação do real frente ao dólar em 3,5%.
A receita operacional líquida alcançou R$ 2,92 bilhões no quarto trimestre, alta de 54,5% em relação a igual período de 2020. A receita de passageiros foi de R$ 2,80 bilhões no período, enquanto a de “carga e outros” alcançou R$ 113,5 milhões.
O Ebitda – juros, impostos, depreciação e amortização – ajustado do trimestre alcançou R$ 1,05 bilhão, ante R$ 558,5 milhões no mesmo período de 2020, um avanço de 88,4%. Com isso, a margem Ebitda ajustada foi de 36% de outubro a dezembro, avanço de 6,5 pontos porcentuais na mesma base de comparação.
As despesas operacionais (CASK) ajustado foi de 23,43 centavos (R$), que comparado com o CASK ajustado do 4T20 apresentou um aumento de 16,8% em bases nominais. Em dólar, o CASK ajustado apresentou aumento de 12,8% no mesmo período de comparação.
O número de Passageiro Quilômetro Transportado Pago (RPK) aumentou 16,6% em relação ao 4T20, e atingiu 67,3% do observado no 4T19. O RPK de dez/21 foi 74,3% do registrado em dez/19.
O total de Assento Quilômetro Ofertado (ASK) cresceu 14,5% versus o 4T20, e alcançou 66,5% do 4T19.
O ASK de dez/21 foi 74,5% do registrado em dezembro de 2019.
Nesse trimestre, a GOL transportou cerca de 6,5 milhões de Clientes, um aumento de 26,1% em relação ao 4T20, e registrou 67,9% do observado no mesmo período em 2019. Em dezembro/21, foram transportados 2,5 milhões de clientes, 72,2% do realizado em dez/19.
A taxa de ocupação média das aeronaves foi de 82,6%,um aumento de 1,5 pontos porcentuais em relação ao 4T20.
⇒ Frota
Ao final do 4T21, a frota total da GOL era de 135 aeronaves Boeing 737, sendo 112 NGs e 23 MAXs. No 4T20, a companhia contava com 127 aeronaves, sendo sete MAX (não operacionais).
A idade média da frota da empresa foi de 10,7 anos ao final do 4T21. A frota da GOL é 100% composta por aeronaves de médio porte (narrowbody) financiadas via arrendamentos operacionais.
Em 31 de dezembro de 2021, a liquidez total (caixa e equivalentes de caixa, aplicações financeiras, caixa restrito, depósitos e contas a receber e títulos) totalizou R$ 1,7 bilhões, R$ 866 milhões inferior se comparado a 31 de dezembro de 2020.
Já as atividades operacionais geraram R$ 1,1 bilhões no 4T21, contra uma geração de caixa operacional de R$ 657 milhões no 4T20, demonstrando a melhoria na rentabilidade da Companhia mesmo em um trimestre de consumo de capital de giro pelo crescimento no volume das operações, principalmente decorrente do aumento no volume de vendas futuras (forward bookings).
A dívida líquida da companhia ficou em R$ 20,308 bilhões no final de dezembro de 2021, crescimento de 37,7% em relação ao mesmo período de 2020.
O indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida/Ebitda ajustado, ficou em 9,7 vezes em dezembro/21, aumento de 3,5 vezes em relação ao mesmo período de 2020.
⇒ Projeções
Gol atualiza suas projeções em função do aumento esperado de 30% nos preços de combustível de aviação.
A operadora aérea reduziu sua expectativa para margem Ebitda de 11% para 10% em 2022.
Já para receita líquida, a companhia estima a cifra de R$ 13,7 bilhões, antes a previsão era de R$ 14 bilhões
A expectativa de lucro por ação também foi reduzida este ano, passando de R$ 0,26 para R$ 0,00.
Em relação ao endividamento, a Gol espera que o indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida/Ebitda ajustado, atinja 8 vezes no final dezembro/22, contra 7 vezes da projeção anterior.
Para 2022, a companhia manterá o foco na transformação da frota e prevê, que até o final do ano, 44 aeronaves 737-MAX estejam em operação, representando cerca de 32% da frota total.
Como resultado desse processo de modernização, a GOL espera redução de aproximadamente 8% no seu custo unitário (CASK).
Os resultados da Gol (BOV:GOLL4) referentes suas operações do quarto trimestre de 2021 foram divulgados no dia 14/03/2022.
Teleconferência
A Gol afirmou que os números de voos têm crescido nos últimos meses e que as expectativas para o ano são boas. O relato é do presidente da companhia, Paulo Kakinoff, durante teleconferência na tarde de hoje.
Kakinoff deu como exemplo a aumento dos números de passageiros corporativos, ou seja, que viajam a trabalho. Com a melhora na pandemia, os bilhetes para esse tipo de passageiro voltaram a um nível de 55% em comparação com o período pré-pandemia. A expectativa é que até o fim do ano chegue a 85%.
Atualmente, a companhia tem uma média de 500 voos diários, mas projeta uma elevação no período das férias. “O período de sazonalidade sempre acontece entre o fim do Carnaval e as férias de julho. É natural que o número de voos caia”, analisou Kakinoff, que também minimizou o impacto da alta dos combustíveis nos custos da companhia graças à valorização do real.
A companhia também aposta na aquisição das aeronaves Boeing 737 MAX 8 para melhorar sua lucratividade. Segundo relatou Kakinoff, essas aeronaves consomem menos combustível, tem mais assentos e ainda um custo de manutenção menor. Atualmente, a Gol tem 135 aviões em sua frota. A previsão é que até o final do ano estarão em operação 44 aeronaves desse modelo, representando cerca de 30% da frota total.
A Gol anunciou em janeiro o financiamento de até US$ 600 milhões com a Castlelake LP para financiar a aquisição dessas aeronaves. Os recursos originados pela transação cobrirão 100% do custo de aquisição e preveem recursos adicionais que serão direcionados para obrigações e custos de devolução das aeronaves 737 NG da empresa. Parte da devolução, deve acontecer este ano, e um total de 34 aeronaves até o final de 2025, contribuindo com a redução de custos unitários.
Além da aquisição de aeronaves mais econômicas, a Gol fechou no ano passado uma parceria com American Airlines, que envolve um investimento de US$ 200 milhões da companhia aérea americana na empresa brasileira.
O fechamento da transação, incluindo a emissão e o pagamento pelas novas ações preferenciais, está sujeito a condições, como a aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A companhia acredita que a aprovação deve sair nos próximos meses.
VISÃO DO MERCADO
Citi
Os resultados de quarto trimestre da Gol vieram positivos, diz o Citi, com Ebitda, fluxo de caixa livre e metas para 2022 acima do esperado. Mesmo com os bons números, o banco americano afirma que a ação deve continuar a ser impactada pelo cenário conjuntural.
“Apesar de maiores preços de combustíveis e algumas incertezas no Brasil, as mudanças nas metas da Gol não foram tão significativas quanto o esperado”, escrevem os analistas Stephen Trent, Brian Roberts e Filipe Nielsen.
Eles afirmam que a nova projeção de receitas em R$ 13,7 bilhões e de margem Ebitda em 24% ainda estão acima das estimativas do Citi para o período, que projetam receitas em R$ 12,3 bilhões e margem Ebitda de 17,9% neste ano.
Citi tem recomendação de compra para Gol, com preço-alvo em US$ 10,25 para os recibos de ações (ADRs) negociados na Bolsa de Nova York (Nyse).
Goldman Sachs
Os resultados da Gol no quarto trimestre de 2021 vieram dentro das previsões divulgadas anteriormente da empresa, e a companhia aérea melhorou suas projeções para este ano, de acordo com o Goldman Sachs, em relatório.
A empresa espera que o total de oferta de voos (Ask, na sigla em inglês) cresça entre 65% e 75% no ano, ante entre a previsão anterior de entre 70% e 80% e ante a projeção do Goldman Sachs de alta de 74% em base anual, dizem os analistas.
Os analistas Bruno Amorim e João Frizo destacam que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado da Gol atingiu cerca de R$ 1,052 milhão, e uma margem Ebitda de 36%, apenas 1 ponto percentual acima da orientação previamente anunciada.
Já a receita deve somar cerca de R$ 13,7 bilhões, levando a um crescimento implícito do tráfego de passageiros (Rask, na sigla em inglês) em base anual de cerca de 8%.
Além disso, a empresa espera uma margem Ebitda de 24% ante a previsão anterior de 25%, considerando apenas os resultados operacionais recorrentes, excluindo custo de manutenção relacionado à transformação da frota, cerca de 5 pontos acima da previsão do Goldman Sachs, provavelmente refletindo, entre outros, custos de combustível menores esperados pelo banco.
“Reconhecemos que o recente aumento nos preços dos combustíveis pode levar a uma pressão de curto prazo sobre as margens, embora acreditemos que as companhias aéreas de prazo mais longo sejam capazes de repassar esses preços mais altos para as tarifas”, dizem os analistas.
Por fim, os principais riscos para a visão do Goldman Sachs incluem preços do petróleo acima do esperado, depreciação da moeda local em relação ao dólar, menor demanda por viagens aéreas e competição irracional.
Goldman Sachs mantém recomendação de compra com preço-alvo de R$ 24,70, e preço-alvo de US$ 9,35 para os recibos de ações (ADRs), potencial de alta de 79,8%.
* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão, Reuters